sábado, dezembro 16

Feliz Natal e Grandeza de Espírito ;)

Já há algum tempo que não vinha aqui e talvez não volte antes do Natal. Não queria deixar de desejar Boas Festas a todos os que aqui vêm de vez em quando. Que este Natal possa ser um momento de mudança para aqueles que ambicionam dar um outro rumo às suas vidas.

Não me está a apetecer perder em grandes devaneios, mas não resisto a deixar aqui uma "ideia" para pensar. Esta semana, na nova aventura em que me encontro, falava-se da mania que em Portugal as pessoas têm de ligar aos títulos (senhor doutor para aqui, senhor engenheiro para ali). Não só é ridículo como altamente irritante quando se percebe que isso não é, de todo, o mais importante na vida das pessoas. E eis que alguém - com muita experiência na vida e nas lides do jornalismo - diz algo que seria importante lembrar sempre: "quanto mais evoluída é a PESSOA, menor é a necessidade de se fazer valer daquilo que tem".

E com esta me retiro. Beijinhos, Boas Festas e boas entradas em 2007!

segunda-feira, novembro 27

Sugestões culturais

Por norma, os filmes adaptados de livros costumam ser menos interessantes do que o livro em si. "O Perfume" veio confirmar a ideia que eu já tinha de que é bem mais delicioso devorar o livro (ou, então, não o ter lido antes de ver o filme). Seja como for, vale a pena perseguir o homem que vai matando sem cessar para conseguir o seu objectivo de vida: fazer um perfume único que é o resultado da mistura dos cheiros de todas aquelas mulheres. Vale a pena ver o filme, mas, sobretudo, ler o livro e tentar perceber o que está nas entrelinhas (não andaremos, também nós, desalmadamente em busca de algo único que constituirá a nossa grande razão de viver???). Recomendo, também, aos fãs do Edward Norton - mas não só - o filme "O Ilusionista". Ao contrário de muitas pessoas, não acho o tipo "bom com'ó milho", mas considero grandiosa a sua interpretação (tal como me conseguiu surpreender no "Fight Club", ainda que aqui seja a própria história que dá muito que pensar).

Para os amantes do teatro e da história portuguesa, que tal uma noite de teatro com "A Casa da Lenha" no D. Maria?! Trata-se de uma homenagem a Fernando Lopes-Graça, com um bom elenco (em que Carlos Paulo sobressai) e uma encenação que consegue causar arrepios em variados momentos, sobretudo no final... Os mais avessos às peças clássicas podem, à confiança, dar um saltinho à Cornucópia e assistir a um "Filoctetes" (de Sófocles) que passa em menos de nada e se suporta com grande leveza e sem grandes bocejos.

domingo, novembro 26

O sentido da vida… ou da existência

Viver é um mistério. A cada nova experiência não sabemos se estamos ou não a enveredar pelo caminho certo. Assim como não sabemos qual o desfecho. Para certas pessoas, a vida é feita de imprevistos, de experiências que começam inesperadamente e que acabam sem aviso. Digo para “certas pessoas” porque creio que nem todas estivessem preparadas para tanta agitação (a que também se pode chamar desgaste, luta constante). Na realidade, somos todos diferentes. Mas o que mais me intriga e faz interrogar é que tentemos levar vidas tão semelhantes.

Há dias, alguém me chamava a atenção para a diferença entre a vida e a existência. Supostamente, a existência é composta pelas 24 horas dos dias, que se sucedem, com as rotinas próprias inerentes a trabalhar, descansar e divertir-se. A vida, porém, inclui isto, mas vai muito mais além (podíamos agora entrar nas questões metafísicas, mas ficam para outro dia). Supondo que as pessoas apenas existem e não vivem… tudo se torna cansativo. Sempre as mesmas coisas, sempre a mesma busca por mais e mais objectivos. Ao entusiasmo de perseguir um novo objectivo, segue-se o cansaço e o tédio de já o termos conseguido alcançar. Parte-se para outro, que perde a piada quando se consegue.

A questão é: “qual o sentido da existência?” (ou, se quisermos, da vida). Admito que seja preferível nem colocar esta questão porque a busca da resposta – ou a própria resposta em si – podem ser frustrantes e desalentadoras. O sentido da existência parece seguir esta ordem: andar na escola, seguir para a faculdade para tirar um curso, arranjar um bom emprego, casar-se (ou viver junto, nos tempos que correm), ter filhos para garantir que não se fica sozinho, acompanhar o crescimento dos filhos (com as suas alegrias e derrotas), partir para a reforma, ver crescer os netos, esperar que o ciclo acabe o mais tarde possível e de forma rápida e não dolorosa. (A acompanhar este ciclo está a ambição do aumento constante do nível de vida, com casa, carros e imagem que comprovem isso). Pois é, admitindo que isto é a existência, resta considerar que é pobre e desmotivante. Até porque este ciclo não será uma realidade para grande parte das pessoas. Acredito cada vez mais (e há correntes do pensamento e do desenvolvimento que o defendem) que cada um é uma pequena peça de um puzzle que compõe um grande todo. Mas cada um é, também, muito pressionado a não ser essa peça singular e inovadora. Esses mesmos pensadores defendem que esta geração existe para se relacionar. Para aprender mais sobre si próprio através da relação com o(s) outro(s). E, curiosamente, é o que sabemos fazer pior: relacionarmo-nos. Além de que a grande questão subsiste: “Qual é, afinal, o sentido da existências??”.

domingo, novembro 19

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

FERNANDO PESSOA

terça-feira, novembro 14

À procura do homem verdadeiro...

Polémico, contraditório e sem papas na língua. O célebre sociólogo italiano Francesco Alberoni deu uma entrevista à “Pública” de domingo passado a propósito do seu último livro “Sexo e Amor”. Há respostas que prometem deixar qualquer um perplexo, como “se houver traição não se deve contar” ou “se ela descobrir a traição, negue”. Alberoni diz, também, que no início da relação se deve contar tudo em relação ao passado. “Se esteve com 500 mulheres e 500 homens, se apanhou no cu, se violou crianças, pode contar tudo, porque tudo será perdoado. Nessa fase há uma indulgência plenária. Depois, acabou”. No meio das teorias – algumas mais acesas e polémicas do que outras – o sociólogo acaba por dizer algo que subscrevo (não como uma verdade absoluta, mas como um retrato dos nossos tempos): “Este é um momento histórico em que as mulheres têm dificuldade em arranjar um homem que lhes sirva”.

De facto, perdoem-me os homens, mas a infantilidade, a insegurança que leva a querer prender o outro, a manipulação, os jogos de poder, o comportamento desajustado e pouco “firme” e coerente levam-me a considerar que há poucos homens que nos consigam acompanhar. A exigência é um factor de selecção para qualquer mulher que goste de si própria e que queira uma vida de qualidade. Sem querer entrar em polémicas – a entrevista do senhor já dá que falar e pensar -, acho que tenho de dar a mão à palmatória quando Alberoni diz que “uma das fontes de sofrimento das mulheres, hoje em dia, é não encontrarem homens superiores. Eles são iguais ou inferiores. O aumento do poder feminino fez com que seja difícil a elas encontrarem um homem que lhes seja superior (...) A maior parte das mulheres de 30 anos diz que não encontra um verdadeiro homem”.

E um verdadeiro homem não tem de ser um príncipe encantado (na prática, eles não existem), de ter muito dinheiro ou um estatuto considerável. Há outras características – na minha óptica mais importantes – que fazem um homem com “H” grande. Maturidade é uma delas (e são tão poucos os que a possuem...). Carácter é a segunda (e para isto não há fórmulas, há atitudes que fazem a diferença e que podem levar um homem a ser “um grande senhor”). Coerência seria outro dos atributos (mas, realmente, numa era de mudanças, é fácil não ser coerente porque também não é muito fácil saber com convicção o que se quer... Será??). Acima de tudo, saber estar nos momentos em que é preciso e ter todo um comportamento que não deriva do lugar que ocupa e daquilo que tem, mas da pessoa maravilhosa que é. Será que, assim, dá para perceber a “crise” em que os relacionamentos caíram? Será que assim dá para perceber por que razão as mulheres são acusadas de serem complicadas e imperceptíveis? Nem sei se o mais triste é iludirmo-nos e depois desiludirmo-nos ou se é ter de aceitar que a realidade, de momento, é um pouco esta: homens pouco ou nada disponíveis e muito pouco interessantes (salvo uma ou outra excepção, claro).

sábado, novembro 11

Muda de Vida

Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar


Mudar de vida nem sempre é uma tarefa fácil. O desconhecido mete medo, assusta. Mas quando o que vivemos não nos completa ou nos põe a pensar que chegou ao fim o nosso tempo, é altura de promover essa mudança.

O meu tempo chegou ao fim. É altura da vida sofrer uma reviravolta. Diz-se que quando se quer muito, consegue-se. Eu consegui uns anos depois. Parto, de alma e coração, para uma aventura emocionante, inesperada e de grande desafio. Levo na memória, com carinho, todos os que me acompanharam nos meus momentos mais tristes, nas minhas dificuldades, nas grandes alegrias e horas de muita sorte. Parto com a sensação de dever cumprido e de grande crescimento pessoal. Espera-me uma nova etapa, em jeito de desafio. Um primeiro passo para um patamar que é, em simultâneo, o fechar a porta ao passado e o abrir uma outra para que o novo tome forma... Com consciência, garra e muita determinação.

terça-feira, outubro 31

Manipular para controlar

São várias as técnicas de manipulação – mais ou menos subtis – que podem ser utilizadas em diversos cenários e com diferentes objectivos. Muitas delas aprendem-se nos cursos de gestão de recursos humanos (sim, é verdade) que se oferecem nas empresas; outras adquirem-se, pelas mentes mais deformadas, ao longo de uma existência em que manipular e controlar o outro é a única forma aceitável de viver e de vencer na vida. Diria eu que é a lei do mais fraco porque os fortes chegam lá pelo seu poder e carisma naturais.

Deitar abaixo para, logo de seguida, sair em defesa do agredido, é uma das técnicas mais comuns e que, realmente, funciona com os mais desprevenidos. Funciona por desgaste de quem vive neste jogo do pega-monstro. Quem é atirado à parede para ser protegido e acarinhado quase de seguida, cai na teia da inconstância que gera baralhação, sentimento de culpa e de não se saber quem se é. Ora por que será que as vítimas de violência doméstica são pessoas sem auto-estima? Porque essa é a primeira função do manipulador: tirar à pessoa a certeza de quem ela é e fazê-la crer que é “nada” para depois se aproximar e valorizar. Pensem lá comigo: quem acha que é “nada” e tem alguém ao lado que a valoriza e acarinha, vai acabar por querer depender desse conforto e desse feedback exterior (logo, depender dessa pessoa). E já está feita a rede da qual é muito difícil sair, senão quase impossível, pois não faltará a hora em que o manipulador tentará derrubar de novo a vítima sempre que ela se tentar levantar.

Outra das técnicas de manipulação evidentes – que muita gente devia ter vergonha na cara de utilizar porque está gasta de tanto uso – é a tentativa desmesurada de protecção: o doce e romântico paternalismo. Não há pachorra para tanta palmadinha nas costas, para tanto elogio e para tanto dizer que “sim” a tudo. Quem diz que “sim” a tudo não está a ser sincero, sobretudo consigo. Porque as pessoas não são iguais, pensam diferente e têm motivações diferentes, logo, é impossível estarem sempre de acordo.

Entre estes extremos dos “lobos” com pele de cordeiro e dos paizinhos que estão é carentes e a precisar de protecção, há uma panóplia de manipulações que se vão fazendo no dia-a-dia e ao longo da vida. E enquanto vamos satisfazendo egos e alimentado o “Eu” com ilusões de poder que não passam disso mesmo, vamos magoando pessoas que a única culpa que têm no processo é a de acreditarem no amor, nos valores e na honestidade das pessoas. Solidarizo-me com todos os que, neste momento, se sentem “nada” porque alguém lhes fez crer isso (mesmo que para mim, felizmente, isto não seja válido, consigo perceber a gravidade da situação). Acredito, porém, que é possível reverter todo o processo com muita força de vontade e com um “não” redondo sempre que uma destas situações se atravessa no caminho. A auto-estima não reside, na minha óptica, em jogar vólei com o ego, mas em saber, a cada momento, o que é o mais correcto para nós e o que nos faz mais felizes. Tudo o que está abaixo ou fora disso, é mesmo para ficar assim: longe e do lado de fora.

segunda-feira, outubro 30

Dá-me licença, por favor?!

A vida é mesmo curiosa. Há momentos em que tudo se conjuga num determinado sentido e, quer queiramos quer não, somos empurrados para lá. Sejam relações, oportunidades de emprego, questões de fundo que temos de trabalhar em nós, etc, etc, etc.
Arrisco-me mesmo a dizer que não vale a pena tentar ignorar os empurrões da vida e fingir que não é nada connosco. Para o bem e para o mal.

