segunda-feira, julho 30

O lado positivo

Deve ser tendência do ser humano - ou de algumas pessoas - olhar para a vida e para muitas situações puxando pelo aspecto negativo. E podem ser vários os motivos: porque nos magoam, porque nos mexem nas feridas, porque nos obrigam a olhar para o mais profundo de nós que precisa ser sarado, porque quando estamos de luto parece que nada tem conserto ou solução. O incrível é que, por muito que a vida às vezes doa, cada um desses acontecimentos tem razão de existir e está no lugar certo. Acredito mesmo que só com a dor conseguimos perceber o que está mal e precisa de ser mudado nas nossas vidas. Gostaria de poder dizer que não é preciso sofrer para crescer, mas acho que uma aprendizagem profunda precisa de estudo. E muitas vezes só o conseguimos se formos obrigados a parar e a mergulhar nele.

Pois bem, no rol de situações e vivências das nossas vidas que parecem padronizadas e que nos levam a desmotivar, há que olhar para as situações e para as pessoas que nos disseram/fizeram tudo o que era positivo. Por muitos desencontros, opções erradas e inalteráveis que possam existir, essa marca positiva existiu e ficou nas nossas vidas. Faz parte da nossa história e ninguém pode roubá-la.

Insisto neste ponto porque, em momentos de crise, só conseguimos ver o acumular de asneiras e momentos dolorosos das nossas existências. Mas é preciso agarrarmo-nos aos bons e acreditarmos que, um dia, fomos Sol que raiou e não se deixou tapar por nenhuma nuvem negra.

domingo, julho 29

Cada coisa no lugar que merece

Nos últimos dias tenho reflectido sobre o peso que damos às coisas, às diversas situações das nossas vidas. E concluí que, muitas vezes, damos demasiado peso a coisas que não têm assim tanto valor. Conclusão de génio, diga-se de passagem... Como se não soubesse já que há coisas que não voltarão a repetir-se... simplesmente porque não! Simplesmente porque são insignificantes e temos de estar disponíveis e alerta para outras mais importantes.

Já disse isto aqui algumas vezes, mas penso mesmo que às vezes merecemos um abanão. E merecemos pôr os olhos em situações realmente graves e inultrapassáveis para percebermos que há outras - que para nós são uma catástrofe - que não passam de pequenas manchas, de pequenas feridas que vão passar rápido com um curativo.

Ora bem, se há coisa que tenho vindo a aprender é que tudo está certo como está. Nada do que acontece é por um mero acaso ou porque é uma maldade do destino. O destino fazêmo-lo nós diariamente. E devíamos decidir, em total e profundo compromisso connosco, que só caberão no nosso destino as pessoas e as situações que queremos e que nos servem para crescermos e sermos cada vez melhores pessoas.

É claro que nada é assim tão simples ou preto no branco. Por isso mesmo, vamos tropeçando em pessoas e situações que nos magoam e que, declaradamente, não nos querem bem nem nos querem ter por perto. Assim sendo, ajudem-me lá a responder: para quê deixar entrar na nossa vida quem não tem a certeza e a convicção de querer estar connosco? É assim no amor, é assim nas amizades. Deveria ser assim em tudo. Cito uma amiga minha: "só devemos querer ter por perto quem tem a certeza de querer estar connosco... e quem tem a certeza de que é só connosco que quer estar". Amiga, devo-te uma!

quinta-feira, julho 26

Nunca lamentem morrer...

lamentem apenas não ter vivido. Isto já parece um blogue de mortes e desgraças, mas não tem nada a ver com isso. Em cada pequena morte há um recomeço, por isso há que ver o lado positivo. Passeava-me pela net, tropeçava na cultura e eis que me deparo com um blogue de um artista anónimo que resolveu criar, para um conhecido festival, um trabalho sob anonimato. Depois de ter causado grande polémica, eis que este ano ele está de volta. Não percebi se tem uma doença grave ou o que se passa na verdade. Só sei que parece que vai morrer.

Dei comigo a ler os posts que lhe deixam e a encontrar uns com pena, outros revoltados. Um dos visitantes aplaudia a ideia ousada do artista anónimo e minimizava a tragédia iminente que lhe poderia estar a acontecer: "Nunca lamentem morrer... lamentem apenas não ter vivido".

Devo confessar que nunca temi a morte. Sempre fui sua aliada, sobretudo quando a vida parece não fazer muito sentido (e há casos que não lembram ao diabo!). E também não me parece que se deva lamentar morrer porque já sabemos que é o que nos está destinado... pelo menos a um nível físico. O que nem sempre nos está destinado são as opções que fazemos, os passos que damos, as pessoas que deixamos entrar e sair das nossas vidas. E a isso chama-se viver. E viver magoa muitas vezes. Mas também nos dá o arcaboiço para seguir em frente.

Continuo a desiludir-me todos os dias com atitudes que acho que as pessoas deviam ter tido... e que não tiveram. Mas continuo a agradecer-lhes todos os dias o facto de terem passado pela minha vida. Sem elas, não teria percebido que mereço mais e melhor... ou, pelo menos, diferente. Por isso, "nunca lamentem morrer... lamentem apnas não ter vivido"...

domingo, julho 8

Morreu

É sempre muito difícil lidar com a morte. Apesar de ser sinónimo de transformação (para muitas culturas, a morte é simplesmente o passar para outro estádio, para outra vida, para outra fase de evolução da alma), a morte deixa sempre cá dentro um vazio. A saudade da pessoa que partiu e que não voltaremos a ver (ao contrário de algumas relações, não vai dar para pedir perdão, fazer as pazes e voltar a viver tudo de novo) é o que mais nos agita por dentro. E o luto nem sempre é um processo que se faça com aceitação e serenidade. Talvez a morte de um ente querido seja a forma de perda mais avassaladora para qualquer ser humano.

No entanto, se estivermos com atenção, todos os dias se morre um bocadinho. Por dentro, ao nível das ideias, das convicções, dos desejos, das ilusões e, infelizmente, também no domínio dos sonhos. Há paixões, desejos, ânsias que vão morrendo com o tempo. Outros que se acalentam por dentro como âncora que não queremos que se solte... caso contrário o barco andará à deriva e tudo deixará de fazer sentido.

Estou de luto. A morte que me atingiu foi profunda e está pertinho do enterro. Não posso dizer que o impacto foi forte porque já estava à espera dele. Há anos que espero por este desfecho. Hoje, tenho a certeza que alguns dos meus sonhos morreram um bocadinho. Mas ainda bem. Esta morte que há muito se anunciava abriu as portas a uma vida que eu ainda não tinha descoberto. Se calhar, há quem tenha razão quando diz que é preciso deixar partir o velho para que o novo se possa manifestar. O vazio vai ficar porque foram muitos anos... mas não vou ao funeral nem vou colocar lá flores. Vou apenas querer acreditar que as intenções perversas de quem causou esta morte vão acabar por morrer também...