terça-feira, outubro 31

Manipular para controlar

São várias as técnicas de manipulação – mais ou menos subtis – que podem ser utilizadas em diversos cenários e com diferentes objectivos. Muitas delas aprendem-se nos cursos de gestão de recursos humanos (sim, é verdade) que se oferecem nas empresas; outras adquirem-se, pelas mentes mais deformadas, ao longo de uma existência em que manipular e controlar o outro é a única forma aceitável de viver e de vencer na vida. Diria eu que é a lei do mais fraco porque os fortes chegam lá pelo seu poder e carisma naturais.

Deitar abaixo para, logo de seguida, sair em defesa do agredido, é uma das técnicas mais comuns e que, realmente, funciona com os mais desprevenidos. Funciona por desgaste de quem vive neste jogo do pega-monstro. Quem é atirado à parede para ser protegido e acarinhado quase de seguida, cai na teia da inconstância que gera baralhação, sentimento de culpa e de não se saber quem se é. Ora por que será que as vítimas de violência doméstica são pessoas sem auto-estima? Porque essa é a primeira função do manipulador: tirar à pessoa a certeza de quem ela é e fazê-la crer que é “nada” para depois se aproximar e valorizar. Pensem lá comigo: quem acha que é “nada” e tem alguém ao lado que a valoriza e acarinha, vai acabar por querer depender desse conforto e desse feedback exterior (logo, depender dessa pessoa). E já está feita a rede da qual é muito difícil sair, senão quase impossível, pois não faltará a hora em que o manipulador tentará derrubar de novo a vítima sempre que ela se tentar levantar.

Outra das técnicas de manipulação evidentes – que muita gente devia ter vergonha na cara de utilizar porque está gasta de tanto uso – é a tentativa desmesurada de protecção: o doce e romântico paternalismo. Não há pachorra para tanta palmadinha nas costas, para tanto elogio e para tanto dizer que “sim” a tudo. Quem diz que “sim” a tudo não está a ser sincero, sobretudo consigo. Porque as pessoas não são iguais, pensam diferente e têm motivações diferentes, logo, é impossível estarem sempre de acordo.

Entre estes extremos dos “lobos” com pele de cordeiro e dos paizinhos que estão é carentes e a precisar de protecção, há uma panóplia de manipulações que se vão fazendo no dia-a-dia e ao longo da vida. E enquanto vamos satisfazendo egos e alimentado o “Eu” com ilusões de poder que não passam disso mesmo, vamos magoando pessoas que a única culpa que têm no processo é a de acreditarem no amor, nos valores e na honestidade das pessoas. Solidarizo-me com todos os que, neste momento, se sentem “nada” porque alguém lhes fez crer isso (mesmo que para mim, felizmente, isto não seja válido, consigo perceber a gravidade da situação). Acredito, porém, que é possível reverter todo o processo com muita força de vontade e com um “não” redondo sempre que uma destas situações se atravessa no caminho. A auto-estima não reside, na minha óptica, em jogar vólei com o ego, mas em saber, a cada momento, o que é o mais correcto para nós e o que nos faz mais felizes. Tudo o que está abaixo ou fora disso, é mesmo para ficar assim: longe e do lado de fora.

segunda-feira, outubro 30

Dá-me licença, por favor?!

A vida é mesmo curiosa. Há momentos em que tudo se conjuga num determinado sentido e, quer queiramos quer não, somos empurrados para lá. Sejam relações, oportunidades de emprego, questões de fundo que temos de trabalhar em nós, etc, etc, etc.
Arrisco-me mesmo a dizer que não vale a pena tentar ignorar os empurrões da vida e fingir que não é nada connosco. Para o bem e para o mal.

Mais incrível do que isto é que, quando determinada "coisa" está mesmo prestes a acontecer nas nossas vidas, os cenários podem ser múltiplos, mas há uma data de personagens que se pôem a jeito para que nós cumpramos o que é suposto. E depois, perante tanta abertura e expansão repentina, fica-se meio à toa e não se sabe muito bem que ramo pisar. O mais incrível, ainda, é que quando se escolhe um ramo que se parte (porque não era por ali), os outros raminhos todos agitam-se e dizem: "Dá-me licença, por favor?! Deixe-me entrar..." E surge a escolha difícil: ora, que ramo vou eu pisar agora? E se ele se parte?! Bem, se ele se parte pelo menos fico com a certeza de que não era por ali...

sexta-feira, outubro 27

A importância de respirar

Que respirar é viver não é novidade nenhuma. Mas que respirar mal é origem de doenças, de inquietação e de desnorteamento, não é evidente para toda a gente. Quantas vezes acompanhamos o ritmo da nossa respiração, percebemos como respiramos e, em consequência, sentimos o bater do coração? Poucas ou nenhumas. Respiramos mal, vivemos mal e sentimos mal.

O convite de hoje é sentir a respiração, perceber como essa percepção nos vai acalmando aos poucos e nos vai fazendo conectar com algo muito, muito importante: o coração (esse senhor que nos mantém vivos, que sente, que se parte e magoa de vez em quando e que, por isso, precisa de ser bem tratado).

