quinta-feira, setembro 28

Desaparecer sem deixar rasto

Confesso que nestes últimos dias tenho pensado seriamente em acabar com este espaço que, ainda há pouco tempo, considerei ser uma espécie de “depósito” de ideias, opiniões que não valem além disso mesmo, emoções, pensamentos profundos ou de trazer por casa (depende da forma como levamos a vida e, em determinados dias, olhamos para ela), etc, etc, etc.

Quem sabe um destes dias acordo e concluo que não me apetece mais continuar com isto. Ou crio um novo em completo anonimato, para ser descoberto por quem lhe apetecer apanhar uma seca ou sossegar porque fez um processo de identificação e não se sente tão sozinho (o efeito nunca se sabe, pode ser variado e, sinceramente, não é importante para mim). Um blogue é isso mesmo... Uma pequena divisão da nossa casa interior que se abre a estranhos e que os deixa opinarem e serem quem são, como qualquer anfitrião faz de boa vontade aos seus visitantes. Mas aqui está a perversidade desta abertura. É que uma qualquer filosofia que nos passou pela cabeça e que resolvemos pôr preto no branco na nossa “divisão” passa de imediato, para quem lê, a um estado de espírito ou de vida do seu autor. Eu, que me movo no mundo da escrita - e que conheço os seus diversos registos e motivações -, posso assegurar que não é assim tão linear. E depois lá estamos nós, autores, a sentir necessidade de nos justificarmos. “Não, não! Estou óptima/o, não aconteceu nada”. “Não, claro que não era sobre ti! Mas, de facto, o que aconteceu levou-me a reiterar o que já sabia/sentia/pensava e apeteceu-me escrever sobre isso”.

Na lógica de pequena divisão interior que se abre ao exterior (porque a casa é muito, muito grande e nunca se mostra toda), o blogue é uma forma de acolhimento, refúgio, maneira de espairecer como, mal comparado, se fumasse um cigarro, desse uma queca ou lesse um livro (OK! Corro o risco da comparação da “queca” provocar reacções, mas assumo as consequências...). A ideia é que se trata de um escape como outro qualquer e aqui não importa o que dá ou deixa de dar mais prazer. Porque uma MÁ queca não é sequer comparável ao prazer que dá escrever (para quem tem paixão pela escrita).

Bem, ainda não é hoje que vou desaparecer sem deixar rasto. Mais uma vez, uma situação levou a que me apetecesse escrever algo... a que me dedicarei a seguir...

terça-feira, setembro 26

O Sapo Surdo

Hoje enviaram-me uma fábula muito interessante que metaforiza aquilo que os verdadeiros vencedores devem fazer para alcançarem os seus objectivos. Quando falo em vencedores não me refiro a quem, de mão beijada, é colocado no poder nem a quem desempenha cargos de "alto nível". Para mim, os vencedores, são todos os que se incluem no que a seguir vou contar (e que podem passar por nós rotos e descalços em qualquer rua da cidade).

A fábula dos sapos fala de uma corrida de uma centena destes bichinhos até ao cimo de uma torre. Os que assistiam à louca epopeia, gritavam a avisar que eles não iam conseguir. Um a um, os sapos iam caindo antes do topo, sempre perante os gritos loucos e desmotivadores da plateia. Para espanto de todos, um dele subiu, subiu, subiu e alcançou o topo. Era um sapo surdo. Não poderia, de modo algum, ouvir o que lhe diziam e tinha um grande objectivo pela frente: conseguir realizar o seu sonho de chegar ao topo da torre.

A moral desta história, que também vem no documento que me enviaram, é que alguém que quer chegar a alcançar os seus sonhos não deve dar ouvidos à plateia pessimista e chata que constantemente nos rodeia. "Believe in yourself and your dreams will come true!", diz-se no mail ("Acredita em ti e os teus sonhos tornam-se realidade"). Posto isto, não me vou pronunciar muito mais. Apenas remeter para aqui todos aqueles que vivem no pessimismo e que têm o dom de tentar sempre estragar a vida aos outros. Para que conste, eu sou e serei um sapo surdo. Quando chegar ao topo da minha torre eu dou notícias...

segunda-feira, setembro 25

Trivialidades

Passei por aqui não porque tenha algo de especial para dizer, mas para não perder o ritmo de vir despejar pensamentos, emoções, sentimentos ou opiniões que podem não servir para muita coisa, mas que ajudam a descontrair e a aliviar o stress (tipo saco de boxe no qual se bate com toda a força quando se está irritado).

O dia está a ser intenso (e promete continuar, assim como as próximas semanas). O mundo está recheado de pessoas que se magoam (umas vezes sem querer porque todos somos estúpidos uns para os outros de vez em quando; outras vezes porque nos apetece dar a estocada final e ferir de morte o adversário), mas tem flashes de luz que compensam esse outro lado feio e desprezível.

Há inúmeras visões do mundo, filosofias de vida e formas de encarar o que nos rodeia. Claro que a nossa é sempre a que faz mais sentido ao nosso olhar, caso contrário não seria essa que adoptaríamos como conduta de vida. Mas isso não invalida que a do vizinho seja igualmente merecedora de crédito e de respeito. No meio destas diferenças, o mais importante é que consigamos manter a bitola do que é aceitável para nós e daquilo que queremos fazer com a nossa existência. Não me apetece alongar muito sobre isto, mas vejo em volta que as pessoas teimam em fincar pé nas suas vistas curtas e na sua luta pela razão que nem se apercebem que ao lado está um outro ser humano que tem necessidades, sentimentos e merece respeito e dignidade.

