terça-feira, outubro 23

Atenta ao que te incomoda, tens ali um mestre

Há muito que não via nem ouvia esta frase. Hoje, por acaso (ou talvez não), chegou-me ao e-mail perdida num amontoado de outras frases e pensamentos que convém reter. Esta é, sem dúvida, a que se impõe. Ou não fosse a vida uma manta de retalhos de caminhos possíveis, escolhas, becos sem saída e novas oportunidades. O que incomoda é o que mais precisa de ser trabalhado, disso não tenho dúvida. E o melhor professor de todos é aquele que ensina a resolver problemas sem fazer a papinha toda. O que incomoda não nos dá a fórmula milagrosa, mas ajuda-nos a perceber que algo está mal e que precisa de ser ultrapassado/ resolvido.

A dúvida da existência é, porventura, o maior mestre de todos os que podemos encontrar. Não, não sou apenas eu quem pensa assim. Esta semana, já vi dois grandes "senhores" a questionarem-se. Primeiro, foi o escritor Paul Auster... e agora é a vez do Lobo Antunes. Estar perto da morte é pegá-la de caras e tudo se dimensiona. Mas estar integrado na vida também é, de certa forma, uma maneira de morrer para o que é acessório e permitir que o essencial venha à tona. O questionamento de dois grandes senhores fez-me perceber o quanto a alma humana é, ao mesmo tempo, grandiosa e pequenina. Quanto mais se dá, se investe, se esgota em criatividade... mais se percebe que há muito mais para dar, investir e esgotar-se em ser criativo. E mais rápido se percebe que, afinal, o que parecia ser sinal de grandeza não passa de um sinónimo de pequenez perante aquilo que se nos depara e que é, incomparavelmente, maior do que tudo.

Gosto do sabor de mudança da vida. Das surpresas, das derrotas que só mostram que somos muito fortes porque nos levantámos, das oportunidades que nos são dadas para fazer cada dia mais e melhor. Não gosto dos becos sem saída, dos muros demasiados altos que me impedem de trepar, das pessoas que pensam pouco porque têm medo de se perder na imensidão do mundo.
Sim, há coisas que me incomodam (e mal seria se assim não fosse). Mas sei que todas elas, a seu tempo, acabam por ser resolvidas. E não será assim com toda a gente?!

domingo, setembro 2

Estrela do Mar...

Os que atentos estão transmitem por metáforas o que não precisa de ser dito por palavras soltas e vulgares. Valeu, amigo ;)...


Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
e em que o sono parecia disposto a não vir
fui estender-me na praia sozinho ao relento
e ali longe do tempo acabei por dormir

Acordei com o toque suave de um beijo
e uma cara sardenta encheu-me o olhar
ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar

Sou a estrela do mar
só a ele obedeço, só ele me conhece
só ele sabe quem sou no princípio e no fim
só a ele sou fiel e é ele quem me protege
quando alguém quer à força
ser dono de mim

Não sei se era maior o desejo ou o espanto
mas sei que por instantes deixei de pensar
uma chama invisível incendiou-me o peito
qualquer coisa impossível fez-me acreditar

Em silêncio trocámos segredos e abraços
inscrevemos no espaço um novo alfabeto
já passaram mil anos sobre o nosso encontro
mas mil anos são pouco ou nada para a estrela do mar.

Jorge Palma

segunda-feira, agosto 20

Quando o essencial é isto

If you search for tenderness,
it isn't hard to find
You can have the love you need to live
But if you look for truthfulness
You might just as well be blind
It always seems to be so hard to give

Honesty is such a lonely word
Everyone is so untrue
Honesty is hardly ever heard
And mostly what
I need from you

I can always find someone to say they sympathize
If I wear my heart out on my sleeve
But I don't want some pretty face
To tell me pretty lies
All I want is someone to believe

I can find a lover,
I can find a friend
I can have security until the bitter end
Anyone can comfort me with promises again
I know, I know

When I'm deep inside of me, don't be too concerned
I won't ask for nothin' while I'm gone
But when I want sincerity
Tell me where else can I turn
Because you're the one that I depend upon

Honesty is such a lonely word
Everyone is so untrue
Honesty is hardly ever heard
And mostly what I need from you

quinta-feira, agosto 2

Nunca Voltes a um Lugar Onde Foste Feliz

Um destes dias fui confrontada com esta frase, sobre a qual não me tinha debruçado ao pormenor, mas que confesso já ter tido a sensação de que poderia fazer algum sentido. Seja depois do que for que nos aconteça, a vida deve continuar e devemos encontrar forças para seguir em frente. Isso pode implicar ter de ficar nos sítios, com lembranças coladas, ou ter de estar um tempo a passar por situações que não gostaríamos de todo. Na verdade, se pensar duas vezes, a frase faz sentido.