O não respirar (a um nível mais abrangente pode ser, também, ter uma vida cheia de coisas que não nos satisfazem, mas que nos mantêm ocupados) é uma forma de perder a sanidade. Às vezes apetece parar o mundo, dar um gritinho e dizer "basta". Quando se chega a este extremo é porque, realmente, tudo o que precisamos é de uma boa respiração...

quinta-feira, outubro 26

Equívocos involuntários

Se ainda tinha dúvidas, hoje fiquei com a certeza de que muitos dos mal-entendidos que surgem nas nossas vidas podem ter causas involuntárias. Decididamente, hoje não era um bom dia para comunicações (talvez a vida achasse que eu merecia descanso depois de alguns momentos de desgaste).

Começo a rede de equívocos com um telefonema em que me é dito "O teu pai ligou-te, mas não atendeste. Quando puderes, liga-lhe". O quê? O meu pai ligou-me? Mas não tenho, em nenhuma das redes móveis, chamadas não atendidas. Bem, podia estar no elevador ou no metro, mas também não recebi qualquer mensagem de tentativa de contacto... Ok, vou já resolver isto.

Prossigo a rede de equívos a apanhar um susto porque recebo no meu telemóvel uma mensagem que enviei há 2 dias para outra pessoa. Fiquei baralhada: "Terá a pessoa feito um reenvio da mensagem para mim? Mas vem incompleta e não acredito que a pessoa fizesse isso".

A rede de equívocos continua quando recebo, ao final da tarde, uma mensagem que marcava ter sido enviada há algumas horas, curiosamente da mesma pessoa a quem enviei há dois dias a mensagem que hoje me voltou ao telemóvel e que acho que não foi a pessoa a reenviá-la, mesmo que tenha vindo com o número dela (isto não é mesmo para perceber, não se preocupem). O mais curioso é que tinha um envelope preso no visor do telemóvel e a gaita da mensagem não aparecia. Quando apareceu, veio incompleta mas eu nem me apercebi disso. Quando se completou, já eu tinha respondido à primeira mensagem (ainda que com um delay de 3 horas, mas não tive culpa) e tive de voltar a acrescentar qualquer coisa (não faço ideia se a resposta chegou ou não).

Primeiro, o pai nunca me levaria a mal por eu não lhe ter retribuído uma chamada que nunca chegou, mas imagine-se que era outra pessoa ou um assunto profissional? Podia dar logo azo a um valente mal-entendido. Depois, no que respeita à troca de mensagens em delay e muito baralhadas, só serviriam para agudizar mais uma situação já de si fragilizada.

E eu concluo que, às vezes, somos mesmo marionetas de uma coisa estranha que não sei se hei-de chamar destino, sinais ou mesmo problema de telecomunicações em duas redes móveis. Uma coisa estranha que não deu asneira, mas que podia muito bem ter dado.

Depois penso naquelas vezes em que não nos ligam de volta ou não respondem às mensagens. Se calhar, muitas delas são também fruto destes equívocos involuntários. E nós a pensarmos que não nos ligam e que se estão a borrifar para nós. Realmente, há coisas que nos escapam mesmo ao controlo (e que isto agora não sirva de desculpa aos mais "desapegados" e esquecidos no planeta dos telefonemas e das mensagens).

quarta-feira, outubro 25

É nos momentos de crise...

É nos momentos de crise que se vêem os amigos. É bom verificar que há pessoas que nos dão a mão quando mais precisamos, que nos tratam com carinho e que nos demonstram (por actos e não apenas por palavras) o quanto gostam de nós.

Numa época de turbulência e desorientação como a que as nossas vidas (algumas, não as de todos, espero eu!), o país e o mundo atravessam, é bom sentir que não nos falta o chão porque, em última análise, quando tudo falha estão lá os amigos para dar uma "mãozinha". E há amigos que aparecem de onde menos se esperava. Assim como há ajudas que chegam sem que as pessoas percebam que as estão a dar.

Por isto tudo e muito mais, só é possível estar grato à existência (que tudo revoluciona e estremece, mas que de imediato traz os binóculos e os curativos que dão esperança e muita força para continuar). O segredo é estar atento...

terça-feira, outubro 24

Os outros com óculos cor-de-rosa

Há muitas formas de olhar os outros e o mundo que nos rodeia. Além de outras variantes, há quem parta para as relações humanas desconfiando sempre do outro, até prova em contrário, e quem ponha uns óculos cor-de-rosa e acredite nos outros... até prova em contrário.

Eu prefiro entrar nesta última vertente. Apesar de saber que o mundo está cheio de pessoas más, conflituosas e mal intencionadas, recuso-me a desconfiar, à partida, das pessoas. Porque isso mina as relações, porque isso cria distanciamento e porque isso nos faz viver constantemente desconfiados e em sobressalto. Além de que nós nos projectamos nos outros e, obviamente, se não lhes queremos mal nem temos pretensão de fazê-lo, nem sequer imaginamos que o outro nos possa fazer isso a nós.

Mas, de facto, olhar para o melhor que há nos outros nem sempre é a forma mais fácil de lidar com os defeitos, as crueldades e as parvoíces próprias de qualquer ser humano. Se calhar é bom começar a identificar logo o que “está mal”, o que não bate certo, o que é deplorável no comportamento alheio. Como também somos humanos e erramos – tantas vezes de forma cruel e injusta – acabamos por dar o desconto e achar que o outro, afinal, estava era num mau momento, mas não é mau por natureza. Mas quando os maus momentos se repetem e repetem, deixa de haver margem para descontos. O mais deplorável, mesmo, é quando o outro sabe que nós somos assim e se aproveita disso para jogar o seu jogo e ser manipulador. Uma táctica que se percebe à distância, mas que se continua a não querer ver nem acreditar porque se tem a convicção de que não há motivo nem hipótese de o outro ser assim para nós (qual a razão? Nós não somos nem seremos assim para ele!!!! E isso nem sequer faz parte da nossa metodologia de acção!).