As conversas dos últimos tempos com várias pessoas também me levam a achar que o mundo está sedento de mudança, de pessoas com vistas largas e coragem q.b. para assumirem que são diferentes e que vivem na diferença. Mas não há regra sem excepção e tem de ser assim mesmo para darmos valor às pérolas que nos rodeiam e a quem nunca demos atenção. A exigência tem um preço elevado. Um preço que vale a pena pagar (não digo a curto nem a médio prazo, porque o caminho mais difícil é sempre o mais penoso). O que me enoja é que as pessoas se sirvam da boa vontade das outras para alcançarem os seus objectivos e para terem o que querem nas suas vidas. E basta estar atento e ver e ouvir o que nos rodeia para perceber que o mundo está cheio de merda. Atrofiados e atrofiadas que vestem uma máscara e que tentam enganar o mundo, mas nunca se enganarão a eles próprios. Nunca porque lá bem no fundo há um vazio para preencher. Há uma voz que diz: "por favor, eu não sou isto, estou a atrofiar... tira-me daquiiii!!!". Com o tempo, essa voz vai perdendo força e temos malta que conclui não saber o que anda para aqui a fazer, pois está cansada, sem motivação e com muita vontade de mandar tudo ao ar.

quinta-feira, setembro 21

Geração de Atadinhos

Nova pausa para filosofar um bocadinho. Há que enganar o cérebro e dizer-lhe que "não, não é tudo igual! não são horas seguidas de trabalho sem parar...". Desta vez a pausa sugere-me que fale de um trabalho que a Notícias Magazine (DN) publicou há umas semanas sobre as nossas crianças. Aqueles que estamos a criar para serem os futuros dirigentes e pessoas maduras deste país e do mundo. De acordo com a autora do texto, esses senhores do amanhã serão uns "atadinhos" a quem sempre tentaram esconder que a fome, a dor, o sofrimento, a luta diária por um mundo melhor existem.

Queimados por uma infância repressiva e limitadora, os pais das crianças do agora desaprenderam um "não" porque os meninos podem ficar traumatizados; colocam-nos numa redoma para que eles sofram o menos possível e não vejam as desgraças desta vida; elogiam-nos em demasia para que não lhes falte auto-estima; dão-lhes todos os brinquedos e facilidades para que eles não se queixem mais tarde de ter tido uma infância pobre. Em suma, preparam totós que se tornam mimados e pouco preparados para a vida.

Diz-se no mesmo texto - e a meu ver muito bem - que a frustração, o sofrimento e a perda fazem parte da existência. Se assim é, por uma questão lógica, deve-se ensinar às nossas crianças que elas também erram, que muitas vezes vão levar com a porta, que outras tantas vão chorar e perder coisas... mas que tudo isso lhes vai valer para se levantarem mais fortes e olharem com uns óculos realistas e positivos para uma "bênção" chamada vida. Aquela de que todos reclamamos, mas que damos o litro para manter quando percebemos que nos pode fugir.

Há outra parte interessante do texto que defende a existência de regras. Se o menino tem a mesada de 100€ e gastou 90€ em "peanuts" quando precisava de 30€ para o concerto, então deve aprender que o problema é dele e que, para a próxima, se quer ir ao concerto deve fazer melhor as contas. A isto chama-se dar valor à vida, às circunstâncias em que ela surge e ao esforço que muitos pais fazem para formar os seus filhos e fazer deles "alguém".

Uma outra parte mais interessante, que cita um especialista estrangeiro, refere que nós nos devemos preocupar com as outras crianças. Com aquelas que passam fome, que não têm pais, que pegam em armas aos 7 ou 8 anos, que são mal-tratadas e que nunca saberão o que é o amor. Enquanto o nosso filho amua no quarto porque não vai poder comprar os ténis de marca que tanto queria, deveríamos nós estar a pensar como podemos ajudar o menino do bairro vizinho que vai para escola de sapatos rotos e com uma carcaça seca na mala porque não há dinheiro para mais.

Confesso que me transformo quando falo disto e posso cair no exagero. Mas há muitas coisas que me tiram do sério, entre as quais queixarmo-nos de barriga cheia e atirarmos areia aos olhos das nossas crianças, que amanhã nos irão criticar e julgar porque perceberam que, afinal, não estão preparadas para a vida. Porque, ao contrário do que os pais lhes fizeram crer, também elas vão ter de lidar sozinhas com a frustração e com a inevitabilidade de que a vida é um desafio constante que faz crescer e tem coisas muito boas, mas pelas quais há um preço a pagar. Maior ou menor, consoante o grau de realidade em que cada um vive.

Só por hoje...

"Só por hoje não te aborreças" ou "Só por hoje não te preocupes" são dois dos cinco princípios do Reiki (uma antiga arte de canalização de energia muito em voga no Ocidente como terapia alternativa). Se conseguirmos aplicar isto todos os dias é perfeito porque nunca nos vamos aborrecer ou preocupar. Mesmo que não se consiga aplicar isto sempre, há dias em que vale a pena. Hoje foi o caso.

Imagine-se Lisboa depois das férias. Imagine-se Lisboa em hora de ponta. Imagine-se Lisboa depois das férias, em hora de ponta e num dia de chuva. Imagine-se agora isto tudo e mais uma condicionante: greve do metro. Nem o cidadão mais prevenido consegue inventar estratégias para escapar a tanta adversidade. Acho que foi a primeira vez em que, no meio do caos, consegui aplicar a 100% a grande máxima: "Só por hoje não te aborreças".

Chegar ao metro e bater com o nariz na porta (porque ninguém tinha avisado que havia greve, ou se avisou fê-lo discretamente) é chato. Tentar apanhar um autocarro alternativo esperando numa fila que dá a volta ao quarteirão é tempo perdido. Pegar no carro e pôr-se a caminho revela-se estupidez (isto porque se comprova que já passaram 35 minutos e só se percorreram 200 metros dos 6 quilómetros que faltam para chegar ao destino). Bem... "Só por hoje não me vou aborrecerrrrrrrrrr!!!!!!!!!!", mesmo que devesse estar bem cedo numa reunião. Então, só por hoje vou voltar a estacionar o carro, sentar-me a ler no café - sem me preocupar com aquilo que não posso fazer - até que o metro volte a andar e eu possa ir para o emprego. Resultado: "Só por hoje não me enervei e consegui, antes de muita gente, chegar calma e relaxadamente ao meu local de trabalho, com a leitura em dia e energias para dar e vender".

