sábado, abril 29

A Experiência


"A experiência não é o que nos acontece. É o que fazemos daquilo que nos acontece." Aldous Huxley

Vem esta citação a propósito de uma parábola sobre um aguadeiro indiano que transportava aos ombros dois cântaros, um de cada lado. Um deles estava rachado e ia perdendo água ao longo do caminho. Triste e com sentimentos de culpa, o cântaro partido pediu desculpa ao seu dono por tê-lo feito perder o líquido precioso. O aguadeiro, admirado, disse-lhe que não percebia a razão de tanta culpa. Afinal, foram muitas as flores que cresceram saudáveis no lado do caminho que o cântaro rachado percorria. Mesmo sem saber, o pobre do cântaro estava a ser extremamente útil...

Também nós julgamos, com frequência, estar a desperdiçar tempo e energias em muitos momentos da vida. Tal como o cântaro rachado, o que julgamos estar a ser inutilizado pode servir de consolo e alento a quem se cruza connosco. Da forma como a sociedade está organizada, é natural fazermos julgamentos de situações e de pessoas. Tal como o cântaro rachado, também ambas têm algo a revelar-nos. Basta que saibamos perceber o que nos trazem de novo e o que, desta vez, podemos aprender com elas. A lição não será sempre a mesma, embora algumas vezes possa ser semelhante... É preciso, acima de tudo, que sejamos flexíveis e consigamos ir além do que os sentidos nos revelam porque a realidade raramente é o que parece. E é urgente não nos deixarmos "deformar" com padrões, crenças e certezas absolutas. Mais do que uma filosofia, este é um grande desafio...

sexta-feira, abril 28

Solidão... de novo

"Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão a nossa alma." Chico Buarque

Esta deve ter sido das definições mais bonitas e acertadas, na minha opinião, que encontrei sobre o que é a verdadeira solidão. Chico Buarque diz que sentirmos falta de pessoas para sair, conversar ou fazer sexo é CARÊNCIA; a ausência definitiva de pessoas que nos são queridas é SAUDADE; o retiro voluntário, fechados na nossa concha, para reflectir é EQUILÍBRIO; os momentos em que a vida nos força a estar isolados e sozinhos para revermos o que temos andado a fazer é um PRINCÍPIO DA NATUREZA; e não termos quem tome um copo connosco é apenas uma CIRCUNSTÂNCIA.

A solidão - palavra que facilmente utilizamos para designar uma carência, uma saudade, uma necessidade de equilíbrio, um princípio da natureza e uma circunstância - é algo demasiado profundo para que possamos alguma vez sentir-nos sós. É que, mesmo que a alma se perca, muitas vezes nem damos conta que a perdemos e tentamos enganar-nos com ilusões ou distracções. Tentamos agarrar, o mais possível, situações, pessoas e circunstâncias que nos façam sentir acompanhados. E vamos morrendo, sem dar conta. Morrendo por dentro. Porque o que precisava mesmo de ser alimentado era a alma, aquilo em que acreditamos convictamente e aquilo de que mais facilmente nos esquecemos. Essa alma é, muitas vezes, exigente. Outras tantas é contrária ao que a sociedade espera de nós. Nesse dilema de exigência/aparência, somos confrontados com a necessidade de mandar calar a alma e pedir-lhe que espere só mais um pouquinho... Até perdermos o medo e estarmos certos do que queremos, do caminho que vamos seguir. Neste espera, não espera, a alma vai-se escondendo como uma criança desanimada a quem os pais dizem constantemente: "Já te disse para estares calada! Ainda és muito nova para teres quereres!". Daí à verdadeira solidão... vai um pequeno passinho...

Quando o exterior que nos ilude e distrai desaparece - e a vida tem tantas formas criativas de fazê-lo desaparecer - temos, finalmente, a oportunidade de cuidar da alma. Mas aí, já passou tanto tempo desde o momento em que perdemos o contacto com ela que acaba por ser difícil entendê-la. Parece até que falamos linguagens diferentes. Por isso, se conseguirmos, era bom irmos falando com a alma de forma continuada, como nas relações. Um diálogo aberto, sincero, firme e muito, muito paciente. O divórcio com esta senhora, ao contrário das separações habituais, pode custar-nos todo um resto de vida em sofrimento e insatisfação constantes. Como quase tudo tem cura, esta amiga (a alma) só precisa de atenção e muito mimo. Paradoxalmente, tudo aquilo que desejamos mas não conseguimos proporcionar a nós mesmos...

terça-feira, abril 25

A minha liberdade começa... onde começa a do outro

No original, esta máxima diz que "a minha liberdade termina onde começa a do outro". Não quero ser cinzenta nem pessimista, mas devíamos andar com isto colado na testa ou com uma cábula no bolso para nos lembrarmos mais vezes.

