segunda-feira, novembro 27

Sugestões culturais

Por norma, os filmes adaptados de livros costumam ser menos interessantes do que o livro em si. "O Perfume" veio confirmar a ideia que eu já tinha de que é bem mais delicioso devorar o livro (ou, então, não o ter lido antes de ver o filme). Seja como for, vale a pena perseguir o homem que vai matando sem cessar para conseguir o seu objectivo de vida: fazer um perfume único que é o resultado da mistura dos cheiros de todas aquelas mulheres. Vale a pena ver o filme, mas, sobretudo, ler o livro e tentar perceber o que está nas entrelinhas (não andaremos, também nós, desalmadamente em busca de algo único que constituirá a nossa grande razão de viver???). Recomendo, também, aos fãs do Edward Norton - mas não só - o filme "O Ilusionista". Ao contrário de muitas pessoas, não acho o tipo "bom com'ó milho", mas considero grandiosa a sua interpretação (tal como me conseguiu surpreender no "Fight Club", ainda que aqui seja a própria história que dá muito que pensar).

Para os amantes do teatro e da história portuguesa, que tal uma noite de teatro com "A Casa da Lenha" no D. Maria?! Trata-se de uma homenagem a Fernando Lopes-Graça, com um bom elenco (em que Carlos Paulo sobressai) e uma encenação que consegue causar arrepios em variados momentos, sobretudo no final... Os mais avessos às peças clássicas podem, à confiança, dar um saltinho à Cornucópia e assistir a um "Filoctetes" (de Sófocles) que passa em menos de nada e se suporta com grande leveza e sem grandes bocejos.

domingo, novembro 26

O sentido da vida… ou da existência

Viver é um mistério. A cada nova experiência não sabemos se estamos ou não a enveredar pelo caminho certo. Assim como não sabemos qual o desfecho. Para certas pessoas, a vida é feita de imprevistos, de experiências que começam inesperadamente e que acabam sem aviso. Digo para “certas pessoas” porque creio que nem todas estivessem preparadas para tanta agitação (a que também se pode chamar desgaste, luta constante). Na realidade, somos todos diferentes. Mas o que mais me intriga e faz interrogar é que tentemos levar vidas tão semelhantes.

Há dias, alguém me chamava a atenção para a diferença entre a vida e a existência. Supostamente, a existência é composta pelas 24 horas dos dias, que se sucedem, com as rotinas próprias inerentes a trabalhar, descansar e divertir-se. A vida, porém, inclui isto, mas vai muito mais além (podíamos agora entrar nas questões metafísicas, mas ficam para outro dia). Supondo que as pessoas apenas existem e não vivem… tudo se torna cansativo. Sempre as mesmas coisas, sempre a mesma busca por mais e mais objectivos. Ao entusiasmo de perseguir um novo objectivo, segue-se o cansaço e o tédio de já o termos conseguido alcançar. Parte-se para outro, que perde a piada quando se consegue.

A questão é: “qual o sentido da existência?” (ou, se quisermos, da vida). Admito que seja preferível nem colocar esta questão porque a busca da resposta – ou a própria resposta em si – podem ser frustrantes e desalentadoras. O sentido da existência parece seguir esta ordem: andar na escola, seguir para a faculdade para tirar um curso, arranjar um bom emprego, casar-se (ou viver junto, nos tempos que correm), ter filhos para garantir que não se fica sozinho, acompanhar o crescimento dos filhos (com as suas alegrias e derrotas), partir para a reforma, ver crescer os netos, esperar que o ciclo acabe o mais tarde possível e de forma rápida e não dolorosa. (A acompanhar este ciclo está a ambição do aumento constante do nível de vida, com casa, carros e imagem que comprovem isso). Pois é, admitindo que isto é a existência, resta considerar que é pobre e desmotivante. Até porque este ciclo não será uma realidade para grande parte das pessoas. Acredito cada vez mais (e há correntes do pensamento e do desenvolvimento que o defendem) que cada um é uma pequena peça de um puzzle que compõe um grande todo. Mas cada um é, também, muito pressionado a não ser essa peça singular e inovadora. Esses mesmos pensadores defendem que esta geração existe para se relacionar. Para aprender mais sobre si próprio através da relação com o(s) outro(s). E, curiosamente, é o que sabemos fazer pior: relacionarmo-nos. Além de que a grande questão subsiste: “Qual é, afinal, o sentido da existências??”.

domingo, novembro 19

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

FERNANDO PESSOA

terça-feira, novembro 14

À procura do homem verdadeiro...