Acho que há máximas que vou passar a aplicar mais vezes, mesmo que só por hoje...

quarta-feira, setembro 20

A Vida não é um Campo de Batalha

Hora da Coca-Cola light. Nada de gajos bons em andaimes do lado de fora do prédio. Muita confusão cá dentro e uma pilha de mails para dar vazão. Já lá vou. Agora preciso de respirar fundo e colocar a mente, 5 minutos, numa filosofia qualquer que não meta encenadores, actores, histórias de amar ou morrer...

Mas esta história, real, não é por si só mais bonita ou pacificadora. Quer dizer, por um lado. Que não estamos no Iraque ou em cenário de guerra já tínhamos percebido, apesar de muitas vezes dizermos que a nossa vida é um conflito pegado. A minha não é. A minha é um palco giro cheio de personagens que entram e saem (conforme cumprem a sua função) e que protagonizam histórias de diversos géneros. Há drama, sofrimento, angústia, mas também há comédia, alegria, amor e muita, muita energia. Não faço ideia qual a duração desta peça (ou deste ciclo de peças que se sucedem e, muitas vezes, sobrepõem). Só sei que o estímulo está na forma como vemos a peça evoluir e adquirir a estrutura que tanto desejámos que conseguisse ter. Uma afinação aqui, outra ali. Uma aprendizagem, um engano (que é normal mesmo num grande actor) e umas palmas no final.

Esta semana ouvi uma que não podia ser mais acertada: "a vida não é um campo de batalha". Isto não foi dito assim, mas também não interessam os pormenores. Interessa só retirar a lição de que, por vezes, lutamos sem razão como um louco D. Quixote contra uma data de moinhos que não nos vão fazer mal. Além de que um guerreiro medroso tem dois inimigos contra os quais lutar: o adversário e o seu próprio medo. Qual será o desfecho? Certamente a derrota porque parte para a guerra com a insegurança e a incerteza. No meio disto tudo, o mais pacificador é tentar interiorizar que nada pode estar contra nós porque não é isso que queremos na nossa vida, nem damos espaço para que isso aconteça. Além do mais, esta consciência - ainda que possa ser ligeiramente ilusória - dá-nos força para ir além do medo e para ter a certeza de que, caso aconteça uma "desgraça", temos connosco as armas e as ferramentas para sairmos dessa.

E pronto... Vou voltar à pilha de mails que me aguardam ansiosos até hora indefinida. Com duas certezas de momento: "a vida não é um campo de batalha" e "nada mais existe do que o presente" (e este, para mim, é laboralmente penoso...).

PS - Eu disse que ia fugir aos actores e encenadores, mas acabei por servir-me deles. Acho mesmo que é um sinal: "oh, miúda! Estamos aqui à espera que nos pegues e escrevas sobre nós! Deixa-te lá de filosofias :)".

segunda-feira, setembro 18

A liberdade de ser quem se é

Há momentos na vida para esquecer. São imprevistos, confusos, magoam, não fazem sentido nenhum. Mas há outros que nós já sabemos como vão terminar. Desconhecemos o dia e a hora em que tudo se transforma, mas conhecemos o desfecho. Devo confessar que esta consciência me agrada. Apesar do luto da perda (que é necessário fazer em qualquer área de vida) há uma luz de presença que nos indica que esta situação acabou porque há uma melhor e mais gratificante preparadinha para entrar. E é aí que entra a liberdade de ser quem se é.

Mesmo que nem sempre pareça, as pessoas têm a opção de conduzirem o rumo das suas vidas. Face a uma situação desconfortável e trágica, há sempre a opção de chorar sobre o leite derramado ou de pegar nas armas e seguir em frente (com o devido período de luto e digestão da tragédia). Noto que tomo consciência disso quando me sinto completamente insatisfeita e me apetece mudar de rumo. Às vezes é preciso bater no fundo para ir ao baú secreto buscar todas as forças essenciais de mudança. E acredito que seja assim com todas as pessoas. O que acontece é que todos têm direito à liberdade e isso implica que a minha liberdade termine onde começa a do outro. No caso de falarmos de necessidades e preferências diametralmente opostas, estamos na presença de uma gestão de liberdade um bocadinho acima daquilo que, se calhar, gostávamos para nós. O importante é não deixarmos que as situações nos controlem e esmoreçam. Convém conseguirmos, ao máximo, controlá-las e estarmos acima delas... Dito assim, até parece fácil...

sexta-feira, setembro 15

Encontra o homem...

Sim, eu sei que esta é lamechas... mas é bonita...

"Encontra o homem que te chama gira, em vez de boa...
Que te telefona de novo quando lhe desligas o telefone na cara...
Que fica acordado só para te ver dormir...
Espera pelo homem que beija a tua testa...
Que fica de mãos dadas contigo à frente dos amigos...

Espera pelo homem que te está constantemente a lembrar o quanto significas para ele... e da sorte que ele tem em te ter...

Espera por aquele que se vira para os amigos e diz... 'É aquela...' "

Um dia destes, em conversa com um amigo sobre a insegurança das mulheres, ele disse-me uma coisa verdadeira (eu acho, pelo menos) que não foge muito ao que atrás transcrevi. Dizia ele que a nossa insegurança é infundada porque alguém que gosta de nós de verdade pode ter ao lado a mulher mais bonita do mundo e ser assediado de mil e uma maneiras, mas nunca por nunca se esquecerá do que sente por nós e não meterá a patinha na poça. Da mesma forma que nada garante que um tipo no deserto, sem quase ninguém à volta, não nos troque por outra (ou por um camelo :) ). Queria ele dizer que não é o facto de se ter certas profissões e de se estar rodeado de determinadas pessoas - que nós, mulheres apaixonadas, consideramos 'perigos' - que leva alguém a ser infiel ou a trocar a mulher que ama. Da mesma forma que, como a vida está em constante mudança, não é garantido que as relações sejam para sempre (mesmo isolada do mundo e numa redoma, uma pessoa pode perceber que deixou de gostar, que não lhe apetece mais e que vai partir para outra).