Hoje o dia até era propício a essa máxima. Dia da Liberdade, 25 de Abril, feriado, muito Sol e calor. Condições reunidas para um café de fim de dia numa qualquer esplanada. Um molho de revistas e um livro para passar os olhos e reflectir um bocado (trabalho e não só). A esplanada até pode estar quase vazia, mas nunca conseguimos respeitar a liberdade uns dos outros. Numa mesa, fala-se alto para que todos oiçam os problemas matrimoniais e as piadinhas gratuitas que é suposto fazerem rir mas que não têm graça nenhuma. Pelo menos, para quem quer relaxar e ler o seu livro sossegado. E que, ainda por cima, escolheu uma mesa bem ao cantinho, quieta e longe dos olhares curiosos.
Noutra mesa, um pai ralha com uma criança porque escolheu um gelado de água, em vez de um de leite. Um gelado que esse mesmo pai vai pagar e deixou a criancinha escolher, mas ralha e ralha e ralha. E a criança, que o escolheu com tanto prazer, encolhe-se na cadeira, envergonhada por ter feito aquela escolha e por todos estarem a ouvir...
Para completar o "ramalhete", um casal de namorados - ou amigos coloridos - senta-se exactamente ao lado de quem quer ler o seu livro e escolheu um cantinho para tal. Tanta mesa convidativa ali pelo meio. Mas não... Mesmo ao lado, cadeira com cadeira. "Por que é que não me respondeste ontem à mensagem?", pergunta ele. "Oh! Era tarde e pensei que não vias...", responde ela docemente. "Mas via hoje quando me levantasse", reclama ele com bons modos. Conversa puxa conversa e lá vai um cigarrinho. Com o fumo, claro está, a invadir quem quer ler o seu livro sossegado e que, por acaso (só por mero acaso), não fuma. Além disso, não se sente na legitimidade de pedir para pararem de fumar porque também eles são livres de o fazerem. Quando dá por isso, quem foi ali para ler o seu livro está a envolver-se em três histórias diferentes que o vento transporta. E que até podiam não fazer diferença nenhuma se as pessoas soubessem onde acaba a sua liberdade de invadirem o espaço dos outros.

Em resumo, nesta treta de liberdade que respeita liberdade quem acaba por sair prejudicado é quem aceita a liberdade do outro. Os outros são livres de se expressarem, logo, podem gritar; os outros são livres de fumarem, logo, podem poluir o ar alheio... Também pensei ter conquistado a liberdade de querer e de ter "low profile", ar puro e uns minutos de "relax" para ler os meus livros e falar com os meus botões...

Não sei por onde vou... só sei que não vou por aí

Andar perdido é, talvez, uma das armadilhas nas quais caímos com mais frequência nesta vida. Perdemos muitas vezes a paciência, o sentido de orientação, pessoas que pensávamos ter como amigas, relacionamentos afectivos, horas e horas no trânsito, etc, etc, etc. De forma mais dura, perdemos muitas vezes o contacto com o nosso "Eu" (a que alguns chamam "centro") e desorientamo-nos. Deixamos de nos identificar com quem somos, com as pessoas que nos rodeiam, com o emprego que temos e com a vida que é preciso aceitar diariamente.

Por causa dos inúmeros compromissos que assumimos, resignamo-nos à nossa sorte e esperamos que melhores dias surjam. Mas o tempo passa... e eles podem não surgir. Não surgem porque não fazemos nada por isso (e nestas coisas também é preciso querer). E às vezes não fazemos porque não sabemos por onde ir. Desperdiçar energias a tentar desalmadamente em todas as direcções também não me parece a opção mais inteligente. E parece-me que a vida nos vai dando pistas sobre o melhor caminho a seguir. Só que nem sempre estamos atentos e nem sempre percebemos os sinais. Um sinal grande - senão o maior de todos - pode ser a simples sensação convicta e profunda: "não sei por onde vou... só sei que não vou por aí".

segunda-feira, abril 24

A Coragem

"A vida encolhe-se ou expande-se na proporção da nossa coragem".
Anaïs Nin


Para muitos, a coragem é a capacidade que algumas pessoas têm de ir além dos seus limites através de feitos grandiosos, como saltar de pára-quedas quando se tem vertigens, atravessar a estrada a correr no meio do trânsito ou atirar-se ao mar para salvar alguém em aflição. Diria que uns destes actos podem ser inconsciência, outros loucura e alguns, sim, a tal coragem. Parece-me que a coragem vai muito mais além daquilo que é visível e que está sujeito à avaliação dos outros.

Mostrar sentimentos pode ser uma acto de coragem numa sociedade orientada para esconder fragilidades. Coragem pode ser olhar para dentro, para o mais profundo de nós mesmos, e reconhecermos que precisamos de ajuda e que temos, por isso, de pedi-la. Coragem é ser o mais honesto possível com aquilo que somos, assumindo que também falhamos, que há coisas que nunca vamos conseguir mudar e com as quais vamos ter de conviver. Acima de tudo, a coragem é conseguir avançar e entrar em territórios desconhecidos para nós, que nos deixam cheios de medo. Imagine-se que se tem um projecto muito criativo para apresentar no emprego, mas um medo horrível de falhar e de ouvir um "não". Coragem é ir além do próprio medo e, mesmo sabendo que se vai ficar muito mal depois de ouvir um "não", avançar-se e arriscar-se. A resposta pode ser "sim". E isso só se sabe tentando, arriscando, tendo coragem...