Voltar a um lugar onde já fomos muito felizes leva a que queiramos repetir o irrepetível. Leva a que nos apeteça construir uma nova história que deixará de fazer sentido precisamente porque já nada poderá ser como dantes. Ou, mesmo que se volte ao lugar e se tente escrever uma nova história, ela estará sempre toldada pela anterior e pela expectativa e exigência da excelência. Humildemente me resigno a essa evidência: "Não voltes a um lugar onde foste feliz". Não me refiro a situações que deixam marca, mas que passam com o tempo. Refiro-me a existências que nos tocaram bem fundo e que nos modificaram a tal ponto de terem permitido construir aquilo que hoje somos.

No que depender de mim, não voltarei lá mais... a não ser em memórias. A menos que a vida me obrigue a tomar tal caminho. E, oh, como ela tem uma forma tão directa de nos dizer que aquilo que mais tememos... é o que primeiro vem ter connosco...

segunda-feira, julho 30

O lado positivo

Deve ser tendência do ser humano - ou de algumas pessoas - olhar para a vida e para muitas situações puxando pelo aspecto negativo. E podem ser vários os motivos: porque nos magoam, porque nos mexem nas feridas, porque nos obrigam a olhar para o mais profundo de nós que precisa ser sarado, porque quando estamos de luto parece que nada tem conserto ou solução. O incrível é que, por muito que a vida às vezes doa, cada um desses acontecimentos tem razão de existir e está no lugar certo. Acredito mesmo que só com a dor conseguimos perceber o que está mal e precisa de ser mudado nas nossas vidas. Gostaria de poder dizer que não é preciso sofrer para crescer, mas acho que uma aprendizagem profunda precisa de estudo. E muitas vezes só o conseguimos se formos obrigados a parar e a mergulhar nele.

Pois bem, no rol de situações e vivências das nossas vidas que parecem padronizadas e que nos levam a desmotivar, há que olhar para as situações e para as pessoas que nos disseram/fizeram tudo o que era positivo. Por muitos desencontros, opções erradas e inalteráveis que possam existir, essa marca positiva existiu e ficou nas nossas vidas. Faz parte da nossa história e ninguém pode roubá-la.

Insisto neste ponto porque, em momentos de crise, só conseguimos ver o acumular de asneiras e momentos dolorosos das nossas existências. Mas é preciso agarrarmo-nos aos bons e acreditarmos que, um dia, fomos Sol que raiou e não se deixou tapar por nenhuma nuvem negra.

domingo, julho 29

Cada coisa no lugar que merece

Nos últimos dias tenho reflectido sobre o peso que damos às coisas, às diversas situações das nossas vidas. E concluí que, muitas vezes, damos demasiado peso a coisas que não têm assim tanto valor. Conclusão de génio, diga-se de passagem... Como se não soubesse já que há coisas que não voltarão a repetir-se... simplesmente porque não! Simplesmente porque são insignificantes e temos de estar disponíveis e alerta para outras mais importantes.

Já disse isto aqui algumas vezes, mas penso mesmo que às vezes merecemos um abanão. E merecemos pôr os olhos em situações realmente graves e inultrapassáveis para percebermos que há outras - que para nós são uma catástrofe - que não passam de pequenas manchas, de pequenas feridas que vão passar rápido com um curativo.

Ora bem, se há coisa que tenho vindo a aprender é que tudo está certo como está. Nada do que acontece é por um mero acaso ou porque é uma maldade do destino. O destino fazêmo-lo nós diariamente. E devíamos decidir, em total e profundo compromisso connosco, que só caberão no nosso destino as pessoas e as situações que queremos e que nos servem para crescermos e sermos cada vez melhores pessoas.