Seja como for, sofre-se quando se olha para os outros com óculos cor-de-rosa. Muitas vezes, a realidade é pintada de outras cores e toma outros contornos. Longe vão os tempos de indignação pelo tempo perdido na confiança que demos ao outro. Quando se avança no processo de conhecimento humano e da ilusão/desilusão acaba-se por avançar com a convicção de que vale a pena sermos como somos. Fomos honestos, fiéis a nós próprios e aos valores em que acreditamos. Além de que as máscaras que pomos – e todos as vestimos, não vale a pena negar – não são para manipular ou para ganhar um desafio. São, muitas vezes, para nos protegermos e adaptarmos ao meio ambiente. E só isto justifica representar um papel e poder chegar a fazer figura de palhaço.

Sempre ouvi dizer que as pessoas menos calculistas, mais abertas e sensíveis são as que sofrem mais. Eu acrescento aqui que as que gostam de olhar para os outros com óculos cor-de-rosa e, quando os observam, olham bem fundo no olho para retirar o que de melhor há lá dentro, também passam por momentos de grande desilusão...

segunda-feira, outubro 23

Segunda-feira ou a síndrome da desorientação geral

Hoje parece estar a ser um dia difícil para muita gente. Uns de “trombas”, outros tristes sem saberem o que têm... Um facto é que o Natal se aproxima – desculpem-me todos os que gostam da época, mas eu detesto-a – e vêm à mente a falta de dinheiro (porque se está numa altura de prendas e nem sempre se tem dinheiro para isso), a ausência da família e dos que amamos (uns morreram, outros separaram-se de nós e pode muito bem ser o primeiro ano que passamos sem eles) e o reposicionamento de quem somos e do que fazemos aqui (típico das pessoas mais sensíveis quando se aproxima esta altura).

Eu cresci a ouvir a teoria de que quando se tem dinheiro é tudo mais fácil porque se iludem estas tristezas com um presentinho ou com um mimo. Depois também cresci a ver pessoas que não têm nada disso e que andam de sorriso estampado no rosto. O que me leva a pensar se gostaria de ter mais para me poder “iludir” de vez em quando ou se devo estar grata por tudo o que tenho e que, algumas vezes com muito esforço e muita determinação, consegui construir e agora posso dizer que “é meu”.

Mas depois, na sequência deste mesmo pensamento, começo a questionar-me se existe algo que seja verdadeiramente “nosso”. Porque o que pensamos ter pode ir embora a qualquer momento. Por outro lado, com este tipo de pensamento podemos ir anulando, por exemplo, a possibilidade de sonhar mais além em termos de aquisições materiais... E será que é isso mesmo que importa?

Pois, neste embrulho de pensamentos que se sucedem e que servem para ir justificando os anteriores, vou dando comigo a apetecer-me comprar já uma viagem e partir só, com destino definido, mas sem programa ou objectivos. Daquelas viagens que servem, ao mesmo tempo, para nos encontrarmos a nós próprios, para vermos pessoas bonitas que nos sorriem e metem conversa (mesmo que seja tentativa de engate, que se lixe, há sempre a hipótese de dizer “não” no final), para tropeçarmos noutras que andam perdidas na mesma caminhada ou na mesma busca.

Sabe bem ter um ombro amigo que nos entenda e fale, de vez em quando, uma determinada linguagem. Faz-nos sentir acompanhados, faz-nos sentir que alguém se preocupa connosco, faz-nos sentir que o mundo até pode acabar mas que não estamos sozinhos (e devo confessar que, na fase a que cheguei, acho que só isso me importa. Poder contar com alguém que eu sei que está lá sem nenhuma intenção para além da de gostar de mim verdadeiramente e querer o meu bem).

Mas também percebo que, embora eu consiga fazer isto pelos outros, eles não têm qualquer obrigação de fazer isto por mim. Em suma, é segunda-feira, o feliz dia da desorientação geral.

sábado, outubro 21

Que nunca te falte tempo...

Nos dias que correm, o factor tempo é preponderante para gerirmos as nossas vidas, dar prioridade a quem amamos, realizarmos o que nos faz felizes e conciliar isso com o nosso emprego (ou vice-versa, porque passamos mais horas a trabalhar do que a fazer tudo o resto). O tempo serve, também, de desculpa esfarrapada para não fazermos o que não nos apetece ("oh, desculpa, eu ia ligar mas não tive tempo"; "oh, desculpa lá, mas não tive tempo de parar o carro e falar contigo"; "eh pá, desculpa lá, mas ontem não tive tempo por isso não combinei o tal café contigo. Fica para a próima").