Apesar de tudo, até me parece que somos corajosos no que respeita aos empregos. Isso vê-se com a competição feroz que existe entre colegas. Já no que respeita aos afectos, os medos erguem-se. Já demos muito, já recebemos outro tanto, já perdemos, já sofremos... De facto, é preciso coragem para continuar sem baixar os braços. Mas com a bagagem que vamos acumulando já devíamos saber que quanto mais arriscarmos a partir daqui, maiores são as probabilidades de ser bem sucedidos. Já tivemos tempo mais do que suficiente para aprender qualquer coisinha e amadurecer, logo, ir fazendo opções cada vez mais conscientes e acertadas.

Ainda Sobre o Amor

A karatekida está inspirada. Este, eu subscrevo em grande parte. Só me entristece ver que há cada vez mais gente que desistiu de Amar. Como se alguém que passa pela nossa vida pudesse valer toda a nossa existência... Também acho que as relações duram o que têm que durar. Quando não temos mais nada a aprender e a crescer na relação, deixa de fazer sentido perpetuá-la... Mas também não vale ficar agarrado ao passado se deixarmos a relação partir...

Perguntas-me, no meio de uma conversa sobre relações e amor, se eu, aos quarenta (tenho 41,ermbora por vezes me sinta mais com 14) desisti de amar, dado que, no meu passaporte amoroso, tenho dois carimbos de relações mal sucedidas. Dito de outra forma: dois casamentos, que por acaso não foram mal sucedidos… duraram apenas o tempo que puderam e que mereceram. E assim é que deve ser.
É claro que não desisti de amar. Que rima com acreditar…e respirar. Rimas à parte, são fundamentais para viver. Amo viver, e depois amo as pessoas e amo-me. Há dias que acordo cheia de amor. Outros não. (That’s life)!
Quanto aos homens, porque é disso mesmo que se trata, continuo fã deles. À medida dos meus ritmos, gosto de os descobrir e ser descoberta, de seduzir, e ser seduzida, de os descartar, e ser descartada, de dar e levar tampas, de os ter, de os deixar partir.
Não tenho quaisquer preconceitos raciais, etários, políticos ou religiosos. Só não gosto de homens burros. Aliás, de pessoas burras, mas admito que este é um conceito muito generalista e nada transmissível. No geral, simpatizo com os homens. No particular tenho amado alguns deles…
Quando gosto de um em concreto, fico refém do cheiro, da pele, dos tiques, do sentido de humor, do pragmatismo latente e de tantas outras singularidades dele… Será isto o amor? E se for, durará o suficiente para eu o recordar?
Lembro-me de um texto da Ana Sá Lopes que fala sobre como e onde o amor acaba. Da mesma forma que não se sabe como ele termina…pelo menos não é totalmente previsível, assim também não se percebe quando começa. O que torna tudo muito mais excitante…e enquanto assim for é óbvio que não deixarei de amar!

karatekida

Algibeiras

Mais um texto que me chegou da minha amiga karatekida...

As algibeiras dos aventais das avós fascinam-me. É uma opinião bastante pessoal, eu sei, mas acho mesmo que deviam constar da lista das maravilhas do mundo. São autênticos mistérios. Armazéns em miniatura. Inventário de emoções. Um dia, decidi investigar o avental da minha mãe para validar esta teoria. E chegar à verdade, ou pelo menos, ao começo dela.

Confesso que não estava preparada: Chuchas, peças de puzzle, molas da roupa, lenços (objecto muito útil para travar “aquelas” lágrimas), comprimidos para as dores de cabeça e da alma, peças perdidas de lego, lápis de cor, bilhetes com recados, laços, os bolsos não paravam de cuspir objectos sem relação. Brinquedos esquecidos, papéis com mensagens para o futuro (ou do passado), moedas antigas, a lista continuava a aumentar.

Na realidade percebi que o mundo da minha família tem passado em parte por aqueles bolsos. No fundo, os bolsos guardam memórias, daqueles que ainda as não sabem usar e para aqueles que um dia viverão exclusivamente delas.

É um facto. Um avental, lavado, fresco e engomado não tem piada nenhuma. Acumule-se semanas de uso, nódoas de fruta ou de papa e bolsos cheios, e a coisa de figura. Passadas umas semanas, a peça de roupa reclama água e detergente. É um ritual. Esvaziam-se os bolsos, faz-se o inventário dos objectos, que esperam, depositados num canto, por regressarem, um a um, ao porto de abrigo, que no caso, será sempre a algibeira do avental.

Lavada, a peça de roupa está pronta a ser reutilizada. A avó, fardada de avó, retoma o cerimonial: coloca nos bolsos, com cuidado, as peças do seu pequeno tesouro. Não se sabe quando é que a neta mais velha precisará de um comprimido para as dores de cabeça, ou então, quando o neto mais pequeno quererá mesmo fazer um desenho e não encontra o lápis roxo, roído numa ponta, mas afiado...