É claro que nada é assim tão simples ou preto no branco. Por isso mesmo, vamos tropeçando em pessoas e situações que nos magoam e que, declaradamente, não nos querem bem nem nos querem ter por perto. Assim sendo, ajudem-me lá a responder: para quê deixar entrar na nossa vida quem não tem a certeza e a convicção de querer estar connosco? É assim no amor, é assim nas amizades. Deveria ser assim em tudo. Cito uma amiga minha: "só devemos querer ter por perto quem tem a certeza de querer estar connosco... e quem tem a certeza de que é só connosco que quer estar". Amiga, devo-te uma!

quinta-feira, julho 26

Nunca lamentem morrer...

lamentem apenas não ter vivido. Isto já parece um blogue de mortes e desgraças, mas não tem nada a ver com isso. Em cada pequena morte há um recomeço, por isso há que ver o lado positivo. Passeava-me pela net, tropeçava na cultura e eis que me deparo com um blogue de um artista anónimo que resolveu criar, para um conhecido festival, um trabalho sob anonimato. Depois de ter causado grande polémica, eis que este ano ele está de volta. Não percebi se tem uma doença grave ou o que se passa na verdade. Só sei que parece que vai morrer.

Dei comigo a ler os posts que lhe deixam e a encontrar uns com pena, outros revoltados. Um dos visitantes aplaudia a ideia ousada do artista anónimo e minimizava a tragédia iminente que lhe poderia estar a acontecer: "Nunca lamentem morrer... lamentem apenas não ter vivido".

Devo confessar que nunca temi a morte. Sempre fui sua aliada, sobretudo quando a vida parece não fazer muito sentido (e há casos que não lembram ao diabo!). E também não me parece que se deva lamentar morrer porque já sabemos que é o que nos está destinado... pelo menos a um nível físico. O que nem sempre nos está destinado são as opções que fazemos, os passos que damos, as pessoas que deixamos entrar e sair das nossas vidas. E a isso chama-se viver. E viver magoa muitas vezes. Mas também nos dá o arcaboiço para seguir em frente.

Continuo a desiludir-me todos os dias com atitudes que acho que as pessoas deviam ter tido... e que não tiveram. Mas continuo a agradecer-lhes todos os dias o facto de terem passado pela minha vida. Sem elas, não teria percebido que mereço mais e melhor... ou, pelo menos, diferente. Por isso, "nunca lamentem morrer... lamentem apnas não ter vivido"...

domingo, julho 8

Morreu

É sempre muito difícil lidar com a morte. Apesar de ser sinónimo de transformação (para muitas culturas, a morte é simplesmente o passar para outro estádio, para outra vida, para outra fase de evolução da alma), a morte deixa sempre cá dentro um vazio. A saudade da pessoa que partiu e que não voltaremos a ver (ao contrário de algumas relações, não vai dar para pedir perdão, fazer as pazes e voltar a viver tudo de novo) é o que mais nos agita por dentro. E o luto nem sempre é um processo que se faça com aceitação e serenidade. Talvez a morte de um ente querido seja a forma de perda mais avassaladora para qualquer ser humano.

No entanto, se estivermos com atenção, todos os dias se morre um bocadinho. Por dentro, ao nível das ideias, das convicções, dos desejos, das ilusões e, infelizmente, também no domínio dos sonhos. Há paixões, desejos, ânsias que vão morrendo com o tempo. Outros que se acalentam por dentro como âncora que não queremos que se solte... caso contrário o barco andará à deriva e tudo deixará de fazer sentido.

Estou de luto. A morte que me atingiu foi profunda e está pertinho do enterro. Não posso dizer que o impacto foi forte porque já estava à espera dele. Há anos que espero por este desfecho. Hoje, tenho a certeza que alguns dos meus sonhos morreram um bocadinho. Mas ainda bem. Esta morte que há muito se anunciava abriu as portas a uma vida que eu ainda não tinha descoberto. Se calhar, há quem tenha razão quando diz que é preciso deixar partir o velho para que o novo se possa manifestar. O vazio vai ficar porque foram muitos anos... mas não vou ao funeral nem vou colocar lá flores. Vou apenas querer acreditar que as intenções perversas de quem causou esta morte vão acabar por morrer também...

terça-feira, junho 26

Pensar com Afecto

Eu até nem gosto muito da voz do senhor, nem fui grande admiradora ao longo do tempo. Mas confesso que o Pedro Abrunhosa me tem surpreendido com os discursos, com as metáforas das letras e com a frontalidade que, nos dias de hoje, é um bem tão escasso entre os seres humanos.