A mim continua a parecer-me que é difícil incutir este espírito de total tranquilidade nas mulheres. Acho que, por um lado, estamos escaldadas e desconfiamos dos homens; por outro lado, nem sempre os "nossos" homens nos fazem sentir seguras e confiantes...

quarta-feira, setembro 13

O que tem de ser é mesmo?

Esta é uma dúvida recorrente na vida das pessoas lutadoras que se confrontam, volta e meia, com obstáculos que parecem intransponíveis. Se calhar, na verdade, eles não são impossíveis de contornar. O que acontece, muitas vezes, é que há coisas que já não nos fazem falta nenhuma, mas que teimamos em manter agarradinhas na nossa vida. Com medo de perder ou de não ter as condições suficientes para que a vida siga em frente, nem damos conta de como já não precisamos de manter aquele emprego, aquele hábito ou determinada estrutura.

Uma coisa que me ensinaram - mas também posso dizer que tenho vivido na pele a sua acção - é que o que já não nos faz falta e teimosamente tentamos agarrar acaba por sair de rompante das nossas vidas. Sem que tenhamos tempo para perceber que está a ir ou pensar porque se foi. Foi-se. De uma forma estúpida, inesperada e sem razão aparente.

Hoje, depois de uma noite pouco dormida e de um dia cansativo, faltava-me mesmo entrar no mail e receber essa notícia. Foi-se. Por acaso acho que até já percebi a razão e fez-se luz cá dentro sobre quais as melhores soluções a adoptar. Mas dá que pensar. De vez em quando criam-se tempestades nas nossas vidas que varrem tudo de uma assentada. Tínhamos acabado de cair e estávamos quase a levantar-nos. E é nessas alturas que há-de vir algo ou alguém que nos empurra de novo.

Penso que neste jogo de conquistas e contrariedades não há grandes segredos. A vida é assim, as pessoas caem e levantam-se (demorem pouco tempo ou uma eternidade). A grande chave de mudança, mesmo, é a atitude com que, depois de cairmos, nos tentamos levantar. Uma vez disse que achava que já nada me surpreendia. Wrong! Há sempre algo que acaba por me apanhar de surpresa. E custa sempre. Mas também verifico que, em cada repetição, demora menos tempo a passar. A grande descoberta - que sempre pensei impossível - é que é mesmo verdade que pode o mundo desabar à nossa volta e a serenidade interior manter-se. Segredos? Truques? Não sei. Acho que passa por aceitar que a vida é assim, que virão dias melhores e que um guerreiro pode perder batalhas, mas que isso não significa que tenha perdido a guerra.

terça-feira, setembro 12

As Mulheres do Sec. XXI - Again...

Nunca é em demasia falar desta nova "espécie" de mulheres que tanto os homens temem e contra quem, muitas vezes, tentam fincar pé e fazerem-se de palermas. A palermice tem limites. Como todos devem calcular, ser mulher não é fácil. Já não o é pelas características que definem o sexo feminino e torna-se mais complicado ainda porque o sexo masculino existe.

"Ó Boa!", "Coisinha fofa!", "Comia-te toda" - e outras expressões mais rasteirinhas que todos bem conhecem e que não vale a pena dissecar aqui - são "elogios" (sim, os palermas devem achar que nos estão a fazer bem ao ego) que ouvimos diariamente e que já causam náuseas. Gostava mesmo que esses totós imaginassem que, no lugar deles, estão outros homens e no lugar da "vítima" estão as mulheres deles. AH! A coisa muda ou não muda de figura? E isto faz-me saltar logo para outro tema de que as mulheres do século XXI são vítimas: o julgamento por parte dos homens. Sim, porque a emancipação sexual das mulheres veio colar-lhes na testa o rótulo de "putas" se a sua experiência sexual se for alargando. Tiveste mais do que um homem? (parece-me que actualmente, a partir dos vinte e tal, ninguém está à espera de ser o primeiro a menos que se plante à porta de uma escola...) Se o número de parceiros sexuais for aumentando, desce a credibilidade dessa mulher na lista de ética de um homem. De um mesmo homem - hiper ético e moralista, note-se - que "comeu" umas 50, mas que para ele quer uma mulher "séria" (vá-se lá a saber o que isto é!).

Ora meus amigos, isto já me começa a chatear. Hoje, em conversa, percebi que há muitas mulheres a queixarem-se desta manifesta incongruência dos homens e há muitos homens a terem ataques de histerismo porque não foram os primeiros. Deixem-me tentar explicar-vos uma coisa: a vida das pessoas não é linear e bonita como num conto de fadas. Há histórias complicadas, vidas de merda, cuja aprendizagem passa por aquilo que muitas pessoas desejariam não ter... mas não conseguem evitar. Lembro-me da história de uma prostituta que foi tirada das ruas por um cliente que por ela se apaixonou. E isto, sim, eu acho um acto de verdadeiro carácter. Esta mulher nunca se livrará do passado, mas também não merece ser crucificada por uma vida que viveu e que, se calhar, teria evitado se as circunstâncias da altura fossem outras.

A treta toda é que esta sociedade é machista. Mas os homens são fracos e inseguros e precisam das mulheres, entre outras coisas, para se auto-afirmarem. O que, para eles, descamba rapidamente em "põe a patinha em cima". Admiram a coragem e a independência de algumas mulheres (em muitos casos é tudo o que gostariam de ser, mas não conseguem), mas fogem delas a sete pés. É natural rejeitarmos tudo o que nos mete medo. O que deixou de ser natural, mesmo que a sociedade seja machista, é discriminar mulheres pelo número de parceiros sexuais que tiveram. Aquela treta de "esta é para brincar, a outra é para casar" era ouvida no tempo do meu avozinho (que Deus o tenha, coitado) e deixou de fazer sentido. Porque, em primeiro lugar, não se brinca com as pessoas; em segundo lugar, há qualidades muito mais importantes para fazerem de alguém uma pessoa valiosa do que o número de parceiros que teve.