As algibeiras dos aventais só rivalizam com as gavetas daqueles móveis normalmente colocados nas entradas. Arquivos sem lógica, onde vai parar tudo o que está a mais na decoração. Desde chaves (sem fechadura), cartões de visita sem cor e outros tantos objectos sem utilidade aparente, pelo menos à vista desarmada… Prometo aprofundar o tema, mal acabe de arrumar as algibeiras, ok?

karatekida

quinta-feira, abril 20

Uma amiga enviou-me este texto que ela apelida de "lamechas", mas que considero dar bastante que pensar. Obrigada, karatekida!

Amor meu grande amor não chegues na hora marcada

Ontem ajudei uma amiga a recuperar um grande amor. Se calhar não deveria…mas nestas coisas do amor, não existem guiões pré definidos. E se a amizade faz sentido é essencialmente quando auxiliamos alguém sem esperar nada em troca. Seja como for, aprendi uma boa lição. Fiz algo que não faria por mim. Mas não me arrependo. Embora saiba que não seria capaz do mesmo, senti uma pontinha de inveja. Inveja por todos aqueles que, no limite, saem das convenções, do socialmente correcto, do figurino normal e vão à luta. Por um grande amor…
Por vezes, os grandes amores chegam sem aviso. Traiçoeiros, passam por nós sem aviso. Quando damos conta, já partiram…
Que andamos, mulheres e homens, na maior parte da nossa existência à deriva no grande oceano de marés imprevistas que são as relações já sabia. Que não existe receita certa, também. No que toca ao amor, sem dúvida o sentimento mais dissecado do Universo, todas as teses são válidas.

Oiço uma canção, velhinha, que me sussurra isso mesmo. Fala da improbabilidade, da força, e do inesperado que é o Amor.

Se calhar o segredo é fazer de cada novo amor, o primeiro e o último … Sem hora marcada. E ao (re) encontrá-lo ter coragem de o entender. Sem medos, traumas, com a pureza que cada um de nós esconde numa caixinha a que chamamos coração…

Os percursos amorosos fazem marcas. O que distingue os vencedores é a capacidade de, na bagagem que levam da vida, deitarem fora o que não presta e saberem manter o que é vital, para viverem cada amor, como se fosse o ultimo e o primeiro. Porque um dia será.

PS. Minha amiga, que o teu grande amor dure o tempo que mereça. E, caso não dê certo, conta comigo para te secar as lágrimas. Até lá, sê feliz !!

karatekida

quarta-feira, abril 19

Só podia ser... Vinicius de Moraes

Esta enviou-me um amigo. E é tão linda! Obrigada!

Desejo primeiro que você ame,

E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exacta para que, algumas vezes, Você se interpele a
respeito De suas próprias certezas.

E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, Para que você
não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante, Não com os que erram pouco,
porque isso é fácil, Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância, Você sirva de exemplo aos
outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer, E que sendo velho,
não se dedique ao desespero.

Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e É preciso deixar
que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste, Não o ano todo, mas apenas um
dia.

Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso contínuo é insano.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, Injustiçados e
infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato, Alimente um cuco e ouça o
joão-de-barro Erguer triunfante o seu canto matinal Porque, assim,
você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente, Por mais minúscula que
seja, E acompanhe o seu crescimento, Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, Porque é preciso ser
prático.

E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afectos morra, Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar Sem se lamentar e sofrer sem se
culpar.

Desejo por fim que você sendo homem, Tenha uma boa mulher, E que
sendo mulher, Tenha um bom homem E que se amem hoje, amanhã e nos
dias seguintes, E quando estiverem exaustos e sorridentes, Ainda
haja amor para recomeçar.


E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

(Vinícius de Moraes)

O fenómeno televisão: o que quer o povo?

Criticar costuma ser fácil. Como dizia alguém conhecido: "não aceito críticas de quem saiba muito, mas de quem consiga fazer melhor". No fenómeno televisivo é comum criticarmos alguns canais pelo sensacionalismo, outros pelo "telelixo" que apresentam e todos eles pelas vedetas que criam a partir do nada. Com o trágico e fatal acidente com o jovem dos Morangos com Açúcar confirmei aquilo que já vinha pensando há algum tempo: a televisão que temos é necessária porque é isso que o povo quer. Portanto, podemos criticar mas não saberemos certamente fazer melhor. Eles fazem-no bem. Captam audiências. Criam heróis. Acalentam sonhos de miúdos e graúdos com o dito "telelixo". Um crítico de televisão escreveu hoje no "Público", referindo-se à cobrertura da tragédia com o jovem actor, que nem houve exagero na exploração mediática. Não??!!! Talvez seja normal estando o elenco da novela em "black out". E mais normal ainda se havia seguranças a limitar o acesso dos jornalistas ao local (só aTVI podia explorar algo que dizia respeito a um "filho da casa"). Mas mesmo que tivesse havido, o povo quer, o povo gosta. O povo vai ao local do acidente recolher destroços para "mais tarde recordar". O mesmo povo fala maravilhas de um actor como se fosse um familiar que conhecesse bem. Ou melhor, confunde ficção com realidade. Pois, mas somos todos tão moralistas e também estivemos colados ao écrã para podermos ter elementos para criticar. Temos direito aos nossos gostos e a não ver os "Morangos com Açúcar", mas não podemos ignorar que milhares os vêem e se empolgam com isso. Milhares que habitam no mesmo rectângulo que nós, que irão votar para escolherem os dirigentes deste país no futuro e que, por isso e muito mais, merecem ser respeitados. Talvez tenhamos de repensar é o que é que nós, o grande povo, anda a querer dos meios de comunicação. Se mudarmos as exigências, eles mudam de certeza. Porque eles podem não saber muito, mas sabem fazê-lo bem...

