Eu até nem gosto muito da voz do senhor, nem fui grande admiradora ao longo do tempo. Mas confesso que o Pedro Abrunhosa me tem surpreendido com os discursos, com as metáforas das letras e com a frontalidade que, nos dias de hoje, é um bem tão escasso entre os seres humanos.
Hoje, antes de apresentar o novo disco, Abrunhosa criticou os comportamentos anestesiados das pessoas e das sociedades; o egoísmo; a forma estúpida de querer ter sempre razão que leva a tantos e desnecessários conflitos.
O que faz falta, diz o rapaz, é ter as pessoas a pensarem... mas, sobretudo, a "pensarem com afecto". Ora, isto supostamente seria antagónico porque quando se usa a razão esquece-se o coração... e vice-versa. Mas num mundo de "estranhezas", comportamentos bizarros e contrariedades talvez seja possível misturar tudo e pensar usando também o coração.
Ponto um: as pessoas perdem pouco tempo a pensar. São mais fáceis as ideias fast food e os comportamentos previsíveis. Dão menos trabalho e poucas "chatices".
Ponto dois: a maior parte das pessoas lida mal com os afectos. Enredamo-nos em relações doentias, carentes e pouco maduras. Mas dizemos sempre que é tudo muito a sério e em plena consciência.
Ponto três: deve ser difícil conjugar dois factores (pensamento e afectos) quando não se sabe muito bem do que se trata, nem se lida convenientemente com cada um deles.
Há uns dias, Abrunhosa deu uma entrevista na televisão e perguntavam-lhe se ele não se sentia deprimido depois de escrever aquelas letras que batem na sociedade e metem o dedo na ferida. Ele respondeu que não há como dar a volta se a vida/sociedade/país são assim; há que enfrentá-lo e retratá-lo. E foi mais além: "as pessoas são feitas das relações que tiveram, dos momentos que viveram, das escolhas que fizeram...", etc, etc, etc. Ora aí está! Para quê chorar o passado, martirizarmo-nos com o presente e ansiarmos o futuro se tudo segue o caminho certo: aquele que nos levará a ser completamente quem somos?! Talvez o "rapaz" tenha razão e a solução esteja em pensar com afecto.
terça-feira, junho 26
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1 comentário:
Concordo inteiramente com as tuas (ou dele) palavras e corroboro do mesmo sentimento pelo cantor, que afinal se assume como escritor e não como cantor. Até já pensei em comprar o disco só para ler as letras... mas isso é outra história. Vi também várias entrevistas de promoção ao álbum e retenho uma frase dele, tão simples, mas tão esquecida, infelizmente, pelas pessoas. Dizia ele que "pensar é a mais bela capacidade dos humanos e é isso que nos distingue dos animais". Ora aqui está!
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