Mais incrível do que isto é que, quando determinada "coisa" está mesmo prestes a acontecer nas nossas vidas, os cenários podem ser múltiplos, mas há uma data de personagens que se pôem a jeito para que nós cumpramos o que é suposto. E depois, perante tanta abertura e expansão repentina, fica-se meio à toa e não se sabe muito bem que ramo pisar. O mais incrível, ainda, é que quando se escolhe um ramo que se parte (porque não era por ali), os outros raminhos todos agitam-se e dizem: "Dá-me licença, por favor?! Deixe-me entrar..." E surge a escolha difícil: ora, que ramo vou eu pisar agora? E se ele se parte?! Bem, se ele se parte pelo menos fico com a certeza de que não era por ali...

sexta-feira, outubro 27

A importância de respirar

Que respirar é viver não é novidade nenhuma. Mas que respirar mal é origem de doenças, de inquietação e de desnorteamento, não é evidente para toda a gente. Quantas vezes acompanhamos o ritmo da nossa respiração, percebemos como respiramos e, em consequência, sentimos o bater do coração? Poucas ou nenhumas. Respiramos mal, vivemos mal e sentimos mal.

O convite de hoje é sentir a respiração, perceber como essa percepção nos vai acalmando aos poucos e nos vai fazendo conectar com algo muito, muito importante: o coração (esse senhor que nos mantém vivos, que sente, que se parte e magoa de vez em quando e que, por isso, precisa de ser bem tratado).

O não respirar (a um nível mais abrangente pode ser, também, ter uma vida cheia de coisas que não nos satisfazem, mas que nos mantêm ocupados) é uma forma de perder a sanidade. Às vezes apetece parar o mundo, dar um gritinho e dizer "basta". Quando se chega a este extremo é porque, realmente, tudo o que precisamos é de uma boa respiração...

quinta-feira, outubro 26

Equívocos involuntários

Se ainda tinha dúvidas, hoje fiquei com a certeza de que muitos dos mal-entendidos que surgem nas nossas vidas podem ter causas involuntárias. Decididamente, hoje não era um bom dia para comunicações (talvez a vida achasse que eu merecia descanso depois de alguns momentos de desgaste).

Começo a rede de equívocos com um telefonema em que me é dito "O teu pai ligou-te, mas não atendeste. Quando puderes, liga-lhe". O quê? O meu pai ligou-me? Mas não tenho, em nenhuma das redes móveis, chamadas não atendidas. Bem, podia estar no elevador ou no metro, mas também não recebi qualquer mensagem de tentativa de contacto... Ok, vou já resolver isto.

Prossigo a rede de equívos a apanhar um susto porque recebo no meu telemóvel uma mensagem que enviei há 2 dias para outra pessoa. Fiquei baralhada: "Terá a pessoa feito um reenvio da mensagem para mim? Mas vem incompleta e não acredito que a pessoa fizesse isso".

A rede de equívocos continua quando recebo, ao final da tarde, uma mensagem que marcava ter sido enviada há algumas horas, curiosamente da mesma pessoa a quem enviei há dois dias a mensagem que hoje me voltou ao telemóvel e que acho que não foi a pessoa a reenviá-la, mesmo que tenha vindo com o número dela (isto não é mesmo para perceber, não se preocupem). O mais curioso é que tinha um envelope preso no visor do telemóvel e a gaita da mensagem não aparecia. Quando apareceu, veio incompleta mas eu nem me apercebi disso. Quando se completou, já eu tinha respondido à primeira mensagem (ainda que com um delay de 3 horas, mas não tive culpa) e tive de voltar a acrescentar qualquer coisa (não faço ideia se a resposta chegou ou não).

Primeiro, o pai nunca me levaria a mal por eu não lhe ter retribuído uma chamada que nunca chegou, mas imagine-se que era outra pessoa ou um assunto profissional? Podia dar logo azo a um valente mal-entendido. Depois, no que respeita à troca de mensagens em delay e muito baralhadas, só serviriam para agudizar mais uma situação já de si fragilizada.

E eu concluo que, às vezes, somos mesmo marionetas de uma coisa estranha que não sei se hei-de chamar destino, sinais ou mesmo problema de telecomunicações em duas redes móveis. Uma coisa estranha que não deu asneira, mas que podia muito bem ter dado.

Depois penso naquelas vezes em que não nos ligam de volta ou não respondem às mensagens. Se calhar, muitas delas são também fruto destes equívocos involuntários. E nós a pensarmos que não nos ligam e que se estão a borrifar para nós. Realmente, há coisas que nos escapam mesmo ao controlo (e que isto agora não sirva de desculpa aos mais "desapegados" e esquecidos no planeta dos telefonemas e das mensagens).

quarta-feira, outubro 25

É nos momentos de crise...

É nos momentos de crise que se vêem os amigos. É bom verificar que há pessoas que nos dão a mão quando mais precisamos, que nos tratam com carinho e que nos demonstram (por actos e não apenas por palavras) o quanto gostam de nós.

Numa época de turbulência e desorientação como a que as nossas vidas (algumas, não as de todos, espero eu!), o país e o mundo atravessam, é bom sentir que não nos falta o chão porque, em última análise, quando tudo falha estão lá os amigos para dar uma "mãozinha". E há amigos que aparecem de onde menos se esperava. Assim como há ajudas que chegam sem que as pessoas percebam que as estão a dar.

Por isto tudo e muito mais, só é possível estar grato à existência (que tudo revoluciona e estremece, mas que de imediato traz os binóculos e os curativos que dão esperança e muita força para continuar). O segredo é estar atento...

terça-feira, outubro 24

Os outros com óculos cor-de-rosa

Há muitas formas de olhar os outros e o mundo que nos rodeia. Além de outras variantes, há quem parta para as relações humanas desconfiando sempre do outro, até prova em contrário, e quem ponha uns óculos cor-de-rosa e acredite nos outros... até prova em contrário.

Eu prefiro entrar nesta última vertente. Apesar de saber que o mundo está cheio de pessoas más, conflituosas e mal intencionadas, recuso-me a desconfiar, à partida, das pessoas. Porque isso mina as relações, porque isso cria distanciamento e porque isso nos faz viver constantemente desconfiados e em sobressalto. Além de que nós nos projectamos nos outros e, obviamente, se não lhes queremos mal nem temos pretensão de fazê-lo, nem sequer imaginamos que o outro nos possa fazer isso a nós.

Mas, de facto, olhar para o melhor que há nos outros nem sempre é a forma mais fácil de lidar com os defeitos, as crueldades e as parvoíces próprias de qualquer ser humano. Se calhar é bom começar a identificar logo o que “está mal”, o que não bate certo, o que é deplorável no comportamento alheio. Como também somos humanos e erramos – tantas vezes de forma cruel e injusta – acabamos por dar o desconto e achar que o outro, afinal, estava era num mau momento, mas não é mau por natureza. Mas quando os maus momentos se repetem e repetem, deixa de haver margem para descontos. O mais deplorável, mesmo, é quando o outro sabe que nós somos assim e se aproveita disso para jogar o seu jogo e ser manipulador. Uma táctica que se percebe à distância, mas que se continua a não querer ver nem acreditar porque se tem a convicção de que não há motivo nem hipótese de o outro ser assim para nós (qual a razão? Nós não somos nem seremos assim para ele!!!! E isso nem sequer faz parte da nossa metodologia de acção!).

Seja como for, sofre-se quando se olha para os outros com óculos cor-de-rosa. Muitas vezes, a realidade é pintada de outras cores e toma outros contornos. Longe vão os tempos de indignação pelo tempo perdido na confiança que demos ao outro. Quando se avança no processo de conhecimento humano e da ilusão/desilusão acaba-se por avançar com a convicção de que vale a pena sermos como somos. Fomos honestos, fiéis a nós próprios e aos valores em que acreditamos. Além de que as máscaras que pomos – e todos as vestimos, não vale a pena negar – não são para manipular ou para ganhar um desafio. São, muitas vezes, para nos protegermos e adaptarmos ao meio ambiente. E só isto justifica representar um papel e poder chegar a fazer figura de palhaço.

Sempre ouvi dizer que as pessoas menos calculistas, mais abertas e sensíveis são as que sofrem mais. Eu acrescento aqui que as que gostam de olhar para os outros com óculos cor-de-rosa e, quando os observam, olham bem fundo no olho para retirar o que de melhor há lá dentro, também passam por momentos de grande desilusão...

segunda-feira, outubro 23

Segunda-feira ou a síndrome da desorientação geral

Hoje parece estar a ser um dia difícil para muita gente. Uns de “trombas”, outros tristes sem saberem o que têm... Um facto é que o Natal se aproxima – desculpem-me todos os que gostam da época, mas eu detesto-a – e vêm à mente a falta de dinheiro (porque se está numa altura de prendas e nem sempre se tem dinheiro para isso), a ausência da família e dos que amamos (uns morreram, outros separaram-se de nós e pode muito bem ser o primeiro ano que passamos sem eles) e o reposicionamento de quem somos e do que fazemos aqui (típico das pessoas mais sensíveis quando se aproxima esta altura).

Eu cresci a ouvir a teoria de que quando se tem dinheiro é tudo mais fácil porque se iludem estas tristezas com um presentinho ou com um mimo. Depois também cresci a ver pessoas que não têm nada disso e que andam de sorriso estampado no rosto. O que me leva a pensar se gostaria de ter mais para me poder “iludir” de vez em quando ou se devo estar grata por tudo o que tenho e que, algumas vezes com muito esforço e muita determinação, consegui construir e agora posso dizer que “é meu”.

Mas depois, na sequência deste mesmo pensamento, começo a questionar-me se existe algo que seja verdadeiramente “nosso”. Porque o que pensamos ter pode ir embora a qualquer momento. Por outro lado, com este tipo de pensamento podemos ir anulando, por exemplo, a possibilidade de sonhar mais além em termos de aquisições materiais... E será que é isso mesmo que importa?

Pois, neste embrulho de pensamentos que se sucedem e que servem para ir justificando os anteriores, vou dando comigo a apetecer-me comprar já uma viagem e partir só, com destino definido, mas sem programa ou objectivos. Daquelas viagens que servem, ao mesmo tempo, para nos encontrarmos a nós próprios, para vermos pessoas bonitas que nos sorriem e metem conversa (mesmo que seja tentativa de engate, que se lixe, há sempre a hipótese de dizer “não” no final), para tropeçarmos noutras que andam perdidas na mesma caminhada ou na mesma busca.

Sabe bem ter um ombro amigo que nos entenda e fale, de vez em quando, uma determinada linguagem. Faz-nos sentir acompanhados, faz-nos sentir que alguém se preocupa connosco, faz-nos sentir que o mundo até pode acabar mas que não estamos sozinhos (e devo confessar que, na fase a que cheguei, acho que só isso me importa. Poder contar com alguém que eu sei que está lá sem nenhuma intenção para além da de gostar de mim verdadeiramente e querer o meu bem).

Mas também percebo que, embora eu consiga fazer isto pelos outros, eles não têm qualquer obrigação de fazer isto por mim. Em suma, é segunda-feira, o feliz dia da desorientação geral.

sábado, outubro 21

Que nunca te falte tempo...

Nos dias que correm, o factor tempo é preponderante para gerirmos as nossas vidas, dar prioridade a quem amamos, realizarmos o que nos faz felizes e conciliar isso com o nosso emprego (ou vice-versa, porque passamos mais horas a trabalhar do que a fazer tudo o resto). O tempo serve, também, de desculpa esfarrapada para não fazermos o que não nos apetece ("oh, desculpa, eu ia ligar mas não tive tempo"; "oh, desculpa lá, mas não tive tempo de parar o carro e falar contigo"; "eh pá, desculpa lá, mas ontem não tive tempo por isso não combinei o tal café contigo. Fica para a próima").

No seminário do médico colombiano Jorge Carvajal foi dado um exemplo que já me tinha chegado por mail e que transcrevo:

"Na sala de aula, o professor estava de pé com alguns objectos em cima da secretária. Quando a aula começou ele, calado, pegou num frasco grande de vidro vazio e começou a enchê-lo com bolas de golfe. Quando não cabiam mais, ele perguntou
aos alunos se achavam que o frasco estava cheio. Todos responderam que sim. O professor então pegou num saco de feijões secos e, ao chocalhar o frasco, estes iam entrando para os buracos vazios entre as bolas de golfe. Quando não cabiam mais, ele perguntou aos alunos se achavam que o frasco estava cheio. Todos responderam que sim.

Neste ponto, o professor despejou um saco de areia para dentro do frasco. Como é óbvio, a areia ocupou todo o espaço restante do frasco. Quando não cabiam mais ele perguntou aos alunos se achavam que o frasco estava cheio. Todos responderam que sim.
Foi então que o professor agarrou em dois copos de café e os entornou lá para dentro. Agora sim, não havia mais espaço. Os alunos desataram a rir!!! "Agora," disse o professor enquanto as gargalhadas ainda se ouviam, "eu quero que vocês reconheçam que este frasco representa a organização da vossa vida".