E Viva a TVCabo!!!! - continuação...

Abro a porta e dou de caras com o técnico da TVCabo. O mesmo que me deixou o papel no correio e ouviu a minha mensagem no telemóvel. "Ah! Boa noite! Já falei com o seu colega. Está tudo resolvido, não precisa de desligar nada." Ele abriu os olhos de espanto e respondeu: "Mas eu já desliguei! Ainda não ligou a televisão?" Meu Deus! Eu não queria acreditar. Ligo de novo para o tal operador da fidelização de clientes e conto-lhe o que se passa. Ponho-o a falar com o técnico e a conversa muda de tom. Afinal já tenho que pagar os 118 euros ao técnico se quero continuar a ter TVCabo e depois a empresa repõe a situação e devolve-me o dinheiro. Claro que a minha loucura não dá para tanto. Sobretudo negócios destes com uma empresa destas. O problema? O mesmo rapaz simpático que me garantiu mundos e fundos, afinal, já não se responsabilizava por dar uma ordem ao técnico. Ok. Estou excluída do "maravilhoso" mundo da TVCabo há duas horas... Foi um favor que me fizeram enganarem-se na facturação pois, pelo que dizem, quando é o cliente a pedir a desactivação ela nunca acontece. E Viva a TVCabo!!!!

E Viva a TVCabo!!!! - parte 1 de muitas.....

Hoje ao final do dia tinha uma mensagem da TVCabo no correio a avisar que me tinham cortado o serviço por falta de pagamento. Cento e dezoito euros de dívida, ainda a tempo de pagar, se quisesse ter tudo de novo activado. Uma dívida, saliente-se, que eu não tinha. Era, há meses consecutivos, um erro de facturação da TVCabo. Acometida por um ataque de fúria, deixei mensagem no telemóvel do técnico que me deixou o papel no correio e liguei para o apoio a cliente da TVCabo. Claro que a menina que me atendeu não me sabia dar respostas. "Pois... realmente... pois... A senhora mudou o tarifário na Netcabo... Não terá alguém em casa que lhe mexa na Net sem saber???!" Ui! Foi a pergunta fatal! "Oh Andreia!!! Pelo amor de Deus! Se eu já lhe disse que aqui não mora mais ninguém e que os fios estão enfiados na gaveta... e que o problema persiste há meses na VOSSA facturação... está a chamar-me mentirosa????" Eu respirei fundo antes de ligar, prometi a mim mesma tentar ser simpática para o operador que me atendesse... mas aquela ia além dos limites do razoável. Isto porque desde há um ano a esta parte que todos os meses ligo para a TVCabo com problemas de facturação... "Vou passar a um colega, não desligue por favor!" OK. Era um operador do serviço de fidelização de clientes. "Tem toda a razão, peço-lhe desculpa. O erro é nosso. Só tem de pagar Março e Abril. Ignore o resto e eu dou-lhe a garantia que nada será desactivado e que daqui para a frente a facturação vai certinha." Ainda argumentei e tentei desactivar o serviço para sempre, mas mudei de ideias pela simpatia e calma que aquele senhor me transmitiu. Não conseguia ser "bruta" para o rapaz, que até me deu o contacto do departamento para problemas futuros. Eis quando me tocam à campainha...

quinta-feira, abril 13

Uma Aventura no Supermercado - Parte II

Estava safa da velhinha. Altura de largar tudo na caixa para pagamento. Ainda estava eu a colocar as compras no tapete, já a senhora da caixa registava apressadamente as minhas coisas. A cliente anterior ainda tentava encontrar as notas na carteira e tinha tudo espalhado no balcão. Eu não tinha mãos a medir. Tinha pensado colocar os ovos por baixo da alface, mas já não sabia onde estava tudo... Quando dei por mim, fervia de irritação e gracejei, com um sorrisinho amarelo de orelha a orelha: "Ai, ai, ai! Tenha calma, tenha calma! Não estou a conseguir ser rápida..." Diz-me a senhora da caixa, a sorrir: "Não há problema! Eu espero que pague. Tenho é de passar isto depressa." Pois, realmente teria de esperar que eu pagasse. Com uma mão enfiada num saco e outra a segurar os ovos, só com malabarismos conseguiria retirar a carteira da mala. Diz a cliente anterior, ainda com as suas compras: "Este saco é meu, não é?!" Era um dos meus sacos... Não me contive: "Qual a razão de tanto stresse numa véspera de feriado, sem clientes à espera?", sorri. "Ah! Aqui os patrões contam o tempo que levamos a registar as coisas. Pagar é diferente. A registar temos de ser rápidas." Hmmm. Estava tudo explicado. Os atrasos são sempre culpa do cliente que não leva o dinheiro certo na mão e não tem mais duas mãos para colocar tudo nos sacos. O que vale, no meio disto tudo, é que a senhora era simpática e compreensiva... Ainda deu para rir e sair bem disposta.