Polémico, contraditório e sem papas na língua. O célebre sociólogo italiano Francesco Alberoni deu uma entrevista à “Pública” de domingo passado a propósito do seu último livro “Sexo e Amor”. Há respostas que prometem deixar qualquer um perplexo, como “se houver traição não se deve contar” ou “se ela descobrir a traição, negue”. Alberoni diz, também, que no início da relação se deve contar tudo em relação ao passado. “Se esteve com 500 mulheres e 500 homens, se apanhou no cu, se violou crianças, pode contar tudo, porque tudo será perdoado. Nessa fase há uma indulgência plenária. Depois, acabou”. No meio das teorias – algumas mais acesas e polémicas do que outras – o sociólogo acaba por dizer algo que subscrevo (não como uma verdade absoluta, mas como um retrato dos nossos tempos): “Este é um momento histórico em que as mulheres têm dificuldade em arranjar um homem que lhes sirva”.

De facto, perdoem-me os homens, mas a infantilidade, a insegurança que leva a querer prender o outro, a manipulação, os jogos de poder, o comportamento desajustado e pouco “firme” e coerente levam-me a considerar que há poucos homens que nos consigam acompanhar. A exigência é um factor de selecção para qualquer mulher que goste de si própria e que queira uma vida de qualidade. Sem querer entrar em polémicas – a entrevista do senhor já dá que falar e pensar -, acho que tenho de dar a mão à palmatória quando Alberoni diz que “uma das fontes de sofrimento das mulheres, hoje em dia, é não encontrarem homens superiores. Eles são iguais ou inferiores. O aumento do poder feminino fez com que seja difícil a elas encontrarem um homem que lhes seja superior (...) A maior parte das mulheres de 30 anos diz que não encontra um verdadeiro homem”.

E um verdadeiro homem não tem de ser um príncipe encantado (na prática, eles não existem), de ter muito dinheiro ou um estatuto considerável. Há outras características – na minha óptica mais importantes – que fazem um homem com “H” grande. Maturidade é uma delas (e são tão poucos os que a possuem...). Carácter é a segunda (e para isto não há fórmulas, há atitudes que fazem a diferença e que podem levar um homem a ser “um grande senhor”). Coerência seria outro dos atributos (mas, realmente, numa era de mudanças, é fácil não ser coerente porque também não é muito fácil saber com convicção o que se quer... Será??). Acima de tudo, saber estar nos momentos em que é preciso e ter todo um comportamento que não deriva do lugar que ocupa e daquilo que tem, mas da pessoa maravilhosa que é. Será que, assim, dá para perceber a “crise” em que os relacionamentos caíram? Será que assim dá para perceber por que razão as mulheres são acusadas de serem complicadas e imperceptíveis? Nem sei se o mais triste é iludirmo-nos e depois desiludirmo-nos ou se é ter de aceitar que a realidade, de momento, é um pouco esta: homens pouco ou nada disponíveis e muito pouco interessantes (salvo uma ou outra excepção, claro).

sábado, novembro 11

Muda de Vida

Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar


Mudar de vida nem sempre é uma tarefa fácil. O desconhecido mete medo, assusta. Mas quando o que vivemos não nos completa ou nos põe a pensar que chegou ao fim o nosso tempo, é altura de promover essa mudança.

O meu tempo chegou ao fim. É altura da vida sofrer uma reviravolta. Diz-se que quando se quer muito, consegue-se. Eu consegui uns anos depois. Parto, de alma e coração, para uma aventura emocionante, inesperada e de grande desafio. Levo na memória, com carinho, todos os que me acompanharam nos meus momentos mais tristes, nas minhas dificuldades, nas grandes alegrias e horas de muita sorte. Parto com a sensação de dever cumprido e de grande crescimento pessoal. Espera-me uma nova etapa, em jeito de desafio. Um primeiro passo para um patamar que é, em simultâneo, o fechar a porta ao passado e o abrir uma outra para que o novo tome forma... Com consciência, garra e muita determinação.