-"As bolas de golfe são as coisas mais importantes: a família; os filhos; a saúde; os amigos e tudo o que vos é mais querido, de modo a que se tudo na vida desaparecesse e só ficassem elas, a vossa vida continuava cheia!"
- "Os feijões são as outras coisas importantes da vida: o trabalho; a casa; o carro;
-"A areia é tudo o resto das coisinhas pequeninas." Se encherem primeiro o frasco com a areia, já não há espaço para o feijão nem as bolas de golfe.

O mesmo se passa com a vida. Se gastarem todo o tempo e a vossa energia com as pequenas coisas nunca vão ter espaço para as coisas que são verdadeiramente importantes para vocês. Prestem atenção às coisas que são essenciais à vossa felicidade. Brinquem com as crianças. Tirem tempo para ir ao médico, talvez fazer
um check-up. Saiam para um jantar romântico. Vai haver sempre tempo para arrumar a casa, para despachar um trabalho que só falta um bocadinho. Tomem conta das vossas bolas de golfe primeiro, das coisas que têm mesmo importância. Tenham prioridades. Para o resto vai sempre haver espaço. Não encham o vosso frasco primeiro com a areia, pois as bolas de golfe não vão caber no fim.

Um aluno perguntou: - E o café, o que é ?
- Ainda bem que perguntas. Eu ia agora mesmo dizer-vos. É que mesmo que sintam que a vossa vida está cheia, há sempre espaço para beber um café com um amigo."

"Que nunca te falte tempo para tomar um café com um bom amigo", disse Carvajal. Talvez porque, para ele, a nossa crise é de Humanidade, é uma crise daquilo que somos. E o que somos auto-recria-se e é tão mais poderoso quanto maior for a nossa capacidade de compreender o outro, de o acolher com carinho, de dar um pouco do nosso tempo para conhecê-lo e, como ressonância, conhecermo-nos melhor a nós.

"Amar é responder à necessidade"

Esta frase é do médico colombiano Jorge Carvajal, que esta semana esteve em Lisboa a dar um seminário sobre Sintergética (concepção de vida e da medicina que trabalha com diversas disciplinas, sempre com o objectivo de entender o ser humano como um todo e ajudá-lo a melhorar-se).

O mais fascinante do discurso deste médico "tradicional" - que um dia percebeu que a cura das pessoas vai muito além da medicina convencional - é que ele fala das coisas com alma e sem meias medidas. O que diz pode ser tão poderoso (e quase imbatível porque ele comprova com factos e estudos aquilo que defende) que não é de admirar que algumas pessoas saiam a meio e que outras se sintam desconfortáveis.

Para mim, entre os diversos abanões proferidos considero este de especial destaque: "Amar é responder à necessidade". Ou seja, amar nada tem a ver com a visão egocêntrica de dar para receber o melhor em troca, de forma a sentirmo-nos preenchidos e satisfeitos. Amar passa por ter em atenção o que o outro precisa para se sentir "querido" e partir ao encontro dessa necessidade de peito aberto, de coração grande e disponível. E isso faz a diferença.

"Você sente-se querido pela sua mulher?", é uma das perguntas que o médico faz aos pacientes que o procuram como forma de diagnóstico. Porque, diz Carvajal, "quem não se sente querido está perdido".

Tendo em conta que a vida é um processo de aprendizagem, a repetição de padrões de comportamento indicia a necessidade de mudança, que para o médico passa por alterar a atitude e resgatar a imagem arquetípica que cada um tem de si próprio. E lá vem outra tirada bombástica: "o importante não é o que se passa, mas o significado que lhe damos e é possível mudar a história quando mudamos o significado".

E por esta me fico, pois há informação que é importante digerir...

quarta-feira, outubro 18

Pensamentos...

"Enquanto procuras a luz poderás ser subitamente devorado pela sombra; E só então terás encontrado a verdadeira Luz."
Jack Korvac

"Suprimir a sombra é como querer curar uma dor de cabeça com uma pancada."
C.G. JUNG

"O ser-se humano é como uma casa de hóspedes.
Todas as manhãs uma nova chegada.
O pensamento negro, a vergonha, a malícia,
Recebem-nos à porta, rindo e convidam-nos a entrar.
Dêem graças por quem vem,
Porque cada um foi enviado como um guia."
Rumi

terça-feira, outubro 17

A Magia da Adolescência

Hoje, no metro, vinham duas adolescentes sentadas ao meu lado. A conversa girava em torno de uma médica, que elas não sabiam se haviam de consultar em Lisboa ou mais perto de casa delas. Essa médica, supostamente, era a ginecologista a quem iriam contar a sua primeira experiência sexual e ver se "estava tudo bem" (como diziam uma para a outra).

Ouvir isto fez-me voltar ao passado e aos tempos em que tudo era fantasiado, romantizado, e em que essas coisas eram importantes para nos conseguirmos posicionar no mundo "dos adultos". Tal como foi no meu tempo, também estas duas adolescentes estavam cheias de problemas em ir à médica. Não por vergonha da especialista, mas porque tinham de inventar uma desculpa para dar às mães. "Olha, dizes que te vais encontrar comigo", dizia uma. "Oh pá! Mas eu nesse dia não vou poder sair de casa!", respondia a outra, preocupada.

Mais profundo do que isto foi uma delas confessar que achava melhor dizer a verdade à mãe, mas que só iria revelar o seu segredo quando arranjasse um namorado para lhe apresentar. Cá está, de novo, o peso do julgamento social. Do bem e do mal que cai sobre as nossas cabeças porque, supostamente, não se fez a coisa certa, o que manda o figurino.

Apeteceu-me descobrir onde elas iam sair para meter conversa (acabei por verificar que saíram na minha estação). Para dizer que aquilo assusta, mas que não é nada de transcendente. Que há pessoas que nos julgam e que até podemos viver com o peso da culpa de não ter sido "certinhas", da nossa história não ter sido tão bonita quanto esperávamos - e quanto todos esperavam de nós - ... mas pode acontecer a qualquer um e não é o fim do mundo. É, sim, um passaporte para uma dimensão mágica que nos diz que o importante é estarmos bem connosco e sentir que fizemos o que achámos ter sido o mais correcto no momento.

Depois houve outro momento engraçado. Uma delas passou a mão pela cara e disse: "não vou lavar a cara nem deixar que ninguém me beije hoje". Se a sua primeira experiência aconteceu ou não esta manhã, não sei. Mas sei que algo de especial ela viveu e isso ficou gravado e foi transmitido de forma pura e muito apaixonada. E eu pensei de novo nesses tempos em que tudo era cor-de-rosa (ou, pelo menos, assim queríamos acreditar) e em que me apaixonava de corpo e alma. Catorze anos depois, a magia dos momentos é outra...

segunda-feira, outubro 16

Levem lá a bicicleta...

Há pessoas que querem ter razão à força, mesmo quando não têm e estão a perturbar os outros. Detesto ter de dizer isto porque parece pretensioso, mas tenho verificado (obrigada, em parte, pelo meu trabalho) que muitas pessoas que vivem mais afastadas de Lisboa têm algum preconceito e complexo em relação aos lisboetas e a quem trabalha na Capital.

Cada vez que se telefona para um sítio numa destas localidades (normalmente entidades públicas), há uma necessidade imensa de tratar tudo e todos por Dr. (uma coisa que me tira do sério porque o que eu preciso é de ajuda e de informações e não de saber o título das pessoas). Depois, há uma total atrapalhação em relação ao que é pedido. Ninguém sabe de nada e ninguém se responsabiliza por dizer o que quer que seja. Resultado: quando agora me vêm dizer que os media não divulgam... vão-se lixar. Os media podem não divulgar muitos eventos fora das grandes cidades porque a informação NÃO PASSA. Quem é pago para isso não faz um bom trabalho, mesmo que a boa vontade dos media seja muita.

Isso hoje aconteceu-me. Os telefonemas passam de secção em secção, sempre com vozes trémulas a atabalhoadas a dizerem “não sei nada disso”. Até que há sempre alguém que pensa que sabe tudo e, julgando-se dono da razão e da moral, não olha para o umbigo e aponta o dedo ao alvo mais fácil: “você se calhar não fez a pergunta certa”, “você, se calhar, não ligou para o sítio certo”, etc, etc. Além de, das 12h às 16h não se conseguir encontrar ninguém que fale porque ou acabou de ir almoçar ou ainda não voltou do almoço.

E pronto. Quem vive oprimido e com o complexo de inferioridade, depressa coloca as divisas e sobe ao pedestal. Para dar lições de boa educação, para verbalizar o que os colegas não querem ouvir (e vai ter de ser o jornalista) e para ter razão. Curiosamente isto deixou de me irritar. Uma resposta à altura, umas técnicas de argumentação para fazer a senhora descer do pedestal (porque quanto maior a subida, maior pode ser também a queda) e um pensamento que fica mal acaba o telefonema. Realmente, as pessoas têm uma necessidade imensa de ter razão. Como odeio conflitos e não estou para me chatear... levem lá a bicicleta, se isso vos fizer felizes. Mas será que vos faz melhores pessoas a cada dia que passa?!!!

domingo, outubro 15

Em sintonia com a Lei da Atracção

Vários autores falam de algo meio misterioso, mas bastante funcional e real, que consiste na capacidade de cada um conseguir atrair o que quer para a sua vida. A um nível superficial, falar disto é completamente absurdo porque, diz-se por aí, "a vida é assim" e "cada um nasce com a sorte que nasce".

Há um exemplo que costuma ser dado e que ajuda a perceber um pouco melhor a "Lei da Atracção". Imagine-se um dia em que acordamos com os 'pés de fora'. Continuar nessa vibração de má disposição leva a que tudo o que nos vá acontecendo seja encarado como mais uma desgraça existencial, que se vai repetindo até ao final do dia. Se, ao invés disso, mesmo acordando com os 'pés de fora', se sair de casa com uma atitude mais optimista, o mais provável é que os factores externos que iriam tornar o nosso dia numa desgraça não passem de "fait-divers" que não nos vão afectar grandemente. Muitos deles podem, até, ser encarados como coisas positivas que ainda bem que aconteceram. Esta é a forma mais básica e simplista da Lei da Atracção, que comporta muitos outros factores.

O curioso é quando conseguimos pôr a funcionar a Lei da Atracção, mas percebemos que não a dirigimos para o que nos faz sentir mais vivos. Querer ser rico, por exemplo. Já alguém perguntou "para quê?". Pergunta-se "Como?", "Quando?", "De que forma?" e faz-se tudo o que se pode para se conseguir. E até se consegue. Mas como se esqueceu o fundamental, o "para quê?", é muito natural que toda essa riqueza não nos preencha e nos faça sentir infelizes na mesma.

Eu insisto na tecla: dinheiro, poder, riqueza, estrelato, não são condições "sine qua non" para uma vida realizada e feliz. Com menos, há quem se contente e realize muito mais. E lá está de novo a lei da atracção. Quando nos contentamos com menos e nos centramos nos "para quê?" da nossa vida, depressa percebemos que podemos ter dinheiro, poder, riqueza e estrelato, mas que antes disso tivemos as bases sólidas que foram construídas de dentro para fora e que nos fazem separar o que é importante - para nos completarmos enquanto pessoas e seres humanos (que erram, que têm fragilidades, que também precisam de alimentar o ego de vez em quando) - daquilo que nos torna importantes perante os outros. E aqui, do meu ponto de vista, reside a grande diferença...

terça-feira, outubro 10

O mistério das relações

Foi com entusiasmo que hoje peguei numa revista "Xis" (sai ao sábado com o "Público") e verifiquei que o tema de capa é a Vida a Dois. Talvez pela divulgação dos dados da violência doméstica ou talvez porque é urgente falar de relações, esta semana são muitos os jornais/revistas a dedicarem espaço a esta temática, mas de uma forma incisiva e que dá que pensar. E ainda bem.

Recomendo o dossier que a "Xis" fez e que resume as dinâmicas de relação, o que está por detrás do mecanismo da atracção, o que leva a que as pessoas andem insatisfeitas e a que muitas relações acabem. Parece-me um retrato fiel da realidade, que acaba por lançar um apelo que há muito subscrevo: "Urgente: relações mais criativas".

Para aguçar a curiosidade, aqui fica um "cheirinho" da introdução do artigo:

"As relações afectivas não falham por acaso, assim como as nossas escolhas afectivas obedecem a uma lógica real, porém inconsciente. A razão desse insucesso prende-se com medos, carências e inseguranças infantis, e deve-se à rigidez mental que fomos desenvolvendo por defesa. A solução reside na tomada de consciência de todas estas dificuldades."