Uma Aventura no Supermercado

Depois das Finanças e do serviço de apoio ao cliente da TVCabo, o supermercado é o lugar ideal para viver grandes e "stressantes" aventuras. Fim de tarde, véspera de feriado, muita gente fora em fim-de-semana prolongado... Pareciam estar reunidas as condições para ir às compras sem grandes complicações. Logo à entrada do Mini-Preço (sim, os tempos são de "crise"), na secção do pão, uma idosa pede-me ajuda porque não percebia se o pão de mistura era 0,70€ ou 1,40€. Eu expliquei-lhe que 0,70€ eram 14o escudos em moeda antiga... "Ah! Bem me parecia! Muito obrigada!". Ia continuar as minhas compras quando a senhora me diz... "Na verdade, eu queria era integral, mas não há". Havia, sim. Um saquinho escondido. "Ah! É desse mesmo! Mas parece estar duro... Na verdade, eu nunca provei o de mistura... Sabe se é bom?" Já a perceber o que me esperava, respondi: "Por acaso, daqui nunca provei, não... boa tarde!" Um "obrigada" e um "de nada" e segui o meu caminho. Quando dei por ela, tinha a senhora de novo ao meu lado. A olhar para mim, sorridente. Estávamos na secção do peixe congelado. Uma arca enorme, cheia de variedades. "Ah! Isto hoje não tem nada de jeito...", diz-me a senhora. "Já está muito escolhido...", respondo eu a tentar escapar-me. "Não! Sabe... estamos na Páscoa. Estas semanas que passaram foram de Quaresma... comeu-se muito peixe e já o levaram todo!"... "Pois é, mas está quase a acabar a abstinência...", disse-lhe eu, a tentar ser engraçadinha e, mais uma vez, a escapar-me. Não é por nada, mas achei que já tinha feito a boa acção do dia e não me apetecia grandes conversas. Mas também percebo que o isolamento a que algumas pessoas estão sujeitas as leve a simpatizar com qualquer estranho e desejar a sua atenção. Só que a aventura não acabava aqui...

Real e Irreal

"Nada irreal existe e nada real pode ser ameaçado". Confesso que esta me deixou à toa na semana passada. Surgiu no meio de uma conversa sobre medos e inseguranças, naturais em todos os humanos. Sobretudo quando se percebe que não se está no caminho certo e que há que fazer mudanças profundas. A primeira defesa é o medo. De falhar, de não ser suficientemente bom, de não estar a fazer a opção certa. Depois - raios! - quanto mais nos concentramos no medo, mais ele cresce. Para mais tarde concluirmos que não passou de pura perda de tempo. Não valia a pena ter medo. Esse "papão" não existia. E o que era real (neste caso o sucesso, porque tudo apontava para isso) nunca se alterou e acabou por acontecer. Ele há cada uma!

quarta-feira, abril 12

Fico chateada, é claro que fico chateada!

Eu até que nem sou de intrigas... E até fico de cabelos em pé com generalizações. Mas não é que ele há coisas que são sempre iguais e correm o risco de ser generalizáveis?!!! Falo... "guess what!"... de comportamentos. Hoje - que dia maravilhoso, hoje! - levei com um balde de água fria. Eu diria mesmo que caí dentro do balde, de tão pequenina que me senti perante tamanho pasmo. Eu sabia que estar apaixonado magoa quando não se é correspondido; eu sabia que pôr tudo em pratos limpos é uma ilusão porque as pessoas criam sempre expectativas; eu até sabia que ser amigo quando se quer algo mais pode ser penoso... Mas não sabia que, de repente, se acordava de manhã e se começavam a descartar pessoas - que, por acaso, não nos fizeram mal nenhum - como se tivessem perdido toda a importância que tinham para nós... Sendo eu a descartada... fico chateada, é claro que fico chateada! Amanhã já passou..