Sinceramente, acho que esta distinção entre homens e mulheres eu nunca vou entender. Se ele teve várias é um garanhão; se ela teve uns quantos é uma "mulher fácil". Também a nós nos pode fazer confusão que o nosso companheiro tenha andado a saltar de cama em cama, sem qualquer tipo de critério. Porém, não é por isso que deixamos de perceber que foi a história dele e que o que importa é que, agora, sejamos as únicas com quem ele se deita. Não seria mais fácil e mais bonito da parte dos homens fazerem também esta avaliação?! Uma coisa é comer um gajo diariamente a cada refeição (e mesmo assim não há desculpa!). Outra, completamente diferente, é ter vivido ao longo dos anos uma vida que implica experiências, sofrimentos, aprendizagens e,por vezes, alguns desencontros... Além de que esses homens serão pais um dia - quem sabe de meninas - e podem sofrer na pele aquilo que fizeram outras passar. Se bem que também me parece que a culpa destes homens serem assim é das suas mãezinhas. O que levará a que as "mulheres do século XXI" se apliquem na educação dos seus meninos...

segunda-feira, setembro 11

Realidade e ilusão

A realidade e a ilusão andam de mãos dadas, acompanhadas das expectativas que se têm em relação às pessoas e aos acontecimentos da nossa vida. Como já aqui referi um dia, "não há memória de que alguém se tenha desiludido sem que se tivesse iludido primeiro". Muitas vezes achamos que já estamos preparados para ter uma determinada experiência e, na realidade, estamos iludidos. Ou porque queríamos muito que ela funcionasse e que a nossa vida mudasse rapidamente, ou porque projectamos nos outros e na vida os nossos desejos mais profundos que ainda precisam de tempo para germinarem.

Comigo acontece-me variadas vezes. A mentira, a desonestidade e o magoar o outro gratuitamente não fazem parte do meu léxico. Como tal, é natural que projecte nos outros a ausência destas características. Para mim, as pessoas têm a obrigação de serem honestas, verdadeiras e respeitadoras do outro mas, acima de tudo, de si próprias. Porém, o que se verifica é que é preferível o refúgio na cobardia e na mentira, que é manifestamente mais fácil do que atitudes que nos exponham e que nos possam tornar frágeis.

Nos últimos dias tenho verificado que, de facto, há características que existem em mim e das quais me orgulho, mesmo que não seja correspondida nessa honestidade e nessa clareza que me parecem ser as reais bitolas da existência humana. Isto para dizer que cada um de nós se pode ir apercebendo do que tem dentro e do que desenvolveu com o tempo, mas normalmente precisa de experiências e de vivências que o demonstrem. Verifiquei, também, que a força interior é de um poder impressionante e que a vida nos repõe toda a serenidade e toda a paz de espírito quando nos harmonizamos com quem somos e quando temos atitudes limpas, honestas e de carácter. As ilusões podem transformar-se em desilusões, mas à tona vem a manifestação da realidade que somos e que, por vezes, esquecemos.

sexta-feira, setembro 8

Quando a Chuva Passar

"Pra que falar?
Se você não quer me ouvir
Fugir agora não resolve nada

Mas não vou chorar
Se você quiser partir
Às vezes a distância ajuda

E essa tempestade um dia vai acabar
Só quero te lembrar
De quando a gente andava nas estrelas
Nas horas lindas que passamos juntos
A gente só queria amar e amar
E hoje eu tenho certeza

A nossa história não termina agora
Pois essa tempestade um dia vai acabar

Quando a chuva passar
Quando o tempo abrir
Abra a janela e veja: eu sou o sol
Eu sou céu e mar
Eu sou seu e fim
E o meu amor é imensidão

Só quero te lembrar
De quando a gente andava nas estrelas
Nas horas lindas que passamos juntos
A gente só queria amar e amar
E hoje eu tenho certeza
A nossa história não termina agora
Pois essa tempestade um dia vai acabar

Quando a chuva passar
Quando o tempo abrir
Abra a janela e veja: eu sou o sol
Eu sou céu e mar
Eu sou seu e fim
E o meu amor é imensidão

Quando a chuva passar
Quando o tempo abrir
Abra a janela e veja: eu sou o sol
Eu sou céu e mar
Eu sou seu e fim
E o meu amor é imensidão"

Ivete Sangalo

quinta-feira, setembro 7

O coração não engana

Há pensadores que defendem que todas as decisões que tomamos vindas de dentro não têm como ser más apostas. Muitas vezes, no meio do turbilhão dos nossos problemas, pedimos ajuda (ou conselhos) a quem nos está mais próximo e a quem achamos que nos pode ajudar ou fazer ver um pouco mais da verdade. Quando se está perante um bom conselheiro, a pessoa invariavelmente dará a sua opinião, mas responderá que a solução está dentro de quem fez a pergunta.

O que chateia é que não é tão fácil assim ter acesso à resposta, ao que vai cá dentro. Por norma estamos turvados pelo passado doloroso, pelas condições da nossa vida, pelas pessoas que nos rodeiam, pela opinião exterior, etc, etc, etc. Como resultado, fazemos muitas vezes aquilo que não queremos porque também não tivemos tempo de sentir o que seria melhor.

Um dia houve alguém que me ensinou um exercício. "Escolhe um local calmo e descontraído. Pensa na pergunta que gostarias de ver respondida (cuja resposta só poderá ser "sim" ou "não"), repetindo-a alto. Diz "sim" e respira bem fundo. Diz "não" e respira bem fundo. O que te fez sentir mais confortável? Aí está a tua resposta...". Se o ambiente não permitir, podemos sempre fazer este mesmo exercício no meio da confusão, mas para isso é determinante um enorme auto-controlo.

Eu acredito, MESMO, que o coração não engana e que quando falamos a linguagem do amor os resultados são maravilhosos. Só que sei, por experiência vivida, que nem sempre conseguimos essa conexão e, em lugar de fazermos o que seria melhor para nós, acabamos por fazer nem sei o quê... uma mistura de orgulho com ego estúpido que nos levou a meter os pés pelas mãos e que, por vezes, leva a que seja tarde demais conseguir voltar atrás.

