domingo, julho 8

Morreu

É sempre muito difícil lidar com a morte. Apesar de ser sinónimo de transformação (para muitas culturas, a morte é simplesmente o passar para outro estádio, para outra vida, para outra fase de evolução da alma), a morte deixa sempre cá dentro um vazio. A saudade da pessoa que partiu e que não voltaremos a ver (ao contrário de algumas relações, não vai dar para pedir perdão, fazer as pazes e voltar a viver tudo de novo) é o que mais nos agita por dentro. E o luto nem sempre é um processo que se faça com aceitação e serenidade. Talvez a morte de um ente querido seja a forma de perda mais avassaladora para qualquer ser humano.

No entanto, se estivermos com atenção, todos os dias se morre um bocadinho. Por dentro, ao nível das ideias, das convicções, dos desejos, das ilusões e, infelizmente, também no domínio dos sonhos. Há paixões, desejos, ânsias que vão morrendo com o tempo. Outros que se acalentam por dentro como âncora que não queremos que se solte... caso contrário o barco andará à deriva e tudo deixará de fazer sentido.

Estou de luto. A morte que me atingiu foi profunda e está pertinho do enterro. Não posso dizer que o impacto foi forte porque já estava à espera dele. Há anos que espero por este desfecho. Hoje, tenho a certeza que alguns dos meus sonhos morreram um bocadinho. Mas ainda bem. Esta morte que há muito se anunciava abriu as portas a uma vida que eu ainda não tinha descoberto. Se calhar, há quem tenha razão quando diz que é preciso deixar partir o velho para que o novo se possa manifestar. O vazio vai ficar porque foram muitos anos... mas não vou ao funeral nem vou colocar lá flores. Vou apenas querer acreditar que as intenções perversas de quem causou esta morte vão acabar por morrer também...

2 comentários:

Postcards from Portugal disse...

Eu cá não fui ao funeral porque não sei se deixei morrer a sério. Foi mais guardar na gaveta, fechar à chave, esquecer, partir para outra. Se calhar não vou voltar a abrir a gaveta, mas gosto de saber que o posso fazer se um dia me apetecer.

Não sei se estamos a falar do mesmo, mas já sabes: morre-se velho e doente mas nasce-se cheio de vida e energia :)

blackpanther disse...

Sim, Capuchinho... Estamos a falar do mesmo ;). Beijinhos grandes!