No seminário do médico colombiano Jorge Carvajal foi dado um exemplo que já me tinha chegado por mail e que transcrevo:

"Na sala de aula, o professor estava de pé com alguns objectos em cima da secretária. Quando a aula começou ele, calado, pegou num frasco grande de vidro vazio e começou a enchê-lo com bolas de golfe. Quando não cabiam mais, ele perguntou
aos alunos se achavam que o frasco estava cheio. Todos responderam que sim. O professor então pegou num saco de feijões secos e, ao chocalhar o frasco, estes iam entrando para os buracos vazios entre as bolas de golfe. Quando não cabiam mais, ele perguntou aos alunos se achavam que o frasco estava cheio. Todos responderam que sim.

Neste ponto, o professor despejou um saco de areia para dentro do frasco. Como é óbvio, a areia ocupou todo o espaço restante do frasco. Quando não cabiam mais ele perguntou aos alunos se achavam que o frasco estava cheio. Todos responderam que sim.
Foi então que o professor agarrou em dois copos de café e os entornou lá para dentro. Agora sim, não havia mais espaço. Os alunos desataram a rir!!! "Agora," disse o professor enquanto as gargalhadas ainda se ouviam, "eu quero que vocês reconheçam que este frasco representa a organização da vossa vida".

-"As bolas de golfe são as coisas mais importantes: a família; os filhos; a saúde; os amigos e tudo o que vos é mais querido, de modo a que se tudo na vida desaparecesse e só ficassem elas, a vossa vida continuava cheia!"
- "Os feijões são as outras coisas importantes da vida: o trabalho; a casa; o carro;
-"A areia é tudo o resto das coisinhas pequeninas." Se encherem primeiro o frasco com a areia, já não há espaço para o feijão nem as bolas de golfe.

O mesmo se passa com a vida. Se gastarem todo o tempo e a vossa energia com as pequenas coisas nunca vão ter espaço para as coisas que são verdadeiramente importantes para vocês. Prestem atenção às coisas que são essenciais à vossa felicidade. Brinquem com as crianças. Tirem tempo para ir ao médico, talvez fazer
um check-up. Saiam para um jantar romântico. Vai haver sempre tempo para arrumar a casa, para despachar um trabalho que só falta um bocadinho. Tomem conta das vossas bolas de golfe primeiro, das coisas que têm mesmo importância. Tenham prioridades. Para o resto vai sempre haver espaço. Não encham o vosso frasco primeiro com a areia, pois as bolas de golfe não vão caber no fim.

Um aluno perguntou: - E o café, o que é ?
- Ainda bem que perguntas. Eu ia agora mesmo dizer-vos. É que mesmo que sintam que a vossa vida está cheia, há sempre espaço para beber um café com um amigo."

"Que nunca te falte tempo para tomar um café com um bom amigo", disse Carvajal. Talvez porque, para ele, a nossa crise é de Humanidade, é uma crise daquilo que somos. E o que somos auto-recria-se e é tão mais poderoso quanto maior for a nossa capacidade de compreender o outro, de o acolher com carinho, de dar um pouco do nosso tempo para conhecê-lo e, como ressonância, conhecermo-nos melhor a nós.

"Amar é responder à necessidade"

Esta frase é do médico colombiano Jorge Carvajal, que esta semana esteve em Lisboa a dar um seminário sobre Sintergética (concepção de vida e da medicina que trabalha com diversas disciplinas, sempre com o objectivo de entender o ser humano como um todo e ajudá-lo a melhorar-se).

O mais fascinante do discurso deste médico "tradicional" - que um dia percebeu que a cura das pessoas vai muito além da medicina convencional - é que ele fala das coisas com alma e sem meias medidas. O que diz pode ser tão poderoso (e quase imbatível porque ele comprova com factos e estudos aquilo que defende) que não é de admirar que algumas pessoas saiam a meio e que outras se sintam desconfortáveis.

Para mim, entre os diversos abanões proferidos considero este de especial destaque: "Amar é responder à necessidade". Ou seja, amar nada tem a ver com a visão egocêntrica de dar para receber o melhor em troca, de forma a sentirmo-nos preenchidos e satisfeitos. Amar passa por ter em atenção o que o outro precisa para se sentir "querido" e partir ao encontro dessa necessidade de peito aberto, de coração grande e disponível. E isso faz a diferença.

"Você sente-se querido pela sua mulher?", é uma das perguntas que o médico faz aos pacientes que o procuram como forma de diagnóstico. Porque, diz Carvajal, "quem não se sente querido está perdido".

Tendo em conta que a vida é um processo de aprendizagem, a repetição de padrões de comportamento indicia a necessidade de mudança, que para o médico passa por alterar a atitude e resgatar a imagem arquetípica que cada um tem de si próprio. E lá vem outra tirada bombástica: "o importante não é o que se passa, mas o significado que lhe damos e é possível mudar a história quando mudamos o significado".

E por esta me fico, pois há informação que é importante digerir...

quarta-feira, outubro 18

Pensamentos...

"Enquanto procuras a luz poderás ser subitamente devorado pela sombra; E só então terás encontrado a verdadeira Luz."
Jack Korvac

"Suprimir a sombra é como querer curar uma dor de cabeça com uma pancada."
C.G. JUNG

"O ser-se humano é como uma casa de hóspedes.
Todas as manhãs uma nova chegada.
O pensamento negro, a vergonha, a malícia,
Recebem-nos à porta, rindo e convidam-nos a entrar.
Dêem graças por quem vem,
Porque cada um foi enviado como um guia."
Rumi

terça-feira, outubro 17

A Magia da Adolescência

Hoje, no metro, vinham duas adolescentes sentadas ao meu lado. A conversa girava em torno de uma médica, que elas não sabiam se haviam de consultar em Lisboa ou mais perto de casa delas. Essa médica, supostamente, era a ginecologista a quem iriam contar a sua primeira experiência sexual e ver se "estava tudo bem" (como diziam uma para a outra).