Gostava que alguém me refutasse aqui esta teoria em que acredito: "Se as decisões da nossa vida forem tomadas a partir de dentro, com base naquilo em que SENTIMOS ser o melhor, esquecendo o ruído da mente e o que aparece de fora, o sucesso é garantido."

Sem confundir DESEJO com o que realmente se SENTE e nos deixa em paz, seria interessante descobrir alguém que tivesse entrado nesta mágica conexão e, mesmo assim, tivesse dado o passo errado... Queimava já todos os livros em cujas fontes eu bebi...

Contigo

"Toda la sal
todo el azucar
todo el vino
toda mi vida, solo deseo vivirla contigo.

Toda la luz
todo el oscuro
todo lo que escribo
todo el camino, ardo en deseos de andarlo contigo.

Con tu amor siento calma
y a la orilla del río
tu calor se me agarra y me llenas el alma de luz y rocio.
Con tu amor siento ganas
en los cinco sentidos
y me llevas tan lejos que apenas recuerdo de donde venimos.

Todo le calor
todas las nubes
todo el frío
toda la lluvia, ardo en deseos de mojarme contigo.

Todo el amor
todo el recuerdo
todo lo que olvido
todo el silencio, se hacen canciones durmiendo contigo.

Con tu amor siento calma
y a la orilla del río
tu calor se me agarra y me llenas el alma de luz y rocio.
Con tu amor siento ganas
en los cinco sentidos
y me llevas tan lejos que apenas recuerdo de donde venimos.

Todo el sabor
todo el perfume
todo lo que ansío
todos los mares, solo deseo navegarlos contigo.

Todo sin más
la eternidad también la pido
vida o castigo solo deseo tenerla contigo
vida o castigo solo deseo tenerla contigo
vida o castigo solo deseo morirme contigo"

quarta-feira, setembro 6

A nobreza de um "eu gosto de ti"

Há alturas em que a vida nos convida a experimentar o desapego e o verdadeiro significado de "eu gosto de ti". Acima das carências e das vontades do ego está a certeza de que há momentos que merecem ficar com o carimbo da alma. Momentos intensos, de troca verdadeira, impossíveis de apagar, que nos podem levar a fazer figuras tontas. Mas como é dito no tal livro do ratinho que ando a ler ("A Lenda de Despereaux"), "o amor é ridículo". Em nome dele - quando é verdadeiro - vale a pena correr riscos. Vale a pena ousar fazer figura de parvo no meio da multidão e, sobretudo, perante a pessoa a quem queremos dizer realmente "eu gosto de ti".

Sempre aprendi que mais vale arrependermo-nos do que fizemos do que daquilo que nunca chegámos a fazer e podíamos ter feito. É aqui que me parece que se pode atingir a tranquilidade nas relações. A certeza de que se fez o que se podia em prol do amor. Para que ele resultasse, para que se tornasse maduro, para que crescesse. Quase que parece uma aula de dança. Se aprendemos a dançar com um professor e depois nos mudamos para outra turma - que aprendeu outros passos - sentimo-nos meio desajustados. Porém, se fazemos mesmo questão de continuar a dançar, é evidente que vamos aprender estes novos passos para que consigamos bailar todos em conjunto. No início, é natural misturarmos tudo e juntarmos passos que para ali não são chamados. Mas a vontade de entrar na dança é tanta que acabamos por treinar até que consigamos a harmonia. Este treino pode levar dias, meses ou até mais. Depende da dedicação, do investimento, das vezes que vamos aos treinos. Na minha área profissional, diz-se que o nosso trabalho é 10% de inspiração e 90% de transpiração. Não será assim também o amor? Deixemos para os contos de fadas a existência de príncipes encantados e a felicidade como constante. Isto para dizer que, mesmo que o amor seja ridículo, há aspectos que é importante pacificar, correndo o risco de nos estatelarmos ao comprido.

Por vezes nem nos apercebemos o quanto gostamos das pessoas. Refiro-me àquele gostar desinteressado, em que o que impera é a preocupação com o outro e o desejo de que ele fique bem. Então é aí que alguém pergunta: "gostas de mim? gostas dele/a?". E nós paramos para pensar... Erh... Pois... Mas gostar como?! Bem, GOSTAR. Ou se gosta ou não se gosta (e isto não é a mesma coisa que um hambúrguer ou um bife com batatas fritas, que umas vezes comemos mal passado, outras melhor, outras ainda com um tempero que não é habitual, mas que marcha). Aqui trata-se de ser neutro ou de nos perturbar (também no bom sentido, entenda-se), de mexer connosco. Quando percebemos que mexe connosco não porque temos medo de perder (isso já é quase um hábito, pois perdemos tantas batalhas ao longo da vida), mas porque não nos é neutro, porque gostamos de verdade, corremos o risco do ridículo. Só acontece uma de duas coisas: ou caímos de chapa (e do chão não passamos, por isso não é assim tão grave) ou desbravamos caminho para algo muito mais valioso e construtivo.

Mas o "eu gosto de ti" tem o outro lado. Aquele que magoa, mas que faz parte deste pacote. O outro tem toda a liberdade de dizer: "pois, eu não gosto de ti" ou "pois, eu gostava, mas deixei de gostar de ti". É o preço a pagar. E o verdadeiro "eu gosto de ti" inclui a liberdade do outro escolher o caminho que quer tomar. Que pode muito bem ser seguir a jornada sem nós. Quando o "eu gosto de ti" é verdadeiro, a atitude certa é deixá-lo partir sem rancores porque tudo o que queremos é o seu melhor, que pode estar noutra experiência, noutra pessoa, noutra situação.

O importante, mesmo, é deixar estas experiências na alma, bem dentro de nós, com um carimbo que diz "positivo". O "eu gosto de ti" verdadeiro tem nobreza. Se ela não existir é porque não era um sentimento da alma. O "eu gosto" dos hambúrgueres ou dos bifes com batatas fritas é aquele em que tanto faz que se coma nesta ou naquela tasca. Não importa a experiência, o que conta é que se coma o raio do bife e se fique saciado. O "eu gosto de ti" verdadeiro implica saciar uma fome maior: a que está cá dentro e que, por isso, é bem mais difícil (mas não impossível)de matar. É poder dormir descansado porque se fez o que era suposto para que bons momentos permanecessem como tal, preservados num jardim secreto que nenhuma palavra, nenhuma briga ou nenhuma pessoa podem anular.