Contra a Violência Doméstica

Porque o tema é sério e merece destaque, cá vai um texto que tem circulado pela Net e este fim-de-semana saiu numa revista semanal. Já agora, apesar deste ser um exemplo extremo, a violência doméstica inclui também todo o tipo de violência verbal e psicológica (que pode não matar, mas mói e de que maneira...).

"Hoje Recebi Flores!
Não é o meu aniversário ou nenhum outro dia especial;
tivemos a nossa primeira discussão ontem à noite e ele disse-me muitas coisas cruéis que me ofenderam de verdade.
Mas sei que está arrependido e não as disse a sério, porque ele me enviou flores hoje.
Não é o nosso aniversário ou nenhum outro dia especial.
Ontem ele atirou-me contra a parede e começou a asfixiar-me.
Parecia um pesadelo, mas dos pesadelos acordamos e sabemos que não é real.
Hoje acordei cheia de dores e com golpes em todos lados.
Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje.
E não é São Valentim ou nenhum outro dia especial.
Ontem à noite bateu-me e ameaçou matar-me. Nem a maquiagem ou as mangas compridas poderiam ocultar os cortes e golpes que me ocasionou desta vez.
Não pude ir ao emprego hoje porque não queria que se apercebessem.
Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje.
E não era dia da mãe ou nenhum outro dia.
Ontem à noite ele voltou a bater-me, mas desta vez foi muito pior.
Se conseguir deixá-lo, o que é vou fazer?
Como poderia eu sozinha manter os meus filhos?
O que acontecerá se faltar o dinheiro? Tenho tanto medo dele!
Mas dependo tanto dele que tenho medo de o deixar.
Mas eu sei que está arrependido, porque ele me enviou flores hoje.
Hoje é um dia muito especial: É o dia do meu funeral.
Ontem finalmente conseguiu matar-me.
Bateu-me até eu morrer.
Se ao menos tivesse tido a coragem e a força para o deixar... Se tivesse pedido ajuda profissional...
Hoje não teria recebido flores!"

segunda-feira, outubro 9

A Insegurança Masculina... mais uma vez

Apesar das estatísticas sobre a violência doméstica em Portugal me espantarem um bocadinho, as conversas que vou tendo com frequência com as pessoas que me rodeiam e que vão entrando e saindo da minha vida (muito por culpa da profissão) não me deveriam ter deixado assim tão boquiaberta.

Muitos são os homens com quem falo que argumentam isso mesmo: "mulher bonita, inteligente e independente é perigosa de mais para se ter por perto". "E porquê?", pergunto eu. "Porque tem outros homens atrás, logo, a insegurança que causa é maior; porque pode prescindir de nós a qualquer momento; porque dá mais trabalho contentar e manter; porque podemos acabar por sofrer mais...", dizem eles. E eu continuo a ficar com cara de xis a ouvir estas e outras argumentações. E contra-argumento: "mas não se orgulham de ter alguém assim por perto? É, por exemplo, o que uma mulher pode querer: um homem com essas características... Além de que, se está convosco é porque QUER!". E eles contra-atacam: "Pois, pois! Aparece um gajo mais giro, com mais papel e mais charme e lá vamos nós de carrinho...". E eu penso, com uma cara de xis ainda mais pronunciada: "Meu Deus! Mas será que é mesmo isto que se passa no mundo das relações? Onde está o amor, o sentir o outro, o estar em paz só porque ele existe e está presente? Perdeu-se para dar lugar a um carro topo de gama, a uma casa com prestações tão altas que é preciso estar agarrado a um emprego estável a vida toda, a uma vida de fachada?". Pior do que isso: as mulheres bonitas, independentes e inteligentes são, eventualmente, para dar umas voltas. Para "casar" (bagh, que visão tão machista e desgastada), os homens de agora preferem que sejamos burras, um bocadito dependentes, e talvez não tão belas quanto isso porque eles, coitados, não conseguem aguentar (pelos vistos, que eu nesta estupidez prefiro ser céptica).

Claro que têm e terão sempre olhos para as belas, mas essas são aquelas que podem ser de todos e que, por isso, nem vale a pena ter por perto durante muito tempo. Talvez o tempo suficiente para insuflar o ego. Outra coisa que tenho reparado é na necessidade de estatuto que anda por aí a vaguear. Em nome de um estatuto aguenta-se muita bomboca e muita vida de merda. O que as pessoas ainda não perceberam é que o verdadeiro estatuto está dentro. Reside na capacidade de, com segurança, sabermos quem somos e conseguirmos lidar com dignidade com cada situação que se atravessa pela frente.

Acho que sobre isto dava para escrever um testamento. Mas remato - que isto já vai longo - com mais uma filosofia de cinco tostões (que, pelo que vejo ao redor, a malta não gosta de ir às profundezas): há, pelos vistos, muitas mulheres por aí que pensam que nelas ninguém "vai pegar" e que se devem sentir desenraizadas e completamente fora dos padrões que elas acham que os homens têm das mulheres e dos relacionamentos. Pois eu considero que são essas mesmo as que dão "mais pica". Se fosse homem (mas ainda bem que não sou), entrava no desafio. Enquanto mulher que vai ouvindo daqui e dali e se vai espantando com algumas revelações, posso dizer que essas mulheres não estão sozinhas na realidade e que a solidão, apenas ilusória, é simplesmente o preço a pagar por uma vida relacional de alto nível. Tudo tem um preço, certo? Ser exigente, pensar e agir de forma diferente tem o seu preço, mas também tem o seu resultado: na hora do desfrute tem-se a possibilidade de jogar em campeonatos que não são para qualquer um...

domingo, outubro 8

Violência doméstica e homens inseguros...

Pela primeira vez, a Amnistia Internacional destaca o fenómeno da violência doméstica em Portugal como uma situação grave de violação dos direitos humanos. Se, por um lado, aumentaram as denúncias das vítimas em relação a 2005; por outro lado, os crimes cometidos sobre as mulheres são cada vez mais graves (em 2005, 33 mulheres foram mortas no seio familiar no nosso País).

O que realmente me espanta são as idades dos agressores e os motivos da agressão. Diz-se no estudo que estamos a falar de homens entre os 25 e os 45 anos (!!!!) que agridem por insegurança resultante do facto das mulheres serem cada vez mais autónomas e independentes. Ou seja, inverte-se o fenómeno: dantes, a dependência completa das mulheres levava os homens a abusarem do seu "poder" e as mulheres a subjugarem-se a uma condição que se julgavam incapazes de inverter. Hoje, ter-se "voto na matéria" leva ao descontrolo masculino.

E é nestas ocasiões que o meu lado feminista vem ao de cima... Eu acredito na inteligência humana, no bom senso e na capacidade de resolver conflitos sem recorrer à lei do mais forte. O que me leva a não perceber a razão da insegurança de um homem perante uma mulher independente (assim como perante uma mulher bonita e inteligente). Meus caros, tentem raciocinar comigo: se uma mulher bonita, inteligente e independente vos escolheu - no meio dos 100 ou 200 que poderia ter escolhido porque tem poder para isso (estou a exagerar um bocadinho, mas acho que às vezes é preciso esticar a corda para se conseguir ter alguns efeitos) - é porque QUER estar convosco. Mesmo que muitas vezes o coração tenha razões que a própria razão desconhece. Cabe-vos, então, a vocês darem-se ao trabalho de merecerem que uma mulher com estas características vos escolha. E garanto-vos que não é pelo uso da força ou da violência verbal e psicológica que o conseguem.

Além de que acredito noutras coisas muito mais poderosas do que a argumentação, o dinheiro, a dependência, a força ou o poder de manipulação. E talvez seja isso que me cause náuseas quando desmonto os modelos de relacionamento existentes. Estão gastos, cheiram a mofo, não entusiasmam minimamente e não podem ir muito longe (mesmo que pareçam fantásticos porque duraram 10 anos). No fundo o que todos ambicionam é conseguir ter o que se convencionou em termos relacionais: um casamento estável, uma família, filhos, uma casa... Em busca deste padrão que pode muito bem não ser o delas, as pessoas batem com a cabeça como peixinhos num aquário. Vislumbram o que está fora e tentam correr para ele, mas esquecem-se que há barreiras (as da sua personalidade, as qualidades únicas que as identificam a elas próprias) que as impedem de chegar lá ou de viver o "lá" em plenitude.

Não compreendo, nunca compreendi, nem irei compreender o que leva alguém a orgulhar-se de ter o outro pela força. E o que mais me mete pena é que aquilo que sempre se criticou nas gerações anteriores (se me posso referir assim ao modelo de violência doméstica existente no passado) se repita, ainda que utilizando outros moldes.

terça-feira, outubro 3

Fiel ou Infiel? - O telelixo continua

Pensei que o verdadeiro lixo televisivo que é o programa da TVI "Fiel ou Infiel?" já tivesse acabado, mas eis que sou surpreendida uma destas noites enquanto fazia zapping. O conteúdo não podia ser mais degradante, de todos os pontos de vista. Um apresentador irritante, sem piada nenhuma; um "cornudo" (simulado, porque ali nada é real) com ar de atrasado mental; um "sedutor" de meter medo ao susto (todo insuflado, com mania que é bom); e uma tipa que trocou o atrasado mental (com quem estava casada há 17 anos, supostamente, entenda-se) pelo homem "Michelin" sem cérebro. Junte-se a isto a estupidez do público, que grita em êxtase não se percebe bem o quê, e tem-se a perfeita fórmula daquilo que um programa não deve ser: mau, sexista e sem ponta por onde se lhe pegue.

Confesso que a parte que mais me irritou - e me fez falar sozinha a reclamar, como se alguém me estivesse a ouvir - foi a suposta sedução que acabou no quarto. O cenário é mau, o enredo é deplorável e a história nada convincente. Só visto. O homem "Michelin" rodava e rebolava a "senhora" como se de um saco de batatas se tratasse, mesmo a fazer figura para a câmara. E a parte das palmadas no rabo, mesmo à homem das cavernas?!!! Por favor... Não parti a televisão porque é minha e não podia comprar outra... Mas vontade não me faltou. Além da falta de credibilidade. Ninguém se "enrola" daquela maneira. Ninguém dá mil voltas à cama a despir e a voltar a vestir a roupa. Ninguém leva (ou dá) mil palmadas no rabo, em poses estratégicas, e despe e volta a vestir a roupa... Ninguém dá um beijo no pescoço, pára, e dá o seu pescoço a ser beijado, tipo "toma lá, dá cá". Por favorrrrrrrrrrrrrrrr! Tirem-me este programa do ar. Toda a gente sabe - ou devia saber - que eles são pagos para inventar aquela história. Logo, não vale a pena tornar "aquilo" um programa no topo das audiências. É mentira, não tem graça e não se aprende nada. Se bem que depois fiquei a pensar... A plateia é quase toda composta por pessoas de uma certa idade. Talvez aquela "merda" de programa preencha o imaginário de quem foi habituado a dar beijos sem língua, a fazer amor às escuras e só para procriação...

segunda-feira, outubro 2

A Senhora da Água

Sendo uma apaixonada por tudo o que "está para além de...", depois de "O Sexto Sentido", "Sinais" e "A Vila", não podia deixar de ver o filme "A Senhora da Água", de M. Night Shyamalan. O tipo é giro que se farta e aparece neste filme da forma como nunca o fez nos outros. Não considero que este seja um dos seus melhores trabalhos, mas acaba por ser uma forma "light" de fazer passar a mensagem mais mística de que nada acontece por acaso e de que cada pessoa tem a capacidade de afectar outra e o que está à sua volta.

"A moral da história é que toda a gente em cada janela de cada casa tem o potencial de fazer algo que vai afectar os outros, e temos que acreditar nisso. Temos que abraçar esta filosofia de elo-numa-cadeia", diz Shyamalan numa entrevista.

Não gostei do monstro - que estava mal feito e pouco credível - e se a intenção era colocar ali teorias do desenvolvimento pessoal e da origem do que nos acontece na vida, Shyamalan fê-lo de forma simples e muito básica. Mas que me parece a adequada a chegar a quem não acredita em nada. Mesmo assim, para que não se ache o filme uma grande "palhaçada", é preciso pôr a descrença de parte e abrir ligeiramente as portas à fé e ao "tudo é possível". Há, ainda, espaço para o humor e para momentos de descontracção, que ajudam a tornar o filme algo a ver.

Eu gostei, mas não supera a inteligência e subtileza de "O Sexto Sentido".

quinta-feira, setembro 28

Desaparecer sem deixar rasto

Confesso que nestes últimos dias tenho pensado seriamente em acabar com este espaço que, ainda há pouco tempo, considerei ser uma espécie de “depósito” de ideias, opiniões que não valem além disso mesmo, emoções, pensamentos profundos ou de trazer por casa (depende da forma como levamos a vida e, em determinados dias, olhamos para ela), etc, etc, etc.