Ouvir isto fez-me voltar ao passado e aos tempos em que tudo era fantasiado, romantizado, e em que essas coisas eram importantes para nos conseguirmos posicionar no mundo "dos adultos". Tal como foi no meu tempo, também estas duas adolescentes estavam cheias de problemas em ir à médica. Não por vergonha da especialista, mas porque tinham de inventar uma desculpa para dar às mães. "Olha, dizes que te vais encontrar comigo", dizia uma. "Oh pá! Mas eu nesse dia não vou poder sair de casa!", respondia a outra, preocupada.

Mais profundo do que isto foi uma delas confessar que achava melhor dizer a verdade à mãe, mas que só iria revelar o seu segredo quando arranjasse um namorado para lhe apresentar. Cá está, de novo, o peso do julgamento social. Do bem e do mal que cai sobre as nossas cabeças porque, supostamente, não se fez a coisa certa, o que manda o figurino.

Apeteceu-me descobrir onde elas iam sair para meter conversa (acabei por verificar que saíram na minha estação). Para dizer que aquilo assusta, mas que não é nada de transcendente. Que há pessoas que nos julgam e que até podemos viver com o peso da culpa de não ter sido "certinhas", da nossa história não ter sido tão bonita quanto esperávamos - e quanto todos esperavam de nós - ... mas pode acontecer a qualquer um e não é o fim do mundo. É, sim, um passaporte para uma dimensão mágica que nos diz que o importante é estarmos bem connosco e sentir que fizemos o que achámos ter sido o mais correcto no momento.

Depois houve outro momento engraçado. Uma delas passou a mão pela cara e disse: "não vou lavar a cara nem deixar que ninguém me beije hoje". Se a sua primeira experiência aconteceu ou não esta manhã, não sei. Mas sei que algo de especial ela viveu e isso ficou gravado e foi transmitido de forma pura e muito apaixonada. E eu pensei de novo nesses tempos em que tudo era cor-de-rosa (ou, pelo menos, assim queríamos acreditar) e em que me apaixonava de corpo e alma. Catorze anos depois, a magia dos momentos é outra...

segunda-feira, outubro 16

Levem lá a bicicleta...

Há pessoas que querem ter razão à força, mesmo quando não têm e estão a perturbar os outros. Detesto ter de dizer isto porque parece pretensioso, mas tenho verificado (obrigada, em parte, pelo meu trabalho) que muitas pessoas que vivem mais afastadas de Lisboa têm algum preconceito e complexo em relação aos lisboetas e a quem trabalha na Capital.

Cada vez que se telefona para um sítio numa destas localidades (normalmente entidades públicas), há uma necessidade imensa de tratar tudo e todos por Dr. (uma coisa que me tira do sério porque o que eu preciso é de ajuda e de informações e não de saber o título das pessoas). Depois, há uma total atrapalhação em relação ao que é pedido. Ninguém sabe de nada e ninguém se responsabiliza por dizer o que quer que seja. Resultado: quando agora me vêm dizer que os media não divulgam... vão-se lixar. Os media podem não divulgar muitos eventos fora das grandes cidades porque a informação NÃO PASSA. Quem é pago para isso não faz um bom trabalho, mesmo que a boa vontade dos media seja muita.

Isso hoje aconteceu-me. Os telefonemas passam de secção em secção, sempre com vozes trémulas a atabalhoadas a dizerem “não sei nada disso”. Até que há sempre alguém que pensa que sabe tudo e, julgando-se dono da razão e da moral, não olha para o umbigo e aponta o dedo ao alvo mais fácil: “você se calhar não fez a pergunta certa”, “você, se calhar, não ligou para o sítio certo”, etc, etc. Além de, das 12h às 16h não se conseguir encontrar ninguém que fale porque ou acabou de ir almoçar ou ainda não voltou do almoço.

E pronto. Quem vive oprimido e com o complexo de inferioridade, depressa coloca as divisas e sobe ao pedestal. Para dar lições de boa educação, para verbalizar o que os colegas não querem ouvir (e vai ter de ser o jornalista) e para ter razão. Curiosamente isto deixou de me irritar. Uma resposta à altura, umas técnicas de argumentação para fazer a senhora descer do pedestal (porque quanto maior a subida, maior pode ser também a queda) e um pensamento que fica mal acaba o telefonema. Realmente, as pessoas têm uma necessidade imensa de ter razão. Como odeio conflitos e não estou para me chatear... levem lá a bicicleta, se isso vos fizer felizes. Mas será que vos faz melhores pessoas a cada dia que passa?!!!

domingo, outubro 15

Em sintonia com a Lei da Atracção

Vários autores falam de algo meio misterioso, mas bastante funcional e real, que consiste na capacidade de cada um conseguir atrair o que quer para a sua vida. A um nível superficial, falar disto é completamente absurdo porque, diz-se por aí, "a vida é assim" e "cada um nasce com a sorte que nasce".