O resultado pouco importa. Até porque não podemos mudar os outros nem controlar os seus sentimentos. Além disso, nunca se sabe quando é que a aprendizagem que era suposto fazer ali chega ao fim. Pode ter sido o momento. Pode haver ainda muito mais para viver...

terça-feira, setembro 5

E eles não percebem...

Eles não percebem que quanto mais nos ignoram, mais nos dão espaço para percebermos que, se calhar, eles não nos fazem falta nenhuma porque conseguimos sobreviver muito bem sozinhas.

Eles não percebem que se fizerem um esforço para promover o diálogo e a concórdia ganham pontos e abrem portas para algo maduro, construtivo e muito gratificante.

Eles não percebem que se não forem aumentando o lume e pondo achas na fogueira, depressa o que era quente e interessante se torna morno e muito pouco apetecível.

Eles não percebem que, se deixam tudo ficar morno, morre o desejo e a vontade de ficar.

Eles não percebem que não adianta acusarem-nos e dizerem que não os comprendemos (pelo menos a algumas) quando o que deviam era assumir que também erram e que, se calhar, desta vez são eles que não estão a fazer a coisa certa.

Eles não percebem que bom sexo é sinónimo de intimidade e de uma relação gratificante aos outros níveis, em que se sente desejo e entusiasmo. Morrendo o que está fora, o resto deixa de nos apetecer (depois ofendem-se quando lhes é dito "hoje não, dói-me a cabeça". Isto porque se ferem se lhes for dita a verdade).

Eles não percebem que mulheres inteligentes odeiam desculpas esfarrapadas e abominam que as tentem fazer passar por parvas quando as evidências estão bem ali. Além de não perceberem que mulheres inteligentes já lhes apanharam os truques de argumentação (porque também elas os dominam).

Eles não percebem que tudo é possível de ser feito quando se quer mesmo.

Eles não percebem que as mulheres os tentam perceber, mas que também querem (e merecem, porque é justo) ser compreendidas.

Eles não percebem que às vezes uma mensagem, um telefonema ou um olhar (quando se está perto) faz a diferença e vale mais do que uma fortuna em prendas e recompensas.

Eles não percebem que dizerem que não têm tempo para umas coisas (normalmente nós e as nossas) e conseguirem arranjar tempo para outras (as deles e o que gostam de fazer) é altamente egoísta, ofensivo e muito mau presságio.

Eles não percebem que há alturas em que têm de calar o orgulho, reconhecer que foram uma nulidade e dar a mão à palmatória. A bem da harmonia. Que se saiba, todos os humanos cometem erros. Deviam aprender com eles e mudar. Mas, para isso, é imprescindível que tenham a humildade de os reconhecer.

Eles não percebem nada de sinais. E o pior é que não fazem o mínimo esforço para perceber.

Afinal... o que é que eles percebem? Que são assim, que não querem nem vão mudar, que não gostam de ser pressionados, que eles é que têm a faca e o queijo da mão. De facto, há pessoas para tudo. Mas também há pessoas que dão um murro na mesa e atiram tudo ao chão. Porque se fartaram, porque não sabem mais o que fazer em nome do entendimento e da conciliação, porque se sentem completamente incompreendidas e insatisfeitas.

Ainda o Amor

Hoje está a ser um dia particularmente difícil. O trabalho amontoa-se no mail e na secretária e há que dar-lhe vazão. Eu consigo (como, aliás, consigo de todas as outras vezes), mas à medida que vou organizando a papelada e fazendo o exercício matinal de actualização da informação, vou descobrindo mais e mais coisas sobre o amor.

Realmente, ele deve andar pelas ruas da amargura tal é a frequência e a intensidade com que se referem a ele. Desta vez, vem na Notícias Sábado (do "Diário de Notícias"). Na polémica crónica O Sexo e a Cidália, a autora (suponho que seja mulher pela forma como tão bem transmite os sentimentos femininos) escreveu um texto que intitulou de "As coisas com que se faz o amor". Além de falar que não se deve voltar a dormir com ex-namorados (porque se a relação acabou, o sexo já se "tinha esgotado há muito"), ela tem esta tirada:

"Apercebo-me nestes dias da aridez em que tantos casais vivem. Pisam um território imaculado (seco, no entanto) em que nenhum se permite ser ele próprio, renunciando às suas imperfeições perante a presença do outro. Atrevo-me a dizer que estas pessoas nunca vão saber o que é um grande amor. Escondem pequenas e grandes angústias. Não perguntam na hora da dúvida (a não ser se o vestido assenta bem) e não arriscam na hora da partilha. Descobrir, anos depois, que a pessoa com quem vivem mantinha há muito uma relação extraconjugal não as pode surpreender. No momento da dúvida, não perguntaram por pudor; e ao pudor começaram a chamar respeito. 'Gosto de respeitar o meu parceiro'. Para mim, respeitar é ir ao fundo da intimidade que nos envergonha e voltar de lá com mais paixão. Há uma intimidade que nos causa embaraço, não há? Essa é a melhor quando é vencida".

Grande Cidália! O problema é que há poucas pessoas realmente capazes de serem honestas consigo e com aquilo que precisam. Assumir isso é correr o risco de seguir sozinho, de não ter quem nos diga coisas bonitas, de voltar para casa e o telefone não tocar porque já não existe na nossa vida quem nos fazia o telefonema. Isto é assim a curto prazo porque uma pessoa habitua-se (como sempre e em tudo, aliás). A longo prazo, é um respirar de alívio por não ter perpetuado uma situação que não nos deixava respirar nem nos permitia ir ao máximo das nossas capacidades. Esse, para mim, é o grande desafio da vida e das relações. Ir ao máximo de mim própria. Conseguir cumprir-me. E isso, obviamente, não passa por saber que posso mais e melhor, mas que me contento com isto. "Oh God, make me good, but not yet"... diz a Cidália...