Cor... Mais Cor

Hoje foi-me sugerido que desse mais cor aos temas deste blogue. No início, confesso que fiquei espantada pois não cheguei a colocar a hipótese de estar a abordar temas "negros". A minha intenção era trazer à tona temáticas banais no nosso dia-a-dia e "provocar" um bocadinho a malta pondo deditos em algumas feridas e pensando sobre outras. Esta sugestão deixou-me a pensar. Entre outras coisas, concluí que pode mesmo ser incómodo falar de alguns assuntos. O que me deu ainda mais alento para seguir este registo. Mas não quero causar depressões! Até porque o Sol parece ter vindo para ficar e o momento é de alegria, muita alegria. Mas eis que a cor, para mim, até que fez sentido. Por isso, resolvi dar uma limpeza a este pequeno blogue. Em breve vai aparecer de cara lavada... com mais cor e, espero bem, com novas contribuições.

terça-feira, abril 11

Viver no passado

Dizem alguns filósofos que, na vida, só o presente é real. O passado já lá vai e não se pode mudar; o futuro ainda está para vir e, por isso, não existe. Outro dia enviaram-me uma sms que corroborava isso mesmo: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo... qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim". Lá está a tónica no presente. E lá estamos nós presos ao passado. Ao grande amor das nossas vidas (quando, se soubermos aproveitar, podem ser vários os amores grandes que passam por ela); ao amigo que não perdoamos; à infância infeliz que nos marcou para sempre; ao parceiro que nos rejeitou e por aí fora... Uma coisa será certa (ou, pelo menos, quase garantida): não há espaço emocional para ser feliz e fazer felizes os outros. Estamos presos a algo que passou, que perdeu a materialização e que, por isso, não existe. E o mais provável é voltarmos a encontrarmo-nos com o passado e a percebermos que, afinal, a pessoas e/ou a história não fazem mais sentido no presente. Porque as pessoas mudam - nem sempre na mesma direcção -, porque o mundo avança, porque a vida transforma-se a cada dia que passa.

Que bom ser vítima!

"Bem! Nem sabes o que me aconteceu ontem!"; "Coitado/a de ti!"; "Achas normal que ele/a me tenha feito isto?". Muitas destas expressões são-nos familiares e características de quem prefere viver a vida como o "coitadinho" em vez de encará-la de frente e assumir a sua parte de responsabilidades. Porém, o mais curioso de constatar é que as pessoas até gostam de "coitadinhos". De sê-lo e de protegê-los. É uma forma de se sentirem úteis e, noutra perspectiva, acarinhadas e mimadas. Para quem já foi vítima e agora está farto, ver esta postura no dia-a-dia causa náuseas. Tantos coitadinhos, tanta gente a queixar-se da vida de barriga cheia. Tudo porque culpar o outro ou o que está fora é bem mais confortável do que ter a coragem de olhar bem fundo e perceber que se é frágil, que também se erra e que se tem todo o direito disso. Confesso que na minha fase de "coitadinha" quis testar o quanto podia ser importante para os outros. O quanto eles sentiam a minha falta e me davam valor. Hoje verifico que quanto menos se é vítima, menos apoio e admiração se tem por parte dos outros. Mesmo assim, quando dou comigo a vitimizar-me, puxo-me as orelhas e digo-me: "menina, é altura de seres crescida. Assume quem és e o que fazes na vida". Quem nunca foi vítima que atire a primeira pedra. Quem continua a fazer disso modo de vida, perca o medo e ganhe coragem.

segunda-feira, abril 10

Solidão... A Eterna Ilusão

Alguns já a apelidaram, a seguir à depressão, da "doença dos tempos modernos". Acentuada pela confusão das grandes cidades, em que muitos se cruzam mas poucos se conhecem, a "solidão" pode existir mesmo quando estamos rodeados de pessoas. Reconhecer este facto leva-nos a outra brilhante conclusão: é possível que a "solidão" seja ilusória. Em última análise, porque respiramos o mesmo ar, somos humanos, partilhamos as mesmas estradas e os mesmos transportes, todos temos problemas... não estamos sós na nossa dor e na nossa existência. Em última análise, também, podemos sempre contar connosco (talvez, até, como o nosso melhor amigo; como aquele que sabe tudo o que precisamos para sermos felizes). E muitas vezes estamos "sós" porque é o momento preciso de parar e fazer o balanço do que temos andado a fazer com as nossas vidas. Diga-se, então, que nestes casos a "solidão" - ilusória, no entanto - é um mal necessário, o único caminho a seguir e o preço a pagar por uma liberdade de escolha e de acção que vem logo a seguir. Estamos sempre a queixar-nos do "velho", da rotina, do que acontece sempre e mais uma vez. Então por que razão deixamos passar as oportunidades de dar o salto em frente?