Quem sabe um destes dias acordo e concluo que não me apetece mais continuar com isto. Ou crio um novo em completo anonimato, para ser descoberto por quem lhe apetecer apanhar uma seca ou sossegar porque fez um processo de identificação e não se sente tão sozinho (o efeito nunca se sabe, pode ser variado e, sinceramente, não é importante para mim). Um blogue é isso mesmo... Uma pequena divisão da nossa casa interior que se abre a estranhos e que os deixa opinarem e serem quem são, como qualquer anfitrião faz de boa vontade aos seus visitantes. Mas aqui está a perversidade desta abertura. É que uma qualquer filosofia que nos passou pela cabeça e que resolvemos pôr preto no branco na nossa “divisão” passa de imediato, para quem lê, a um estado de espírito ou de vida do seu autor. Eu, que me movo no mundo da escrita - e que conheço os seus diversos registos e motivações -, posso assegurar que não é assim tão linear. E depois lá estamos nós, autores, a sentir necessidade de nos justificarmos. “Não, não! Estou óptima/o, não aconteceu nada”. “Não, claro que não era sobre ti! Mas, de facto, o que aconteceu levou-me a reiterar o que já sabia/sentia/pensava e apeteceu-me escrever sobre isso”.

Na lógica de pequena divisão interior que se abre ao exterior (porque a casa é muito, muito grande e nunca se mostra toda), o blogue é uma forma de acolhimento, refúgio, maneira de espairecer como, mal comparado, se fumasse um cigarro, desse uma queca ou lesse um livro (OK! Corro o risco da comparação da “queca” provocar reacções, mas assumo as consequências...). A ideia é que se trata de um escape como outro qualquer e aqui não importa o que dá ou deixa de dar mais prazer. Porque uma MÁ queca não é sequer comparável ao prazer que dá escrever (para quem tem paixão pela escrita).

Bem, ainda não é hoje que vou desaparecer sem deixar rasto. Mais uma vez, uma situação levou a que me apetecesse escrever algo... a que me dedicarei a seguir...

terça-feira, setembro 26

O Sapo Surdo

Hoje enviaram-me uma fábula muito interessante que metaforiza aquilo que os verdadeiros vencedores devem fazer para alcançarem os seus objectivos. Quando falo em vencedores não me refiro a quem, de mão beijada, é colocado no poder nem a quem desempenha cargos de "alto nível". Para mim, os vencedores, são todos os que se incluem no que a seguir vou contar (e que podem passar por nós rotos e descalços em qualquer rua da cidade).

A fábula dos sapos fala de uma corrida de uma centena destes bichinhos até ao cimo de uma torre. Os que assistiam à louca epopeia, gritavam a avisar que eles não iam conseguir. Um a um, os sapos iam caindo antes do topo, sempre perante os gritos loucos e desmotivadores da plateia. Para espanto de todos, um dele subiu, subiu, subiu e alcançou o topo. Era um sapo surdo. Não poderia, de modo algum, ouvir o que lhe diziam e tinha um grande objectivo pela frente: conseguir realizar o seu sonho de chegar ao topo da torre.

A moral desta história, que também vem no documento que me enviaram, é que alguém que quer chegar a alcançar os seus sonhos não deve dar ouvidos à plateia pessimista e chata que constantemente nos rodeia. "Believe in yourself and your dreams will come true!", diz-se no mail ("Acredita em ti e os teus sonhos tornam-se realidade"). Posto isto, não me vou pronunciar muito mais. Apenas remeter para aqui todos aqueles que vivem no pessimismo e que têm o dom de tentar sempre estragar a vida aos outros. Para que conste, eu sou e serei um sapo surdo. Quando chegar ao topo da minha torre eu dou notícias...

segunda-feira, setembro 25

Trivialidades

Passei por aqui não porque tenha algo de especial para dizer, mas para não perder o ritmo de vir despejar pensamentos, emoções, sentimentos ou opiniões que podem não servir para muita coisa, mas que ajudam a descontrair e a aliviar o stress (tipo saco de boxe no qual se bate com toda a força quando se está irritado).

O dia está a ser intenso (e promete continuar, assim como as próximas semanas). O mundo está recheado de pessoas que se magoam (umas vezes sem querer porque todos somos estúpidos uns para os outros de vez em quando; outras vezes porque nos apetece dar a estocada final e ferir de morte o adversário), mas tem flashes de luz que compensam esse outro lado feio e desprezível.

Há inúmeras visões do mundo, filosofias de vida e formas de encarar o que nos rodeia. Claro que a nossa é sempre a que faz mais sentido ao nosso olhar, caso contrário não seria essa que adoptaríamos como conduta de vida. Mas isso não invalida que a do vizinho seja igualmente merecedora de crédito e de respeito. No meio destas diferenças, o mais importante é que consigamos manter a bitola do que é aceitável para nós e daquilo que queremos fazer com a nossa existência. Não me apetece alongar muito sobre isto, mas vejo em volta que as pessoas teimam em fincar pé nas suas vistas curtas e na sua luta pela razão que nem se apercebem que ao lado está um outro ser humano que tem necessidades, sentimentos e merece respeito e dignidade.

As conversas dos últimos tempos com várias pessoas também me levam a achar que o mundo está sedento de mudança, de pessoas com vistas largas e coragem q.b. para assumirem que são diferentes e que vivem na diferença. Mas não há regra sem excepção e tem de ser assim mesmo para darmos valor às pérolas que nos rodeiam e a quem nunca demos atenção. A exigência tem um preço elevado. Um preço que vale a pena pagar (não digo a curto nem a médio prazo, porque o caminho mais difícil é sempre o mais penoso). O que me enoja é que as pessoas se sirvam da boa vontade das outras para alcançarem os seus objectivos e para terem o que querem nas suas vidas. E basta estar atento e ver e ouvir o que nos rodeia para perceber que o mundo está cheio de merda. Atrofiados e atrofiadas que vestem uma máscara e que tentam enganar o mundo, mas nunca se enganarão a eles próprios. Nunca porque lá bem no fundo há um vazio para preencher. Há uma voz que diz: "por favor, eu não sou isto, estou a atrofiar... tira-me daquiiii!!!". Com o tempo, essa voz vai perdendo força e temos malta que conclui não saber o que anda para aqui a fazer, pois está cansada, sem motivação e com muita vontade de mandar tudo ao ar.

quinta-feira, setembro 21

Geração de Atadinhos

Nova pausa para filosofar um bocadinho. Há que enganar o cérebro e dizer-lhe que "não, não é tudo igual! não são horas seguidas de trabalho sem parar...". Desta vez a pausa sugere-me que fale de um trabalho que a Notícias Magazine (DN) publicou há umas semanas sobre as nossas crianças. Aqueles que estamos a criar para serem os futuros dirigentes e pessoas maduras deste país e do mundo. De acordo com a autora do texto, esses senhores do amanhã serão uns "atadinhos" a quem sempre tentaram esconder que a fome, a dor, o sofrimento, a luta diária por um mundo melhor existem.

Queimados por uma infância repressiva e limitadora, os pais das crianças do agora desaprenderam um "não" porque os meninos podem ficar traumatizados; colocam-nos numa redoma para que eles sofram o menos possível e não vejam as desgraças desta vida; elogiam-nos em demasia para que não lhes falte auto-estima; dão-lhes todos os brinquedos e facilidades para que eles não se queixem mais tarde de ter tido uma infância pobre. Em suma, preparam totós que se tornam mimados e pouco preparados para a vida.

Diz-se no mesmo texto - e a meu ver muito bem - que a frustração, o sofrimento e a perda fazem parte da existência. Se assim é, por uma questão lógica, deve-se ensinar às nossas crianças que elas também erram, que muitas vezes vão levar com a porta, que outras tantas vão chorar e perder coisas... mas que tudo isso lhes vai valer para se levantarem mais fortes e olharem com uns óculos realistas e positivos para uma "bênção" chamada vida. Aquela de que todos reclamamos, mas que damos o litro para manter quando percebemos que nos pode fugir.

Há outra parte interessante do texto que defende a existência de regras. Se o menino tem a mesada de 100€ e gastou 90€ em "peanuts" quando precisava de 30€ para o concerto, então deve aprender que o problema é dele e que, para a próxima, se quer ir ao concerto deve fazer melhor as contas. A isto chama-se dar valor à vida, às circunstâncias em que ela surge e ao esforço que muitos pais fazem para formar os seus filhos e fazer deles "alguém".

Uma outra parte mais interessante, que cita um especialista estrangeiro, refere que nós nos devemos preocupar com as outras crianças. Com aquelas que passam fome, que não têm pais, que pegam em armas aos 7 ou 8 anos, que são mal-tratadas e que nunca saberão o que é o amor. Enquanto o nosso filho amua no quarto porque não vai poder comprar os ténis de marca que tanto queria, deveríamos nós estar a pensar como podemos ajudar o menino do bairro vizinho que vai para escola de sapatos rotos e com uma carcaça seca na mala porque não há dinheiro para mais.

Confesso que me transformo quando falo disto e posso cair no exagero. Mas há muitas coisas que me tiram do sério, entre as quais queixarmo-nos de barriga cheia e atirarmos areia aos olhos das nossas crianças, que amanhã nos irão criticar e julgar porque perceberam que, afinal, não estão preparadas para a vida. Porque, ao contrário do que os pais lhes fizeram crer, também elas vão ter de lidar sozinhas com a frustração e com a inevitabilidade de que a vida é um desafio constante que faz crescer e tem coisas muito boas, mas pelas quais há um preço a pagar. Maior ou menor, consoante o grau de realidade em que cada um vive.

Só por hoje...

"Só por hoje não te aborreças" ou "Só por hoje não te preocupes" são dois dos cinco princípios do Reiki (uma antiga arte de canalização de energia muito em voga no Ocidente como terapia alternativa). Se conseguirmos aplicar isto todos os dias é perfeito porque nunca nos vamos aborrecer ou preocupar. Mesmo que não se consiga aplicar isto sempre, há dias em que vale a pena. Hoje foi o caso.

Imagine-se Lisboa depois das férias. Imagine-se Lisboa em hora de ponta. Imagine-se Lisboa depois das férias, em hora de ponta e num dia de chuva. Imagine-se agora isto tudo e mais uma condicionante: greve do metro. Nem o cidadão mais prevenido consegue inventar estratégias para escapar a tanta adversidade. Acho que foi a primeira vez em que, no meio do caos, consegui aplicar a 100% a grande máxima: "Só por hoje não te aborreças".

Chegar ao metro e bater com o nariz na porta (porque ninguém tinha avisado que havia greve, ou se avisou fê-lo discretamente) é chato. Tentar apanhar um autocarro alternativo esperando numa fila que dá a volta ao quarteirão é tempo perdido. Pegar no carro e pôr-se a caminho revela-se estupidez (isto porque se comprova que já passaram 35 minutos e só se percorreram 200 metros dos 6 quilómetros que faltam para chegar ao destino). Bem... "Só por hoje não me vou aborrecerrrrrrrrrr!!!!!!!!!!", mesmo que devesse estar bem cedo numa reunião. Então, só por hoje vou voltar a estacionar o carro, sentar-me a ler no café - sem me preocupar com aquilo que não posso fazer - até que o metro volte a andar e eu possa ir para o emprego. Resultado: "Só por hoje não me enervei e consegui, antes de muita gente, chegar calma e relaxadamente ao meu local de trabalho, com a leitura em dia e energias para dar e vender".

Acho que há máximas que vou passar a aplicar mais vezes, mesmo que só por hoje...

quarta-feira, setembro 20

A Vida não é um Campo de Batalha

Hora da Coca-Cola light. Nada de gajos bons em andaimes do lado de fora do prédio. Muita confusão cá dentro e uma pilha de mails para dar vazão. Já lá vou. Agora preciso de respirar fundo e colocar a mente, 5 minutos, numa filosofia qualquer que não meta encenadores, actores, histórias de amar ou morrer...

Mas esta história, real, não é por si só mais bonita ou pacificadora. Quer dizer, por um lado. Que não estamos no Iraque ou em cenário de guerra já tínhamos percebido, apesar de muitas vezes dizermos que a nossa vida é um conflito pegado. A minha não é. A minha é um palco giro cheio de personagens que entram e saem (conforme cumprem a sua função) e que protagonizam histórias de diversos géneros. Há drama, sofrimento, angústia, mas também há comédia, alegria, amor e muita, muita energia. Não faço ideia qual a duração desta peça (ou deste ciclo de peças que se sucedem e, muitas vezes, sobrepõem). Só sei que o estímulo está na forma como vemos a peça evoluir e adquirir a estrutura que tanto desejámos que conseguisse ter. Uma afinação aqui, outra ali. Uma aprendizagem, um engano (que é normal mesmo num grande actor) e umas palmas no final.