Hoje, antes de apresentar o novo disco, Abrunhosa criticou os comportamentos anestesiados das pessoas e das sociedades; o egoísmo; a forma estúpida de querer ter sempre razão que leva a tantos e desnecessários conflitos.

O que faz falta, diz o rapaz, é ter as pessoas a pensarem... mas, sobretudo, a "pensarem com afecto". Ora, isto supostamente seria antagónico porque quando se usa a razão esquece-se o coração... e vice-versa. Mas num mundo de "estranhezas", comportamentos bizarros e contrariedades talvez seja possível misturar tudo e pensar usando também o coração.

Ponto um: as pessoas perdem pouco tempo a pensar. São mais fáceis as ideias fast food e os comportamentos previsíveis. Dão menos trabalho e poucas "chatices".

Ponto dois: a maior parte das pessoas lida mal com os afectos. Enredamo-nos em relações doentias, carentes e pouco maduras. Mas dizemos sempre que é tudo muito a sério e em plena consciência.

Ponto três: deve ser difícil conjugar dois factores (pensamento e afectos) quando não se sabe muito bem do que se trata, nem se lida convenientemente com cada um deles.

Há uns dias, Abrunhosa deu uma entrevista na televisão e perguntavam-lhe se ele não se sentia deprimido depois de escrever aquelas letras que batem na sociedade e metem o dedo na ferida. Ele respondeu que não há como dar a volta se a vida/sociedade/país são assim; há que enfrentá-lo e retratá-lo. E foi mais além: "as pessoas são feitas das relações que tiveram, dos momentos que viveram, das escolhas que fizeram...", etc, etc, etc. Ora aí está! Para quê chorar o passado, martirizarmo-nos com o presente e ansiarmos o futuro se tudo segue o caminho certo: aquele que nos levará a ser completamente quem somos?! Talvez o "rapaz" tenha razão e a solução esteja em pensar com afecto.

segunda-feira, junho 25

Voltar Atrás

Há momentos em que apetece mesmo parar o tempo e fazer tudo andar para trás. Não por insatisfação pelo presente ou incerteza no futuro, mas porque há momentos que temos a noção que não se voltarão a repetir. E não voltam. Nenhum momento será igual a outro; nenhum segundo voltará a aparecer no relógio com a mesma data.

Seguir em frente é isso mesmo: aceitar que tudo tem o seu tempo e que o que lá vai... lá vai. Mesmo que o barco regresse, não voltará na mesma onda. Só por isso, é impossível repetir o irrepetível. Devo dizer que isso me chateia. Há barcos que gostava de poder voltar a trazer... pelo menos com aquela mesma sensação inicial de "boa onda", de aventura sem destino, de navegação surpreendente e, ao mesmo tempo, assustadora pela sua incerteza.

Mas há barcos que já passaram há demasiado tempo e que, por esta altura, naufragaram, aportaram noutras terras ou simplesmente deixaram de navegar. Também se diz que "nada acontece por acaso" e que se o barco partiu, "a razão percebe-se mais tarde".

Não sei se vou alguma vez vou percebê-la, nem se faz sentido querer entrar no mesmo barco tanto tempo depois... mas a melhor forma de lidar com o que sentimos e nos faz falta a cada momento é olhar-lhe de frente. Assumir que nos faz falta... ainda que não haja coragem para mais.

Enquanto espero, penso no barco que já passou (e penso como não faz sentido estar a pensar nele) ... talvez ele dê à costa ou os mares pacifiquem a sua ida definitiva.

terça-feira, junho 12

Que terei eu a ganhar com isto?