Há um exemplo que costuma ser dado e que ajuda a perceber um pouco melhor a "Lei da Atracção". Imagine-se um dia em que acordamos com os 'pés de fora'. Continuar nessa vibração de má disposição leva a que tudo o que nos vá acontecendo seja encarado como mais uma desgraça existencial, que se vai repetindo até ao final do dia. Se, ao invés disso, mesmo acordando com os 'pés de fora', se sair de casa com uma atitude mais optimista, o mais provável é que os factores externos que iriam tornar o nosso dia numa desgraça não passem de "fait-divers" que não nos vão afectar grandemente. Muitos deles podem, até, ser encarados como coisas positivas que ainda bem que aconteceram. Esta é a forma mais básica e simplista da Lei da Atracção, que comporta muitos outros factores.

O curioso é quando conseguimos pôr a funcionar a Lei da Atracção, mas percebemos que não a dirigimos para o que nos faz sentir mais vivos. Querer ser rico, por exemplo. Já alguém perguntou "para quê?". Pergunta-se "Como?", "Quando?", "De que forma?" e faz-se tudo o que se pode para se conseguir. E até se consegue. Mas como se esqueceu o fundamental, o "para quê?", é muito natural que toda essa riqueza não nos preencha e nos faça sentir infelizes na mesma.

Eu insisto na tecla: dinheiro, poder, riqueza, estrelato, não são condições "sine qua non" para uma vida realizada e feliz. Com menos, há quem se contente e realize muito mais. E lá está de novo a lei da atracção. Quando nos contentamos com menos e nos centramos nos "para quê?" da nossa vida, depressa percebemos que podemos ter dinheiro, poder, riqueza e estrelato, mas que antes disso tivemos as bases sólidas que foram construídas de dentro para fora e que nos fazem separar o que é importante - para nos completarmos enquanto pessoas e seres humanos (que erram, que têm fragilidades, que também precisam de alimentar o ego de vez em quando) - daquilo que nos torna importantes perante os outros. E aqui, do meu ponto de vista, reside a grande diferença...

terça-feira, outubro 10

O mistério das relações

Foi com entusiasmo que hoje peguei numa revista "Xis" (sai ao sábado com o "Público") e verifiquei que o tema de capa é a Vida a Dois. Talvez pela divulgação dos dados da violência doméstica ou talvez porque é urgente falar de relações, esta semana são muitos os jornais/revistas a dedicarem espaço a esta temática, mas de uma forma incisiva e que dá que pensar. E ainda bem.

Recomendo o dossier que a "Xis" fez e que resume as dinâmicas de relação, o que está por detrás do mecanismo da atracção, o que leva a que as pessoas andem insatisfeitas e a que muitas relações acabem. Parece-me um retrato fiel da realidade, que acaba por lançar um apelo que há muito subscrevo: "Urgente: relações mais criativas".

Para aguçar a curiosidade, aqui fica um "cheirinho" da introdução do artigo:

"As relações afectivas não falham por acaso, assim como as nossas escolhas afectivas obedecem a uma lógica real, porém inconsciente. A razão desse insucesso prende-se com medos, carências e inseguranças infantis, e deve-se à rigidez mental que fomos desenvolvendo por defesa. A solução reside na tomada de consciência de todas estas dificuldades."

Contra a Violência Doméstica

Porque o tema é sério e merece destaque, cá vai um texto que tem circulado pela Net e este fim-de-semana saiu numa revista semanal. Já agora, apesar deste ser um exemplo extremo, a violência doméstica inclui também todo o tipo de violência verbal e psicológica (que pode não matar, mas mói e de que maneira...).

"Hoje Recebi Flores!
Não é o meu aniversário ou nenhum outro dia especial;
tivemos a nossa primeira discussão ontem à noite e ele disse-me muitas coisas cruéis que me ofenderam de verdade.
Mas sei que está arrependido e não as disse a sério, porque ele me enviou flores hoje.
Não é o nosso aniversário ou nenhum outro dia especial.
Ontem ele atirou-me contra a parede e começou a asfixiar-me.
Parecia um pesadelo, mas dos pesadelos acordamos e sabemos que não é real.
Hoje acordei cheia de dores e com golpes em todos lados.
Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje.
E não é São Valentim ou nenhum outro dia especial.
Ontem à noite bateu-me e ameaçou matar-me. Nem a maquiagem ou as mangas compridas poderiam ocultar os cortes e golpes que me ocasionou desta vez.
Não pude ir ao emprego hoje porque não queria que se apercebessem.
Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje.
E não era dia da mãe ou nenhum outro dia.
Ontem à noite ele voltou a bater-me, mas desta vez foi muito pior.
Se conseguir deixá-lo, o que é vou fazer?
Como poderia eu sozinha manter os meus filhos?
O que acontecerá se faltar o dinheiro? Tenho tanto medo dele!
Mas dependo tanto dele que tenho medo de o deixar.
Mas eu sei que está arrependido, porque ele me enviou flores hoje.
Hoje é um dia muito especial: É o dia do meu funeral.
Ontem finalmente conseguiu matar-me.
Bateu-me até eu morrer.
Se ao menos tivesse tido a coragem e a força para o deixar... Se tivesse pedido ajuda profissional...
Hoje não teria recebido flores!"

segunda-feira, outubro 9

A Insegurança Masculina... mais uma vez

Apesar das estatísticas sobre a violência doméstica em Portugal me espantarem um bocadinho, as conversas que vou tendo com frequência com as pessoas que me rodeiam e que vão entrando e saindo da minha vida (muito por culpa da profissão) não me deveriam ter deixado assim tão boquiaberta.