As Mulheres do Sec. XXI

Este mês comprei uma nova revista feminina que surgiu no mercado. Chama-se "Happy" e tem dois meses de vida. Pensei que ia encontrar mais fórmulas rápidas de conquistar um homem, truques de sedução e performances sexuais. Uma seca, portanto. Mais do mesmo! Mas enganei-me... Sinto tanto prazer quando consigo ser surpreendida! Esta revista fala de casos reais. De temas que acontecem na vida das pessoas. Este despertou-me a atenção, talvez por me identificar com ele: "Mulheres com o Destino nas Mãos". Neste artigo fala-se de mulheres independentes, corajosas, sem preconceitos e que assumem o comando das suas vidas. Solteiras, casadas ou divorciadas, são mulheres que "são aquilo em que acreditam e não o que os outros querem que elas sejam". Têm carreiras construídas a pulso, confiam nas suas capacidades e são exigentes com o que as rodeia. Em suma, são mulheres de certa forma "revolucionárias" ao não abdicarem do que realmente faz sentido nas suas existências. Mesmo que tal signifique passar pela temida solidão (que, afinal, não passa de ilusória). Para que ninguém seja enganado, aqui ficam as características da mulher do século XXI:

1 - É persistente e confia nas suas capacidades
2 - Nunca desiste dos seus objectivos e sonhos
3 - Encara cada obstáculo como um desafio e nunca como uma barreira definitiva à felicidade
4 - Toma decisões com naturalidade
5 - Não se deixa invadir por sentimentos de culpa
6 - Fala das suas ambições com outras mulheres ou com o companheiro
7 - Evita fechar-se sobre si própria, pois pode ser uma porta para os medos indesejáveis
8 - Abandonou a ideia de que tem de ser uma mulher perfeita
9 - Procura agir de acordo com as suas convicções e não segundo as dos outros. Assume as suas fraquezas
10 - Permite-se sentir prazer por ter objectivos e por conseguir atingi-los

Uma vez identificadas... os homens que se cuidem! :)

domingo, abril 9

Beleza... é fundamental?

Não é novidade para ninguém que a imagem é o cartão de visita nos dias que correm. Olhamos para as pessoas bonitas, paramos numa montra vistosa, comemos primeiro com os olhos, etc, etc, etc. Quando se trata de amor, era suposto que o cartão de visita fosse a atracção entre duas pessoas (que podem ser "Cyranos de Bergerac"). Cruzaram-se algures na vida, sentiram-se atraídas por razões que só elas sabem e resolveram ir ver o que podiam aprender - ou não - uma com a outra. Isto é a teoria, a filosofia de uma prática que parece ainda dizer: "ok! eu sinto-me atraído/a por ela/e, mas não estão reunidos os ingredientes que tornam esta pessoa desejável aos olhos do que é socialmente aceite". Resultado: é melhor mudar de direcção. Esta lenga-lenga surge a propósito de uma história que acabaram de me contar... Afinal, quando se fala de laços verdadeiros entre as pessoas, beleza é ou não fundamental??? Resta saber que tipo de beleza está em causa...

A Mudança

Ainda há pouco falava com uma amiga - que também tem um blogue - sobre a necessidade de mudança nas nossas vidas. Talvez por sermos insatisfeitas por natureza - por acaso ambas loiras, mas não burras - a ideia de emprego fixo não nos alicia. Muito menos quando aquilo que fazemos não se adequa ao rumo que queremos dar às nossas existências. "É uma pena, mas não vale a pena", diz a minha amiga no seu blogue, citando a canção. O outro também dizia que "tudo vale a pena, se a alma não é pequena". Parece, então, que o segredo é perceber se a nossa "alma" pula de emoção quando fazemos o que quer que seja. Pula? Não pula? Valerá a pena? Dir-vos-ei daqui a uns tempos.

O jogo do título...

Hoje o dia foi de festa em Alvalade. O Sporting e o FC Porto disputaram o "jogo do título", num ambiente vibrante de energia e emoção vestido de verde e branco. Bandeiras, cachecóis, faixas de plástico que atravessavam as bancadas e estusiastas gritos de apoio eram os ingredientes perfeitos para uma grande celebração. A ida ao estádio já tinha valido a pena só para sentir de perto tamanha euforia. No meio da agitação nas bancadas, eis que aparece o primeiro "ousado". De cachecol azul e branco ao pescoço, lá se move ele entre os adeptos - ali todos sócios - da equipa da casa. É certo que estamos em democracia. É certo que a liberdade de expressão tem de existir. Mas também é certo que, nestes ambientes que podem ser de nervos à flor da pele, este é um acto de extrema coragem e ousadia. O jogo nem estava a ser mau. O árbitro cumpria bem o seu papel. Os adeptos apoiavam incessantemente a equipa. Mas o resultado não correspondia às expectativas. As bancadas agitavam-se impacientes e o esperado aconteceu: "seu filho da puta! seu animal! seu cabrão!". Eram palavras para o senhor do cachecol azul e branco, que se levantou do lugar. Ai se o FC Porto marcasse... Marcou. Faltavam escassos minutos para o final da partida. Fez-se silêncio em Alvalade. Baixaram-se cabeças, deitaram-se algumas lágrimas, fecharam-se portas quanto a uma conquista do título. E o senhor do cachecol azul e branco gritou, pulou, celebrou. Não havia ânimo para impedi-lo. Não havia casos de jogo para exacerbar a raiva. A festa tinha acabado para a maioria e estava garantida para os que, ao longo de 80 minutos, nem se conseguiram ouvir. É assim o futebol. É assim a vida. E o que ousou ousar saiu feliz. Porque entrou no ambiente de festa. Porque foi ele próprio. Porque saiu vencedor.