Esta semana ouvi uma que não podia ser mais acertada: "a vida não é um campo de batalha". Isto não foi dito assim, mas também não interessam os pormenores. Interessa só retirar a lição de que, por vezes, lutamos sem razão como um louco D. Quixote contra uma data de moinhos que não nos vão fazer mal. Além de que um guerreiro medroso tem dois inimigos contra os quais lutar: o adversário e o seu próprio medo. Qual será o desfecho? Certamente a derrota porque parte para a guerra com a insegurança e a incerteza. No meio disto tudo, o mais pacificador é tentar interiorizar que nada pode estar contra nós porque não é isso que queremos na nossa vida, nem damos espaço para que isso aconteça. Além do mais, esta consciência - ainda que possa ser ligeiramente ilusória - dá-nos força para ir além do medo e para ter a certeza de que, caso aconteça uma "desgraça", temos connosco as armas e as ferramentas para sairmos dessa.

E pronto... Vou voltar à pilha de mails que me aguardam ansiosos até hora indefinida. Com duas certezas de momento: "a vida não é um campo de batalha" e "nada mais existe do que o presente" (e este, para mim, é laboralmente penoso...).

PS - Eu disse que ia fugir aos actores e encenadores, mas acabei por servir-me deles. Acho mesmo que é um sinal: "oh, miúda! Estamos aqui à espera que nos pegues e escrevas sobre nós! Deixa-te lá de filosofias :)".

segunda-feira, setembro 18

A liberdade de ser quem se é

Há momentos na vida para esquecer. São imprevistos, confusos, magoam, não fazem sentido nenhum. Mas há outros que nós já sabemos como vão terminar. Desconhecemos o dia e a hora em que tudo se transforma, mas conhecemos o desfecho. Devo confessar que esta consciência me agrada. Apesar do luto da perda (que é necessário fazer em qualquer área de vida) há uma luz de presença que nos indica que esta situação acabou porque há uma melhor e mais gratificante preparadinha para entrar. E é aí que entra a liberdade de ser quem se é.

Mesmo que nem sempre pareça, as pessoas têm a opção de conduzirem o rumo das suas vidas. Face a uma situação desconfortável e trágica, há sempre a opção de chorar sobre o leite derramado ou de pegar nas armas e seguir em frente (com o devido período de luto e digestão da tragédia). Noto que tomo consciência disso quando me sinto completamente insatisfeita e me apetece mudar de rumo. Às vezes é preciso bater no fundo para ir ao baú secreto buscar todas as forças essenciais de mudança. E acredito que seja assim com todas as pessoas. O que acontece é que todos têm direito à liberdade e isso implica que a minha liberdade termine onde começa a do outro. No caso de falarmos de necessidades e preferências diametralmente opostas, estamos na presença de uma gestão de liberdade um bocadinho acima daquilo que, se calhar, gostávamos para nós. O importante é não deixarmos que as situações nos controlem e esmoreçam. Convém conseguirmos, ao máximo, controlá-las e estarmos acima delas... Dito assim, até parece fácil...

sexta-feira, setembro 15

Encontra o homem...

Sim, eu sei que esta é lamechas... mas é bonita...

"Encontra o homem que te chama gira, em vez de boa...
Que te telefona de novo quando lhe desligas o telefone na cara...
Que fica acordado só para te ver dormir...
Espera pelo homem que beija a tua testa...
Que fica de mãos dadas contigo à frente dos amigos...

Espera pelo homem que te está constantemente a lembrar o quanto significas para ele... e da sorte que ele tem em te ter...

Espera por aquele que se vira para os amigos e diz... 'É aquela...' "

Um dia destes, em conversa com um amigo sobre a insegurança das mulheres, ele disse-me uma coisa verdadeira (eu acho, pelo menos) que não foge muito ao que atrás transcrevi. Dizia ele que a nossa insegurança é infundada porque alguém que gosta de nós de verdade pode ter ao lado a mulher mais bonita do mundo e ser assediado de mil e uma maneiras, mas nunca por nunca se esquecerá do que sente por nós e não meterá a patinha na poça. Da mesma forma que nada garante que um tipo no deserto, sem quase ninguém à volta, não nos troque por outra (ou por um camelo :) ). Queria ele dizer que não é o facto de se ter certas profissões e de se estar rodeado de determinadas pessoas - que nós, mulheres apaixonadas, consideramos 'perigos' - que leva alguém a ser infiel ou a trocar a mulher que ama. Da mesma forma que, como a vida está em constante mudança, não é garantido que as relações sejam para sempre (mesmo isolada do mundo e numa redoma, uma pessoa pode perceber que deixou de gostar, que não lhe apetece mais e que vai partir para outra).

A mim continua a parecer-me que é difícil incutir este espírito de total tranquilidade nas mulheres. Acho que, por um lado, estamos escaldadas e desconfiamos dos homens; por outro lado, nem sempre os "nossos" homens nos fazem sentir seguras e confiantes...

quarta-feira, setembro 13

O que tem de ser é mesmo?

Esta é uma dúvida recorrente na vida das pessoas lutadoras que se confrontam, volta e meia, com obstáculos que parecem intransponíveis. Se calhar, na verdade, eles não são impossíveis de contornar. O que acontece, muitas vezes, é que há coisas que já não nos fazem falta nenhuma, mas que teimamos em manter agarradinhas na nossa vida. Com medo de perder ou de não ter as condições suficientes para que a vida siga em frente, nem damos conta de como já não precisamos de manter aquele emprego, aquele hábito ou determinada estrutura.

Uma coisa que me ensinaram - mas também posso dizer que tenho vivido na pele a sua acção - é que o que já não nos faz falta e teimosamente tentamos agarrar acaba por sair de rompante das nossas vidas. Sem que tenhamos tempo para perceber que está a ir ou pensar porque se foi. Foi-se. De uma forma estúpida, inesperada e sem razão aparente.

Hoje, depois de uma noite pouco dormida e de um dia cansativo, faltava-me mesmo entrar no mail e receber essa notícia. Foi-se. Por acaso acho que até já percebi a razão e fez-se luz cá dentro sobre quais as melhores soluções a adoptar. Mas dá que pensar. De vez em quando criam-se tempestades nas nossas vidas que varrem tudo de uma assentada. Tínhamos acabado de cair e estávamos quase a levantar-nos. E é nessas alturas que há-de vir algo ou alguém que nos empurra de novo.

Penso que neste jogo de conquistas e contrariedades não há grandes segredos. A vida é assim, as pessoas caem e levantam-se (demorem pouco tempo ou uma eternidade). A grande chave de mudança, mesmo, é a atitude com que, depois de cairmos, nos tentamos levantar. Uma vez disse que achava que já nada me surpreendia. Wrong! Há sempre algo que acaba por me apanhar de surpresa. E custa sempre. Mas também verifico que, em cada repetição, demora menos tempo a passar. A grande descoberta - que sempre pensei impossível - é que é mesmo verdade que pode o mundo desabar à nossa volta e a serenidade interior manter-se. Segredos? Truques? Não sei. Acho que passa por aceitar que a vida é assim, que virão dias melhores e que um guerreiro pode perder batalhas, mas que isso não significa que tenha perdido a guerra.

terça-feira, setembro 12

As Mulheres do Sec. XXI - Again...

Nunca é em demasia falar desta nova "espécie" de mulheres que tanto os homens temem e contra quem, muitas vezes, tentam fincar pé e fazerem-se de palermas. A palermice tem limites. Como todos devem calcular, ser mulher não é fácil. Já não o é pelas características que definem o sexo feminino e torna-se mais complicado ainda porque o sexo masculino existe.

"Ó Boa!", "Coisinha fofa!", "Comia-te toda" - e outras expressões mais rasteirinhas que todos bem conhecem e que não vale a pena dissecar aqui - são "elogios" (sim, os palermas devem achar que nos estão a fazer bem ao ego) que ouvimos diariamente e que já causam náuseas. Gostava mesmo que esses totós imaginassem que, no lugar deles, estão outros homens e no lugar da "vítima" estão as mulheres deles. AH! A coisa muda ou não muda de figura? E isto faz-me saltar logo para outro tema de que as mulheres do século XXI são vítimas: o julgamento por parte dos homens. Sim, porque a emancipação sexual das mulheres veio colar-lhes na testa o rótulo de "putas" se a sua experiência sexual se for alargando. Tiveste mais do que um homem? (parece-me que actualmente, a partir dos vinte e tal, ninguém está à espera de ser o primeiro a menos que se plante à porta de uma escola...) Se o número de parceiros sexuais for aumentando, desce a credibilidade dessa mulher na lista de ética de um homem. De um mesmo homem - hiper ético e moralista, note-se - que "comeu" umas 50, mas que para ele quer uma mulher "séria" (vá-se lá a saber o que isto é!).

Ora meus amigos, isto já me começa a chatear. Hoje, em conversa, percebi que há muitas mulheres a queixarem-se desta manifesta incongruência dos homens e há muitos homens a terem ataques de histerismo porque não foram os primeiros. Deixem-me tentar explicar-vos uma coisa: a vida das pessoas não é linear e bonita como num conto de fadas. Há histórias complicadas, vidas de merda, cuja aprendizagem passa por aquilo que muitas pessoas desejariam não ter... mas não conseguem evitar. Lembro-me da história de uma prostituta que foi tirada das ruas por um cliente que por ela se apaixonou. E isto, sim, eu acho um acto de verdadeiro carácter. Esta mulher nunca se livrará do passado, mas também não merece ser crucificada por uma vida que viveu e que, se calhar, teria evitado se as circunstâncias da altura fossem outras.

A treta toda é que esta sociedade é machista. Mas os homens são fracos e inseguros e precisam das mulheres, entre outras coisas, para se auto-afirmarem. O que, para eles, descamba rapidamente em "põe a patinha em cima". Admiram a coragem e a independência de algumas mulheres (em muitos casos é tudo o que gostariam de ser, mas não conseguem), mas fogem delas a sete pés. É natural rejeitarmos tudo o que nos mete medo. O que deixou de ser natural, mesmo que a sociedade seja machista, é discriminar mulheres pelo número de parceiros sexuais que tiveram. Aquela treta de "esta é para brincar, a outra é para casar" era ouvida no tempo do meu avozinho (que Deus o tenha, coitado) e deixou de fazer sentido. Porque, em primeiro lugar, não se brinca com as pessoas; em segundo lugar, há qualidades muito mais importantes para fazerem de alguém uma pessoa valiosa do que o número de parceiros que teve.

Sinceramente, acho que esta distinção entre homens e mulheres eu nunca vou entender. Se ele teve várias é um garanhão; se ela teve uns quantos é uma "mulher fácil". Também a nós nos pode fazer confusão que o nosso companheiro tenha andado a saltar de cama em cama, sem qualquer tipo de critério. Porém, não é por isso que deixamos de perceber que foi a história dele e que o que importa é que, agora, sejamos as únicas com quem ele se deita. Não seria mais fácil e mais bonito da parte dos homens fazerem também esta avaliação?! Uma coisa é comer um gajo diariamente a cada refeição (e mesmo assim não há desculpa!). Outra, completamente diferente, é ter vivido ao longo dos anos uma vida que implica experiências, sofrimentos, aprendizagens e,por vezes, alguns desencontros... Além de que esses homens serão pais um dia - quem sabe de meninas - e podem sofrer na pele aquilo que fizeram outras passar. Se bem que também me parece que a culpa destes homens serem assim é das suas mãezinhas. O que levará a que as "mulheres do século XXI" se apliquem na educação dos seus meninos...

segunda-feira, setembro 11

Realidade e ilusão

A realidade e a ilusão andam de mãos dadas, acompanhadas das expectativas que se têm em relação às pessoas e aos acontecimentos da nossa vida. Como já aqui referi um dia, "não há memória de que alguém se tenha desiludido sem que se tivesse iludido primeiro". Muitas vezes achamos que já estamos preparados para ter uma determinada experiência e, na realidade, estamos iludidos. Ou porque queríamos muito que ela funcionasse e que a nossa vida mudasse rapidamente, ou porque projectamos nos outros e na vida os nossos desejos mais profundos que ainda precisam de tempo para germinarem.

Comigo acontece-me variadas vezes. A mentira, a desonestidade e o magoar o outro gratuitamente não fazem parte do meu léxico. Como tal, é natural que projecte nos outros a ausência destas características. Para mim, as pessoas têm a obrigação de serem honestas, verdadeiras e respeitadoras do outro mas, acima de tudo, de si próprias. Porém, o que se verifica é que é preferível o refúgio na cobardia e na mentira, que é manifestamente mais fácil do que atitudes que nos exponham e que nos possam tornar frágeis.