Acho que esta é uma das perguntas que muitas pessoas deviam começar por fazer antes de darem passos para os quais não estão preparadas. O que mais me desmotiva nos seres humanos, além da falta de honestidade, é a falta de carácter e a pouca coragem de viver a vida como ela é: nem sempre risonha, nem sempre como gostaríamos, mas em muito resultado das nossas escolhas.

Costumo, com frequência, considerar que o mundo está cheio de pessoas desinteressantes e que, por isso, encontrar oásis no deserto é mesmo um tiro de sorte (ou de se saber muito bem o que se quer). Mais do que desinteressantes - e isso fez-me abrir uma brecha na longa pausa dos blogues para voltar a escrever - o mundo está cheio de pessoas que não sabem o que querem. Por isso é que erram tanto. Aposto o que quiserem em como quem sabe aquilo que quer tem poucas probabilidades de falhar o alvo.

O pior, nisto tudo, é que desinteressante com falta de carácter resulta num híbrido que apetece amolgar e deitar fora. Ao estilo de um rascunho que se escreveu numa folha e que se conclui estar todo errado. Se as pessoas se preocupassem mais com a sua personagem real e deixassem cair as máscaras que colocam para agradar aos outros, talvez fossem bem mais interessantes... Ou, pelo contrário, tão "seca" que nem teriam oportunidade de fazer asneira, pois ninguém iria reparar na sua existência.

É muito bom verificar que, à medida que o tempo avança e a exigência se apura, se utiliza um passador para coar o leite e retirar a nata. A maior surpresa é quando a nata é mais do que pensávamos e sempre esteve lá. O melhor de tudo é olhar para o leite e ver que se diluiu no copo... e que foi necessário atravessar o passador para se fazer a triagem. Odeio pessoas falsas, odeio cordeirinhos que querem agradar aos lobos e ao rebanho. Adoro pessoas que, na sua força de carácter, conseguem escapar a toda e qualquer vulgaridade. Obrigada, meus queridos...

domingo, março 4

Hiii, como a mulher é toda boa!!!

"Hiiiii, como a mulher é toda boa!" era o comentário, na televisão, de um recluso com umas horitas de liberdade num centro comercial português. Como alguém respondia no post anterior, "todos diferentes, todos iguais". Claro que para nós, os mais iguais são os que se parecem connosco. Mas, de facto, há coisas que nos colocam a todos num grande saco chamado "condição humana". Se o "boa" é vestir soutien 36 ou 38 depende das preferências (e mesmo aqui há equívocos. prometo escrever sobre soutiens um dia destes :) ), assim como depende se a aposta é nas magras ou nas mais redondinhas. Mas o certo é que "é boa"... E isso faz de nós todos iguais. Mesmo que uns estejam atrás das grades.

Tanta lenga-lenga para dizer uma coisa simples: estamos sempre com tantas merdas e esquisitices, mas precisamos todos do mesmo (cada um à sua medida). Queremos reconhecimento, dinheiro para ter uma boa vida, um emprego apaixonante, carinho, afecto, etc, etc...

E andamos todos às cabeçadas porque pedimos e até temos, mas nunca estamos contentes com o que nos chega às mãos. Se calhar, ainda bem. Ainda que eu considere que há momentos de desgaste e que irrita querer sempre mais e melhor. Num permanente processo de apanha e deita fora.

Tudo espremido, acho mesmo que o que nos faz falta é carinho. Não conheço ninguém que prescinda de um abraço caloroso que dê vontade de continuar a caminhada ou de uma palavra amiga que incentive e nos ampare em momentos de fragilidade.

Um dia destes alguém me dizia, referindo-se a si e aos homens que conhecia: "a malta anda louca em busca de sexo e novas aventuras, mas aquilo que na realidade quer é carinho e alguém que esteja lá". Se assim é ou não... não sei (demito-me de abordagens generalistas). Mas que tudo funciona muito melhor com verdadeira intimidade, lá disso não tenho dúvidas. Seja isso mostrar fragilidades, despir-se por dentro perante o outro ou simplesmente estar receptivo a dar e receber. Livra! Tanta merda para uma coisa tão simples.

Se calhar, o que vejo todos os dias quando saio do emprego é uma busca de carinho e não de sexo. Nunca percebi o que leva alguém a comprar sexo (daquele barato e, diria eu, com ar "chunga") quando parece ser tão fácil dar uma queca algures. Acho que tenho uma teoria, mas vou observar com mais atenção à saída antes de me pronunciar...

sábado, fevereiro 3

Amor incondicional ou doença?