Muitos são os homens com quem falo que argumentam isso mesmo: "mulher bonita, inteligente e independente é perigosa de mais para se ter por perto". "E porquê?", pergunto eu. "Porque tem outros homens atrás, logo, a insegurança que causa é maior; porque pode prescindir de nós a qualquer momento; porque dá mais trabalho contentar e manter; porque podemos acabar por sofrer mais...", dizem eles. E eu continuo a ficar com cara de xis a ouvir estas e outras argumentações. E contra-argumento: "mas não se orgulham de ter alguém assim por perto? É, por exemplo, o que uma mulher pode querer: um homem com essas características... Além de que, se está convosco é porque QUER!". E eles contra-atacam: "Pois, pois! Aparece um gajo mais giro, com mais papel e mais charme e lá vamos nós de carrinho...". E eu penso, com uma cara de xis ainda mais pronunciada: "Meu Deus! Mas será que é mesmo isto que se passa no mundo das relações? Onde está o amor, o sentir o outro, o estar em paz só porque ele existe e está presente? Perdeu-se para dar lugar a um carro topo de gama, a uma casa com prestações tão altas que é preciso estar agarrado a um emprego estável a vida toda, a uma vida de fachada?". Pior do que isso: as mulheres bonitas, independentes e inteligentes são, eventualmente, para dar umas voltas. Para "casar" (bagh, que visão tão machista e desgastada), os homens de agora preferem que sejamos burras, um bocadito dependentes, e talvez não tão belas quanto isso porque eles, coitados, não conseguem aguentar (pelos vistos, que eu nesta estupidez prefiro ser céptica).

Claro que têm e terão sempre olhos para as belas, mas essas são aquelas que podem ser de todos e que, por isso, nem vale a pena ter por perto durante muito tempo. Talvez o tempo suficiente para insuflar o ego. Outra coisa que tenho reparado é na necessidade de estatuto que anda por aí a vaguear. Em nome de um estatuto aguenta-se muita bomboca e muita vida de merda. O que as pessoas ainda não perceberam é que o verdadeiro estatuto está dentro. Reside na capacidade de, com segurança, sabermos quem somos e conseguirmos lidar com dignidade com cada situação que se atravessa pela frente.

Acho que sobre isto dava para escrever um testamento. Mas remato - que isto já vai longo - com mais uma filosofia de cinco tostões (que, pelo que vejo ao redor, a malta não gosta de ir às profundezas): há, pelos vistos, muitas mulheres por aí que pensam que nelas ninguém "vai pegar" e que se devem sentir desenraizadas e completamente fora dos padrões que elas acham que os homens têm das mulheres e dos relacionamentos. Pois eu considero que são essas mesmo as que dão "mais pica". Se fosse homem (mas ainda bem que não sou), entrava no desafio. Enquanto mulher que vai ouvindo daqui e dali e se vai espantando com algumas revelações, posso dizer que essas mulheres não estão sozinhas na realidade e que a solidão, apenas ilusória, é simplesmente o preço a pagar por uma vida relacional de alto nível. Tudo tem um preço, certo? Ser exigente, pensar e agir de forma diferente tem o seu preço, mas também tem o seu resultado: na hora do desfrute tem-se a possibilidade de jogar em campeonatos que não são para qualquer um...

domingo, outubro 8

Violência doméstica e homens inseguros...

Pela primeira vez, a Amnistia Internacional destaca o fenómeno da violência doméstica em Portugal como uma situação grave de violação dos direitos humanos. Se, por um lado, aumentaram as denúncias das vítimas em relação a 2005; por outro lado, os crimes cometidos sobre as mulheres são cada vez mais graves (em 2005, 33 mulheres foram mortas no seio familiar no nosso País).

O que realmente me espanta são as idades dos agressores e os motivos da agressão. Diz-se no estudo que estamos a falar de homens entre os 25 e os 45 anos (!!!!) que agridem por insegurança resultante do facto das mulheres serem cada vez mais autónomas e independentes. Ou seja, inverte-se o fenómeno: dantes, a dependência completa das mulheres levava os homens a abusarem do seu "poder" e as mulheres a subjugarem-se a uma condição que se julgavam incapazes de inverter. Hoje, ter-se "voto na matéria" leva ao descontrolo masculino.

E é nestas ocasiões que o meu lado feminista vem ao de cima... Eu acredito na inteligência humana, no bom senso e na capacidade de resolver conflitos sem recorrer à lei do mais forte. O que me leva a não perceber a razão da insegurança de um homem perante uma mulher independente (assim como perante uma mulher bonita e inteligente). Meus caros, tentem raciocinar comigo: se uma mulher bonita, inteligente e independente vos escolheu - no meio dos 100 ou 200 que poderia ter escolhido porque tem poder para isso (estou a exagerar um bocadinho, mas acho que às vezes é preciso esticar a corda para se conseguir ter alguns efeitos) - é porque QUER estar convosco. Mesmo que muitas vezes o coração tenha razões que a própria razão desconhece. Cabe-vos, então, a vocês darem-se ao trabalho de merecerem que uma mulher com estas características vos escolha. E garanto-vos que não é pelo uso da força ou da violência verbal e psicológica que o conseguem.