Sobre o Amor

Muito se tem escrito e dito sobre o amor. Muitas imagens e padrões de comportamento se têm incutido nas pessoas como sendo "a fórmula certa". Um destes dias vinha eu no carro a ouvir música e num daqueles momentos de parar para pensar que a RFM tem, eis que o tema do pensamento era o amor. Citando um filósofo e a sua definição deste sentimento, aquela voz pausada disse que, ao contrário do que vemos nos filmes e nas revistas do coração, o amor não é sempre lindo nem tem apenas momentos felizes. O amor, dizia ele, é um caminho que se vai percorrendo aprendendo a compreender o outro, a ceder, a adaptar-se, a criar concórdia.

Se bem que a um nível ideal o Amor seja liberdade, confiança, serenidade, paz de espírito, altruísmo puro, dedicação, amizade, etc, etc, etc... a um nível prático o amor talvez seja uma permanente adaptação aos momentos da vida e ao que ela nos chama a viver. Parece mesmo que falar de amor está na moda. Também há poucos dias, uma revista feminina reflectia sobre as razões pelas quais umas relações resultam e outras não. E, ao que parece, as que duram mais são aquelas em que há uma forte comunicação e um entendimento mútuo. Se alguém me diz que o que eu digo ou faço o magoa, se eu o amo será normal que tente alterar esse comportamento para que o consiga fazer feliz.

Dizia Leibniz que "Amar é regozijar-se com a felicidade de outrem". Para isso é preciso que estejamos atentos ao que o outro precisa para ser feliz, que consigamos ter um nível de comunicação elevado para ser possível chegar ao outro e, já agora, que estejamos disponíveis para fazer as devidas alterações e adaptações que tornem possível tudo o que anteriormente foi dito.

O que realmente me lixa e desgosta nesta treta toda do amor, é que nem sempre ambos estão dispostos a fazer cedências. Há sempre alguém que acha que merece ser mais compreendido do que outro, mais aceite tal e qual como é. Assim sendo, o que faz o outro (o que está disposto ao consenso e à adaptação)? Anula-se? Depende. Há casos em que sim. No meu caso concreto, desisto. Quando se percebe que, por muito que se diga que nos estão a magoar com certas atitudes, as pessoas não fazem esforços de mudança, é porque estão auto-centradas e não vêem nada para além do seu egoísmo. Ou seja, não estão dispostas a regozijar-se com a felicidade do outro porque nem sequer fazem o que seria suposto para que ele se sinta feliz. E às vezes nem é preciso muito... Tudo o que é morno acaba, mais tarde ou mais cedo, por dar de si, por ficar frio. A menos que seja de imediato posto ao lume. Mas nunca em banho-maria! Odeio banhos-maria. Acho triste da parte de quem o aceita e muito pouco revelador de carácter da parte de quem o faz. E não é que olho em volta e grande parte do que vejo é lume brando?! O que aconteceu a estas chamas que nem se conseguem mudar para lume alto? Seja qual for a resposta, um livro muito engraçado chamado "A Lenda de Despereaux" refere, a páginas tantas, que "um destino interessante aguarda quase todos, ratos ou homens, que não se conformem". Eu sou uma inconformada e abro mão de tudo (ou todos) os que não me fazem feliz. Será mesmo que, o que me espera, é um destino interessante?! Pois... talvez mais tarde (um dia, lá à frente) vos venha aqui falar disso. Por enquanto, vou continuar a não me conformar com o que me faz ficar "morna".

sexta-feira, setembro 1

Para além das aparências

Eu sou das que acredita que existe algo para lá do aqui e do agora. Eu sou das que acredita que temos, dentro, a capacidade de mudança e as armas para combater a adversidade. Eu sou das que acredita que há razões na vida que a própria Razão desconhece e que, por isso mesmo, não devemos ignorar nem resistir ao que sentimos e ao que a nossa consciência nos diz que está a acontecer connosco.

Deepak Chopra tem um livro que eu recomendo (apenas a quem se interessa por perceber o sentido "oculto", profundo da sua vida), chamado "O Livro dos Segredos", em que fala das dimensões ocultas da vida, dos mecanismos inconscientes que ocorrem e que nos pederão ajudar se tomarmos consciência deles.

Um dos segredos defendidos por Chopra é que "Já Somos Aquilo que Procuramos". Eu também acho. Mas, se assim é, qual a razão de teimarmos procurar fora o que, aparentemente, temos dentro? Além disso, se todas as soluções se encontram em nós, por que é que temos crises que não compreendemos e, muitas vezes, sofremos e não nos sentimos bem, mesmo que tenhamos todas as condições para sermos felizes? Chopra diz que esse é o percurso natural de uma caminhada de desenvolvimento pessoal, em que nunca nada é estanque e tudo está em constante evolução e mudança. É como tentar encontrar um local num sítio que desconhecemos. É normal perdermo-nos porque nunca ali estivemos. Sabemos para que zona nos queremos dirigir, mas por vezes temos de parar pelo caminho para ver o mapa ou perguntar a alguém. É o mesmo com as nossas vidas.

Chopra, inclusive, aconselha a que cada um encontre uma testemunha silenciosa, que ajuda a perceber aquilo por que passamos (porque a isso assiste) e não nos julga como acontece com as pessoas que nos são exteriores. Claro está que essa testemunha silenciosa somos nós próprios. Reside no interior de nós. Ele dá, também, sugestões para encontrá-la cá dentro:

1 - Siga o fluxo da consciência.
2 - Não oponha resistência ao que está a acontecer dentro de si.
3 - Abra-se ao desconhecido.
4 - Não censure nem negue o que sente.
5 - Vá para além de si.
6 - Seja autêntico, diga a sua verdade.
7 - Faça do centro o seu lar.

(De referir que, quando ele diz "centro", remete para o que temos cá dentro, o mais genuíno, o mais verdadeiro de nós próprios)