Há momentos em que, por vezes, nos sentimos tristes porque as pessoas não correspondem àquilo que esperamos delas. A culpa é nossa, por um lado, porque fomos nós que nos iludimos e desejámos que elas fossem o que talvez não consigam nunca ser. Por outro lado, ninguém tem mesmo a obrigação de ser aquilo que não é. Acho que um dos problemas recorrentes é esperarmos da pessoa aquilo que conseguimos dar. E tudo se agrava quando conseguimos dar muito.

Mas uma das grandes diferenças entre a infância e o ser adulto é precisamente esse lado incondicional do amor. Em pequenos, podemos gritar, fazer asneiras, ser imperfeitos e atabalhoados porque há sempre alguém que nos ama incondicionalmente e que nos perdoa com a alma toda. Em adultos, esse dito "amor incondicional" pode muito bem ser doença. Tratam-nos abaixo de cão e ficamos destroçados a achar que a culpa é toda nossa e que o outro tem razão porque não o queremos perder. Por detrás disto está, também, uma grande falta de amor próprio. Além de que talvez, até mesmo no amor, nada dure para sempre - e lá se vai o incondicional.

É importante haver condições em grande parte do que se faz na vida. Trabalhamos "xis" horas e fazemos determinadas coisas em troco de uma remuneração adequada; ouvimos os amigos e damos-lhes o nosso ombro com a condição de que isso não nos destrua; entramos num relacionamento e mantemo-lo desde que isso nos faça felizes e nos permita crescer... Seguindo esta lógica, não é admissível nem saudável que deixemos que situações e pessoas entrem nas nossas vidas para nos perturbarem e destruírem. Portanto, o amor parece também ter condições. Pena que uma das grandes condições do amor seja a dependência e a necessidade de ter alguém para não se sentir e dizer que se está sozinho... E então? Amor incondicional ou doença?!

sábado, janeiro 27

Um Soco no Estômago

Fiquei sem fôlego. Levei um soco no estômago que me fez ficar atordoada e voltar a pensar que apesar de muitas realidades não serem as nossas... não quer dizer que não existam. "Assalto e Intromissão", de Anthony Minghella, é um filme de cortar a respiração. Ver a Juliette Binoche a perder a compostura e implorar ajuda, a todo o custo, a um Jude Law (aqui com ar de homenzinho) que agora a rejeita mesmo que antes a tenha desejado... é do caraças. Assim como é do caraças a cena de sexo - fria como o dia de hoje - em que se despem sem falar, sem demonstrar qualquer envolvimento emocional... porque falhas na comunicação e estúpidas "coincidências" deturparam todo o sentido existente.

Um filme cheio de mensagens que não podem deixar ninguém indiferente. Injustiças sociais, amores desencontrados, carências que nos fazem dar passos em falso, retratos de vidas familiares cheias de problemas (assim como as vidas de todos nós... uns dias melhores... outros nem por isso).

Dizem que o amor não tem barreiras. Cada vez mais acho que, no mundo em que nos movemos, criamos barreiras para o amor. Um homem carente - com um casamento de merda por uma relação doentia entre mãe e filha - encontra numa mulher solitária e lutadora o alento de que precisava para dar um passo em frente. Um retrato tão cruel, mas tão real, que muitos de nós já passaram. Não me parece ter havido tempo para o verdadeiro amor, mas a actracção existente depressa se desvaneceu porque aqueles dois seres não tinham nada em comum. Ele, um arquitecto de sucesso... ela, uma modista pobre. Nunca achei que o dinheiro pudesse ser motivo de afastamento entre as pessoas quando os sentimentos são reais (a menos que se trate de pessoas que vivam da imagem). Nem aqui me parece que tenha sido isso. De facto, nada tinham a ver um com o outro. O que torna tudo mais cruel. Cumpriram uma função na vida um do outro: ela conseguiu resgatar o filho de uma vida marginal; ele reaproximou-se da mulher...

Caraças... Ainda há mais mensagens no filme que merecem reflexão.. mas vamos lá com calma... :)