Além de que acredito noutras coisas muito mais poderosas do que a argumentação, o dinheiro, a dependência, a força ou o poder de manipulação. E talvez seja isso que me cause náuseas quando desmonto os modelos de relacionamento existentes. Estão gastos, cheiram a mofo, não entusiasmam minimamente e não podem ir muito longe (mesmo que pareçam fantásticos porque duraram 10 anos). No fundo o que todos ambicionam é conseguir ter o que se convencionou em termos relacionais: um casamento estável, uma família, filhos, uma casa... Em busca deste padrão que pode muito bem não ser o delas, as pessoas batem com a cabeça como peixinhos num aquário. Vislumbram o que está fora e tentam correr para ele, mas esquecem-se que há barreiras (as da sua personalidade, as qualidades únicas que as identificam a elas próprias) que as impedem de chegar lá ou de viver o "lá" em plenitude.

Não compreendo, nunca compreendi, nem irei compreender o que leva alguém a orgulhar-se de ter o outro pela força. E o que mais me mete pena é que aquilo que sempre se criticou nas gerações anteriores (se me posso referir assim ao modelo de violência doméstica existente no passado) se repita, ainda que utilizando outros moldes.

terça-feira, outubro 3

Fiel ou Infiel? - O telelixo continua

Pensei que o verdadeiro lixo televisivo que é o programa da TVI "Fiel ou Infiel?" já tivesse acabado, mas eis que sou surpreendida uma destas noites enquanto fazia zapping. O conteúdo não podia ser mais degradante, de todos os pontos de vista. Um apresentador irritante, sem piada nenhuma; um "cornudo" (simulado, porque ali nada é real) com ar de atrasado mental; um "sedutor" de meter medo ao susto (todo insuflado, com mania que é bom); e uma tipa que trocou o atrasado mental (com quem estava casada há 17 anos, supostamente, entenda-se) pelo homem "Michelin" sem cérebro. Junte-se a isto a estupidez do público, que grita em êxtase não se percebe bem o quê, e tem-se a perfeita fórmula daquilo que um programa não deve ser: mau, sexista e sem ponta por onde se lhe pegue.

Confesso que a parte que mais me irritou - e me fez falar sozinha a reclamar, como se alguém me estivesse a ouvir - foi a suposta sedução que acabou no quarto. O cenário é mau, o enredo é deplorável e a história nada convincente. Só visto. O homem "Michelin" rodava e rebolava a "senhora" como se de um saco de batatas se tratasse, mesmo a fazer figura para a câmara. E a parte das palmadas no rabo, mesmo à homem das cavernas?!!! Por favor... Não parti a televisão porque é minha e não podia comprar outra... Mas vontade não me faltou. Além da falta de credibilidade. Ninguém se "enrola" daquela maneira. Ninguém dá mil voltas à cama a despir e a voltar a vestir a roupa. Ninguém leva (ou dá) mil palmadas no rabo, em poses estratégicas, e despe e volta a vestir a roupa... Ninguém dá um beijo no pescoço, pára, e dá o seu pescoço a ser beijado, tipo "toma lá, dá cá". Por favorrrrrrrrrrrrrrrr! Tirem-me este programa do ar. Toda a gente sabe - ou devia saber - que eles são pagos para inventar aquela história. Logo, não vale a pena tornar "aquilo" um programa no topo das audiências. É mentira, não tem graça e não se aprende nada. Se bem que depois fiquei a pensar... A plateia é quase toda composta por pessoas de uma certa idade. Talvez aquela "merda" de programa preencha o imaginário de quem foi habituado a dar beijos sem língua, a fazer amor às escuras e só para procriação...

segunda-feira, outubro 2

A Senhora da Água

Sendo uma apaixonada por tudo o que "está para além de...", depois de "O Sexto Sentido", "Sinais" e "A Vila", não podia deixar de ver o filme "A Senhora da Água", de M. Night Shyamalan. O tipo é giro que se farta e aparece neste filme da forma como nunca o fez nos outros. Não considero que este seja um dos seus melhores trabalhos, mas acaba por ser uma forma "light" de fazer passar a mensagem mais mística de que nada acontece por acaso e de que cada pessoa tem a capacidade de afectar outra e o que está à sua volta.

"A moral da história é que toda a gente em cada janela de cada casa tem o potencial de fazer algo que vai afectar os outros, e temos que acreditar nisso. Temos que abraçar esta filosofia de elo-numa-cadeia", diz Shyamalan numa entrevista.

Não gostei do monstro - que estava mal feito e pouco credível - e se a intenção era colocar ali teorias do desenvolvimento pessoal e da origem do que nos acontece na vida, Shyamalan fê-lo de forma simples e muito básica. Mas que me parece a adequada a chegar a quem não acredita em nada. Mesmo assim, para que não se ache o filme uma grande "palhaçada", é preciso pôr a descrença de parte e abrir ligeiramente as portas à fé e ao "tudo é possível". Há, ainda, espaço para o humor e para momentos de descontracção, que ajudam a tornar o filme algo a ver.

Eu gostei, mas não supera a inteligência e subtileza de "O Sexto Sentido".