segunda-feira, março 23

Solidão... mais uma vez

Este é um tema que não se esgota nem se esgotará. Por muitas teorias que apareçam sobre a solidão e a idade em que ela bate com mais força, a realidade diz-nos que todos nós, por alguns momentos, já sofremos desta dor. Podemos ter amigos, namorados, família, mas há sempre um momento algures em que nos sentimos sós. Porque nos afligimos com o amanhã, porque a dado momento sentimos que não somos compreendidos, porque há alturas em que estamos perdidos sem saber para onde ir e por que caminho. Nestes últimos dias têm-me falado muito de solidão. Por norma, são pessoas com alguma idade que vivem sós e que estão dias seguidos sem falar com alguém. Mas também há relatos de jovens (estudantes e não só) desenraizados, em profundos momentos de solidão. A solidão é um mal dos tempos de hoje?! Eu acho, muito sinceramente, que é um mal gerado pela crise de valores. Porque, afinal de contas, nunca como hoje foi tão fácil encontrar amigos (de cama, de ocasião, de tempo indeterminado). Nunca foi tão fácil, em parte, devido à Internet. Mas depois, no fundo, no fundo, fica o vazio de serem poucos aqueles com quem realmente nos identificamos. Solidão. Solidão. O combate é forte, a solução imprevisível. O facto é que nos atinge.

sexta-feira, março 20

O Poder Terapêutico do Tempo

Já muitas vezes ouvimos dizer que o tempo tudo cura. E é verdade. O tempo não apaga memórias, mas acalenta a dor e transforma-a em aprendizagem. O tempo leva a que o que teve importância a perca devagarinho e o que nunca pensámos ter possa vir a ganhá-la. O tempo diz-nos que tudo faz parte de uma aprendizagem e que nada acontece por acaso. Entre um ponto e o outro... está o tempo. E quando o conseguimos atravessar com coragem e sem pensar em solidão chegamos ao final muito mais fortalecidos. O tempo revela-nos que, afinal, não estávamos enganados. Estamos apenas confusos porque parámos para pensar, mas o tempo em breve revelará que é melhor assim. E viva o tempo... O meu, o dos outros, o da Humanidade.

quarta-feira, março 18

A importância do palavrão, de acordo com Millôr Fernandes

Não resisti a este texto fabuloso. Para alguns, talvez asneirento. Mas o objectivo não é ofender nem chocar ninguém, é mesmo parar para reflectir em tudo o que temos contido e que muitas vezes era mais fácil se "botássemos" cá para fora.


Foda-se - Millôr Fernandes
(adaptado)


O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à
quantidade de "foda-se!" que ela diz.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma
pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então,
foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos
extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário
de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos
mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua
língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que
vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a
ideia de muita quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão
matemática.
2
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a
mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem
nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.
Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades
de maior interesse na tua vida.
Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro
para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.
Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro
Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema,
e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu
correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente,
sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito
assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se
reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um
merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua
maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus
quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de
seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?
3
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.
Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar
firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado
amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de
maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a
sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para
uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de
ameaçadora complicação?
Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor
num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo
assim como quando estás a sem documentos do carro, sem
carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a
mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada
funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a
saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os
empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e
em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a
desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
foda-se!!!
Mas não desespere:
Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”
Atente no que lhe digo!

segunda-feira, março 16

Pessoas Interessantes

Com alguma arrogância, às vezes costumo dizer que o mundo está cheio de pessoas pouco interessantes. Nem eu mesma sei se não pertenço a essa categoria, mas arrogantemente me tento colocar na lista das pessoas ditas interessantes. Ora isto das pessoas interessantes tem muito que se lhe diga. Em primeiro lugar, o "ser interessante" depende também do quão interessantes nós somos para conseguirmos avaliar os outros à nossa imagem e semelhança. E isso varia de pessoa para pessoa, obviamente. No meu conceito, interessante passou a ser aquela pessoa que nos deixa de boca aberta quando fala, mas não pela sua sabedoria livresca. Muito mais pelos seus estilos de vida, pela forma como olha a vida, como passou por cada experîência e vem agora contá-la. E é isso que me enriquece. Olhar o Mundo e a vida pelos olhos dos outros. Há formas de vida que para mim, de todo, não são vida. São perdas de tempo. Por isso me fascinei tanto pelo meu entrevistado de ontem. Também diz que perde tempo, às vezes, mas todo o tempo que lhe resta aproveita-o para ser ele mesmo e passar uma imagem de força, determinação e muita aprendizagem. Pessoas interessantes? Não chovem, mas existem várias em diversas áreas...