Nos últimos dias tenho verificado que, de facto, há características que existem em mim e das quais me orgulho, mesmo que não seja correspondida nessa honestidade e nessa clareza que me parecem ser as reais bitolas da existência humana. Isto para dizer que cada um de nós se pode ir apercebendo do que tem dentro e do que desenvolveu com o tempo, mas normalmente precisa de experiências e de vivências que o demonstrem. Verifiquei, também, que a força interior é de um poder impressionante e que a vida nos repõe toda a serenidade e toda a paz de espírito quando nos harmonizamos com quem somos e quando temos atitudes limpas, honestas e de carácter. As ilusões podem transformar-se em desilusões, mas à tona vem a manifestação da realidade que somos e que, por vezes, esquecemos.

sexta-feira, setembro 8

Quando a Chuva Passar

"Pra que falar?
Se você não quer me ouvir
Fugir agora não resolve nada

Mas não vou chorar
Se você quiser partir
Às vezes a distância ajuda

E essa tempestade um dia vai acabar
Só quero te lembrar
De quando a gente andava nas estrelas
Nas horas lindas que passamos juntos
A gente só queria amar e amar
E hoje eu tenho certeza

A nossa história não termina agora
Pois essa tempestade um dia vai acabar

Quando a chuva passar
Quando o tempo abrir
Abra a janela e veja: eu sou o sol
Eu sou céu e mar
Eu sou seu e fim
E o meu amor é imensidão

Só quero te lembrar
De quando a gente andava nas estrelas
Nas horas lindas que passamos juntos
A gente só queria amar e amar
E hoje eu tenho certeza
A nossa história não termina agora
Pois essa tempestade um dia vai acabar

Quando a chuva passar
Quando o tempo abrir
Abra a janela e veja: eu sou o sol
Eu sou céu e mar
Eu sou seu e fim
E o meu amor é imensidão

Quando a chuva passar
Quando o tempo abrir
Abra a janela e veja: eu sou o sol
Eu sou céu e mar
Eu sou seu e fim
E o meu amor é imensidão"

Ivete Sangalo

quinta-feira, setembro 7

O coração não engana

Há pensadores que defendem que todas as decisões que tomamos vindas de dentro não têm como ser más apostas. Muitas vezes, no meio do turbilhão dos nossos problemas, pedimos ajuda (ou conselhos) a quem nos está mais próximo e a quem achamos que nos pode ajudar ou fazer ver um pouco mais da verdade. Quando se está perante um bom conselheiro, a pessoa invariavelmente dará a sua opinião, mas responderá que a solução está dentro de quem fez a pergunta.

O que chateia é que não é tão fácil assim ter acesso à resposta, ao que vai cá dentro. Por norma estamos turvados pelo passado doloroso, pelas condições da nossa vida, pelas pessoas que nos rodeiam, pela opinião exterior, etc, etc, etc. Como resultado, fazemos muitas vezes aquilo que não queremos porque também não tivemos tempo de sentir o que seria melhor.

Um dia houve alguém que me ensinou um exercício. "Escolhe um local calmo e descontraído. Pensa na pergunta que gostarias de ver respondida (cuja resposta só poderá ser "sim" ou "não"), repetindo-a alto. Diz "sim" e respira bem fundo. Diz "não" e respira bem fundo. O que te fez sentir mais confortável? Aí está a tua resposta...". Se o ambiente não permitir, podemos sempre fazer este mesmo exercício no meio da confusão, mas para isso é determinante um enorme auto-controlo.

Eu acredito, MESMO, que o coração não engana e que quando falamos a linguagem do amor os resultados são maravilhosos. Só que sei, por experiência vivida, que nem sempre conseguimos essa conexão e, em lugar de fazermos o que seria melhor para nós, acabamos por fazer nem sei o quê... uma mistura de orgulho com ego estúpido que nos levou a meter os pés pelas mãos e que, por vezes, leva a que seja tarde demais conseguir voltar atrás.

Gostava que alguém me refutasse aqui esta teoria em que acredito: "Se as decisões da nossa vida forem tomadas a partir de dentro, com base naquilo em que SENTIMOS ser o melhor, esquecendo o ruído da mente e o que aparece de fora, o sucesso é garantido."

Sem confundir DESEJO com o que realmente se SENTE e nos deixa em paz, seria interessante descobrir alguém que tivesse entrado nesta mágica conexão e, mesmo assim, tivesse dado o passo errado... Queimava já todos os livros em cujas fontes eu bebi...

Contigo

"Toda la sal
todo el azucar
todo el vino
toda mi vida, solo deseo vivirla contigo.

Toda la luz
todo el oscuro
todo lo que escribo
todo el camino, ardo en deseos de andarlo contigo.

Con tu amor siento calma
y a la orilla del río
tu calor se me agarra y me llenas el alma de luz y rocio.
Con tu amor siento ganas
en los cinco sentidos
y me llevas tan lejos que apenas recuerdo de donde venimos.

Todo le calor
todas las nubes
todo el frío
toda la lluvia, ardo en deseos de mojarme contigo.

Todo el amor
todo el recuerdo
todo lo que olvido
todo el silencio, se hacen canciones durmiendo contigo.

Con tu amor siento calma
y a la orilla del río
tu calor se me agarra y me llenas el alma de luz y rocio.
Con tu amor siento ganas
en los cinco sentidos
y me llevas tan lejos que apenas recuerdo de donde venimos.

Todo el sabor
todo el perfume
todo lo que ansío
todos los mares, solo deseo navegarlos contigo.

Todo sin más
la eternidad también la pido
vida o castigo solo deseo tenerla contigo
vida o castigo solo deseo tenerla contigo
vida o castigo solo deseo morirme contigo"

quarta-feira, setembro 6

A nobreza de um "eu gosto de ti"

Há alturas em que a vida nos convida a experimentar o desapego e o verdadeiro significado de "eu gosto de ti". Acima das carências e das vontades do ego está a certeza de que há momentos que merecem ficar com o carimbo da alma. Momentos intensos, de troca verdadeira, impossíveis de apagar, que nos podem levar a fazer figuras tontas. Mas como é dito no tal livro do ratinho que ando a ler ("A Lenda de Despereaux"), "o amor é ridículo". Em nome dele - quando é verdadeiro - vale a pena correr riscos. Vale a pena ousar fazer figura de parvo no meio da multidão e, sobretudo, perante a pessoa a quem queremos dizer realmente "eu gosto de ti".

Sempre aprendi que mais vale arrependermo-nos do que fizemos do que daquilo que nunca chegámos a fazer e podíamos ter feito. É aqui que me parece que se pode atingir a tranquilidade nas relações. A certeza de que se fez o que se podia em prol do amor. Para que ele resultasse, para que se tornasse maduro, para que crescesse. Quase que parece uma aula de dança. Se aprendemos a dançar com um professor e depois nos mudamos para outra turma - que aprendeu outros passos - sentimo-nos meio desajustados. Porém, se fazemos mesmo questão de continuar a dançar, é evidente que vamos aprender estes novos passos para que consigamos bailar todos em conjunto. No início, é natural misturarmos tudo e juntarmos passos que para ali não são chamados. Mas a vontade de entrar na dança é tanta que acabamos por treinar até que consigamos a harmonia. Este treino pode levar dias, meses ou até mais. Depende da dedicação, do investimento, das vezes que vamos aos treinos. Na minha área profissional, diz-se que o nosso trabalho é 10% de inspiração e 90% de transpiração. Não será assim também o amor? Deixemos para os contos de fadas a existência de príncipes encantados e a felicidade como constante. Isto para dizer que, mesmo que o amor seja ridículo, há aspectos que é importante pacificar, correndo o risco de nos estatelarmos ao comprido.

Por vezes nem nos apercebemos o quanto gostamos das pessoas. Refiro-me àquele gostar desinteressado, em que o que impera é a preocupação com o outro e o desejo de que ele fique bem. Então é aí que alguém pergunta: "gostas de mim? gostas dele/a?". E nós paramos para pensar... Erh... Pois... Mas gostar como?! Bem, GOSTAR. Ou se gosta ou não se gosta (e isto não é a mesma coisa que um hambúrguer ou um bife com batatas fritas, que umas vezes comemos mal passado, outras melhor, outras ainda com um tempero que não é habitual, mas que marcha). Aqui trata-se de ser neutro ou de nos perturbar (também no bom sentido, entenda-se), de mexer connosco. Quando percebemos que mexe connosco não porque temos medo de perder (isso já é quase um hábito, pois perdemos tantas batalhas ao longo da vida), mas porque não nos é neutro, porque gostamos de verdade, corremos o risco do ridículo. Só acontece uma de duas coisas: ou caímos de chapa (e do chão não passamos, por isso não é assim tão grave) ou desbravamos caminho para algo muito mais valioso e construtivo.

Mas o "eu gosto de ti" tem o outro lado. Aquele que magoa, mas que faz parte deste pacote. O outro tem toda a liberdade de dizer: "pois, eu não gosto de ti" ou "pois, eu gostava, mas deixei de gostar de ti". É o preço a pagar. E o verdadeiro "eu gosto de ti" inclui a liberdade do outro escolher o caminho que quer tomar. Que pode muito bem ser seguir a jornada sem nós. Quando o "eu gosto de ti" é verdadeiro, a atitude certa é deixá-lo partir sem rancores porque tudo o que queremos é o seu melhor, que pode estar noutra experiência, noutra pessoa, noutra situação.

O importante, mesmo, é deixar estas experiências na alma, bem dentro de nós, com um carimbo que diz "positivo". O "eu gosto de ti" verdadeiro tem nobreza. Se ela não existir é porque não era um sentimento da alma. O "eu gosto" dos hambúrgueres ou dos bifes com batatas fritas é aquele em que tanto faz que se coma nesta ou naquela tasca. Não importa a experiência, o que conta é que se coma o raio do bife e se fique saciado. O "eu gosto de ti" verdadeiro implica saciar uma fome maior: a que está cá dentro e que, por isso, é bem mais difícil (mas não impossível)de matar. É poder dormir descansado porque se fez o que era suposto para que bons momentos permanecessem como tal, preservados num jardim secreto que nenhuma palavra, nenhuma briga ou nenhuma pessoa podem anular.

O resultado pouco importa. Até porque não podemos mudar os outros nem controlar os seus sentimentos. Além disso, nunca se sabe quando é que a aprendizagem que era suposto fazer ali chega ao fim. Pode ter sido o momento. Pode haver ainda muito mais para viver...

terça-feira, setembro 5

E eles não percebem...

Eles não percebem que quanto mais nos ignoram, mais nos dão espaço para percebermos que, se calhar, eles não nos fazem falta nenhuma porque conseguimos sobreviver muito bem sozinhas.

Eles não percebem que se fizerem um esforço para promover o diálogo e a concórdia ganham pontos e abrem portas para algo maduro, construtivo e muito gratificante.

Eles não percebem que se não forem aumentando o lume e pondo achas na fogueira, depressa o que era quente e interessante se torna morno e muito pouco apetecível.

Eles não percebem que, se deixam tudo ficar morno, morre o desejo e a vontade de ficar.

Eles não percebem que não adianta acusarem-nos e dizerem que não os comprendemos (pelo menos a algumas) quando o que deviam era assumir que também erram e que, se calhar, desta vez são eles que não estão a fazer a coisa certa.

Eles não percebem que bom sexo é sinónimo de intimidade e de uma relação gratificante aos outros níveis, em que se sente desejo e entusiasmo. Morrendo o que está fora, o resto deixa de nos apetecer (depois ofendem-se quando lhes é dito "hoje não, dói-me a cabeça". Isto porque se ferem se lhes for dita a verdade).

Eles não percebem que mulheres inteligentes odeiam desculpas esfarrapadas e abominam que as tentem fazer passar por parvas quando as evidências estão bem ali. Além de não perceberem que mulheres inteligentes já lhes apanharam os truques de argumentação (porque também elas os dominam).

Eles não percebem que tudo é possível de ser feito quando se quer mesmo.

Eles não percebem que as mulheres os tentam perceber, mas que também querem (e merecem, porque é justo) ser compreendidas.

Eles não percebem que às vezes uma mensagem, um telefonema ou um olhar (quando se está perto) faz a diferença e vale mais do que uma fortuna em prendas e recompensas.

Eles não percebem que dizerem que não têm tempo para umas coisas (normalmente nós e as nossas) e conseguirem arranjar tempo para outras (as deles e o que gostam de fazer) é altamente egoísta, ofensivo e muito mau presságio.

Eles não percebem que há alturas em que têm de calar o orgulho, reconhecer que foram uma nulidade e dar a mão à palmatória. A bem da harmonia. Que se saiba, todos os humanos cometem erros. Deviam aprender com eles e mudar. Mas, para isso, é imprescindível que tenham a humildade de os reconhecer.

Eles não percebem nada de sinais. E o pior é que não fazem o mínimo esforço para perceber.

Afinal... o que é que eles percebem? Que são assim, que não querem nem vão mudar, que não gostam de ser pressionados, que eles é que têm a faca e o queijo da mão. De facto, há pessoas para tudo. Mas também há pessoas que dão um murro na mesa e atiram tudo ao chão. Porque se fartaram, porque não sabem mais o que fazer em nome do entendimento e da conciliação, porque se sentem completamente incompreendidas e insatisfeitas.

Ainda o Amor

Hoje está a ser um dia particularmente difícil. O trabalho amontoa-se no mail e na secretária e há que dar-lhe vazão. Eu consigo (como, aliás, consigo de todas as outras vezes), mas à medida que vou organizando a papelada e fazendo o exercício matinal de actualização da informação, vou descobrindo mais e mais coisas sobre o amor.

Realmente, ele deve andar pelas ruas da amargura tal é a frequência e a intensidade com que se referem a ele. Desta vez, vem na Notícias Sábado (do "Diário de Notícias"). Na polémica crónica O Sexo e a Cidália, a autora (suponho que seja mulher pela forma como tão bem transmite os sentimentos femininos) escreveu um texto que intitulou de "As coisas com que se faz o amor". Além de falar que não se deve voltar a dormir com ex-namorados (porque se a relação acabou, o sexo já se "tinha esgotado há muito"), ela tem esta tirada:

"Apercebo-me nestes dias da aridez em que tantos casais vivem. Pisam um território imaculado (seco, no entanto) em que nenhum se permite ser ele próprio, renunciando às suas imperfeições perante a presença do outro. Atrevo-me a dizer que estas pessoas nunca vão saber o que é um grande amor. Escondem pequenas e grandes angústias. Não perguntam na hora da dúvida (a não ser se o vestido assenta bem) e não arriscam na hora da partilha. Descobrir, anos depois, que a pessoa com quem vivem mantinha há muito uma relação extraconjugal não as pode surpreender. No momento da dúvida, não perguntaram por pudor; e ao pudor começaram a chamar respeito. 'Gosto de respeitar o meu parceiro'. Para mim, respeitar é ir ao fundo da intimidade que nos envergonha e voltar de lá com mais paixão. Há uma intimidade que nos causa embaraço, não há? Essa é a melhor quando é vencida".

Grande Cidália! O problema é que há poucas pessoas realmente capazes de serem honestas consigo e com aquilo que precisam. Assumir isso é correr o risco de seguir sozinho, de não ter quem nos diga coisas bonitas, de voltar para casa e o telefone não tocar porque já não existe na nossa vida quem nos fazia o telefonema. Isto é assim a curto prazo porque uma pessoa habitua-se (como sempre e em tudo, aliás). A longo prazo, é um respirar de alívio por não ter perpetuado uma situação que não nos deixava respirar nem nos permitia ir ao máximo das nossas capacidades. Esse, para mim, é o grande desafio da vida e das relações. Ir ao máximo de mim própria. Conseguir cumprir-me. E isso, obviamente, não passa por saber que posso mais e melhor, mas que me contento com isto. "Oh God, make me good, but not yet"... diz a Cidália...

Sobre o Amor

Muito se tem escrito e dito sobre o amor. Muitas imagens e padrões de comportamento se têm incutido nas pessoas como sendo "a fórmula certa". Um destes dias vinha eu no carro a ouvir música e num daqueles momentos de parar para pensar que a RFM tem, eis que o tema do pensamento era o amor. Citando um filósofo e a sua definição deste sentimento, aquela voz pausada disse que, ao contrário do que vemos nos filmes e nas revistas do coração, o amor não é sempre lindo nem tem apenas momentos felizes. O amor, dizia ele, é um caminho que se vai percorrendo aprendendo a compreender o outro, a ceder, a adaptar-se, a criar concórdia.

Se bem que a um nível ideal o Amor seja liberdade, confiança, serenidade, paz de espírito, altruísmo puro, dedicação, amizade, etc, etc, etc... a um nível prático o amor talvez seja uma permanente adaptação aos momentos da vida e ao que ela nos chama a viver. Parece mesmo que falar de amor está na moda. Também há poucos dias, uma revista feminina reflectia sobre as razões pelas quais umas relações resultam e outras não. E, ao que parece, as que duram mais são aquelas em que há uma forte comunicação e um entendimento mútuo. Se alguém me diz que o que eu digo ou faço o magoa, se eu o amo será normal que tente alterar esse comportamento para que o consiga fazer feliz.

Dizia Leibniz que "Amar é regozijar-se com a felicidade de outrem". Para isso é preciso que estejamos atentos ao que o outro precisa para ser feliz, que consigamos ter um nível de comunicação elevado para ser possível chegar ao outro e, já agora, que estejamos disponíveis para fazer as devidas alterações e adaptações que tornem possível tudo o que anteriormente foi dito.

O que realmente me lixa e desgosta nesta treta toda do amor, é que nem sempre ambos estão dispostos a fazer cedências. Há sempre alguém que acha que merece ser mais compreendido do que outro, mais aceite tal e qual como é. Assim sendo, o que faz o outro (o que está disposto ao consenso e à adaptação)? Anula-se? Depende. Há casos em que sim. No meu caso concreto, desisto. Quando se percebe que, por muito que se diga que nos estão a magoar com certas atitudes, as pessoas não fazem esforços de mudança, é porque estão auto-centradas e não vêem nada para além do seu egoísmo. Ou seja, não estão dispostas a regozijar-se com a felicidade do outro porque nem sequer fazem o que seria suposto para que ele se sinta feliz. E às vezes nem é preciso muito... Tudo o que é morno acaba, mais tarde ou mais cedo, por dar de si, por ficar frio. A menos que seja de imediato posto ao lume. Mas nunca em banho-maria! Odeio banhos-maria. Acho triste da parte de quem o aceita e muito pouco revelador de carácter da parte de quem o faz. E não é que olho em volta e grande parte do que vejo é lume brando?! O que aconteceu a estas chamas que nem se conseguem mudar para lume alto? Seja qual for a resposta, um livro muito engraçado chamado "A Lenda de Despereaux" refere, a páginas tantas, que "um destino interessante aguarda quase todos, ratos ou homens, que não se conformem". Eu sou uma inconformada e abro mão de tudo (ou todos) os que não me fazem feliz. Será mesmo que, o que me espera, é um destino interessante?! Pois... talvez mais tarde (um dia, lá à frente) vos venha aqui falar disso. Por enquanto, vou continuar a não me conformar com o que me faz ficar "morna".

sexta-feira, setembro 1

Para além das aparências

Eu sou das que acredita que existe algo para lá do aqui e do agora. Eu sou das que acredita que temos, dentro, a capacidade de mudança e as armas para combater a adversidade. Eu sou das que acredita que há razões na vida que a própria Razão desconhece e que, por isso mesmo, não devemos ignorar nem resistir ao que sentimos e ao que a nossa consciência nos diz que está a acontecer connosco.

Deepak Chopra tem um livro que eu recomendo (apenas a quem se interessa por perceber o sentido "oculto", profundo da sua vida), chamado "O Livro dos Segredos", em que fala das dimensões ocultas da vida, dos mecanismos inconscientes que ocorrem e que nos pederão ajudar se tomarmos consciência deles.

Um dos segredos defendidos por Chopra é que "Já Somos Aquilo que Procuramos". Eu também acho. Mas, se assim é, qual a razão de teimarmos procurar fora o que, aparentemente, temos dentro? Além disso, se todas as soluções se encontram em nós, por que é que temos crises que não compreendemos e, muitas vezes, sofremos e não nos sentimos bem, mesmo que tenhamos todas as condições para sermos felizes? Chopra diz que esse é o percurso natural de uma caminhada de desenvolvimento pessoal, em que nunca nada é estanque e tudo está em constante evolução e mudança. É como tentar encontrar um local num sítio que desconhecemos. É normal perdermo-nos porque nunca ali estivemos. Sabemos para que zona nos queremos dirigir, mas por vezes temos de parar pelo caminho para ver o mapa ou perguntar a alguém. É o mesmo com as nossas vidas.

Chopra, inclusive, aconselha a que cada um encontre uma testemunha silenciosa, que ajuda a perceber aquilo por que passamos (porque a isso assiste) e não nos julga como acontece com as pessoas que nos são exteriores. Claro está que essa testemunha silenciosa somos nós próprios. Reside no interior de nós. Ele dá, também, sugestões para encontrá-la cá dentro:

1 - Siga o fluxo da consciência.
2 - Não oponha resistência ao que está a acontecer dentro de si.
3 - Abra-se ao desconhecido.
4 - Não censure nem negue o que sente.
5 - Vá para além de si.
6 - Seja autêntico, diga a sua verdade.
7 - Faça do centro o seu lar.

(De referir que, quando ele diz "centro", remete para o que temos cá dentro, o mais genuíno, o mais verdadeiro de nós próprios)

quinta-feira, agosto 31

O fim da "silly season" e o regresso da estupidez humana

Designa-se por "silly season" aquela época do ano em que os media dão notícias que não interessam a ninguém, mas não há mais nada a noticiar porque o país pára e os protagonistas das grandes histórias vão de férias. Nota-se que a "silly season" acabou porque deixaram de se repetir programas, deixou de se dar a notícia da velhota que se esqueceu da carteira no supermercado e os protagonistas voltaram. Ou seja, os palhaços estão de regresso ao circo. Este país não existe! Trabalhei Agosto inteiro e noto que, a um dia do seu término, a estupidez voltou em peso. Hoje, então, foi um dia prodigioso em notícias do arco da velha.

O "caso Mateus" foi, sem dúvida, a palhaçada da "rentrée". Há uma semana, quase se podia ter feito um mini-torneio no Estádio da Luz se tivessem comparecido a equipa da casa e as três que reclamavam um lugar na I Liga. Depois da verborreia do costume de alguns dirigentes com a mania que são heróis nacionais (tem graça: assim de repente, veio-me à mente o Major... esse Valentão), proliferaram os debates em torno de uma questão que os tribunais e os intervenientes deviam ter vergonha de ter deixado acontecer. O Belenenses lá se mantém entre os melhores. Vá lá! Ainda pensei que abrissem mais 2 vagas na I Liga só para evitar chatices (mesmo que tivesse sido decidido previamente o número de equipas participantes). Numa coisa concordo com os comentadores desta vergonha nacional: isto denota bem a crise em que a nossa Justiça está enterrada.

Depois eis que vejo, com espanto, uma notícia sobre as Oficinas de São José, onde estavam os jovens envolvidos na morte do transexual Gisberta. Aparentemente, as funcionárias que agora foram despedidas já tinham denunciado os maus tratos infligidos às crianças. Mas foi com mais espanto ainda que ouvi as declarações de um senhor padre que disse que tinha conhecimento de alguns "problemas" a nível de higiene e "relacionamentos entre as pessoas", mas que há que dar o desconto porque as 180 instituições do género existentes em Portugal são uma bênção para as crianças. Ora porra! Uma criança, sem culpa de ter nascido, é privada do carinho e do amor sincero e gigante de uma família dita "normal", é enfiada numa casa com mais uma data de gente, leva pancada, é violada, não tem referências e ainda deve estar agradecida. Que bela merda de país este que temos! Mete-me nojo ver os senhores padres condenarem com veemência o sexo antes do casamento e as meninas que não chegam virgens ao "grande dia" (eu sei que alguns já não defendem isto, mas são os mais novos) e a acharem normal que, na fase mais importante de crescimento e desenvolvimento da personalidade de um ser humano, se cometam uns "errozinhos" desta índole. Palhaços! Os senhores também são uns palhaços que este Estado LAICO (LAICO, sublinhe-se) venera e faz continência. Já para não falar na morte, segunda-feira, do director das Oficinas. De acordo com a PJ, tudo indica que tenha sido suicídio. Desespero por ter falhado na educação dos jovens que mataram a Gisberta ou culpas no cartóriopor algo de muito feio que se pode passar lá dentro e que há probabilidades de se tornar público? Não sei, nem quero saber. Agora também não parece justo levantar suspeitas sobre quem morreu.

A última não é melhor do que estas, mas também não lhes fica atrás. Na Amadora (eu percebi que aquilo era na Azinhaga dos Besouros), "limparam" umas barracas e houve pessoas que ficaram sem casa. Ok, é lixado. Mas bolas mais uma vez! A senhora que foi entrevistada, revoltada, não era portuguesa e ainda se dignou a gritar que a vida neste país era uma tristeza porque lhe tiraram a casa e não lhe dão outra, porque a tratam mal, pior do que um cão. Oh minha senhora: eu SOU PORTUGUESA, PAGO IMPOSTOS, TRABALHO QUE NEM UMA CADELA (mesmo assim parece que estou na categoria de ser mais bem tratada do que a senhora) e ninguém me dá casa! Pelo contrário, fazem-me pagar ao banco a mensalidade da hipoteca, os seguros e o imposto sobre o imóvel. Exige-se respeito por quem, na verdade, é obrigado a contribuir para que este país saia da merda e que ainda tem de apanhar uma depressão por ver que o seu esforço não leva, rigorosamente, a lado nenhum.

Afinal ainda havia uma última: O Independente MORREU! É triste ver como acabou um jornal que em tempos foi inovador e bastante incómodo. O pior é que morreu de doença prolongada e todos assistimos à sua crecente degradação...