Há coisas que me conseguem mesmo tirar do sério. A prostituição é uma delas. Não o facto de existir, nem as razões que levam algumas pessoas a praticá-la. É, sobretudo, a forma como as pessoas que a praticam são tratadas e marginalizadas. Agora refiro-me apenas às mulheres (sabendo bem que os homens também a praticam em diversas escalas) porque vi um documentário que me deixou de boca aberta.
As descrições destas miúdas (sim, há algumas com 15 anos) são impressionantes, de provocar pele de galinha. A necessidade de o fazerem para sobreviver (quer porque são "agarradas", quer porque são novíssimas e têm filhos para sustentar) faz-me odiar a sociedade em que vivemos, hipócrita, que muitas vezes dá apoios a quem não precisa (ou não quer fazer nenhum) e esquece os que realmente precisavam de uma ajuda (nem que fosse emocional). Ok. Eu sei que a prostituição pode ter contornos de luxo, ser viciante do ponto de vista em que dá muito dinheiro a ganhar... mas bolas... nem me interessa isso agora. O que me interessa - e me indigna - é que em Oklahoma haja parques de camiões onde elas "atacam". E, em consequência, mais camionistas nesses parques precisamente porque elas estão lá. Pior. o que mais me choca, mesmo, é ter visto uma rusga a um desses parques em que o agente simulou ser camionista e - imagine-se! - consegui prender a rapariga. Uma miúda com 19 anos, filhos em casa para sustentar, a fazer 500 dólares por noite (o que dá mais camionistas do que os dedos das mãos podem contar) e a ser detida porque fez o que não devia, o que a lei proíbe: vender sexo.
Ora que grande merda (desculpem lá a franqueza)! Querem ver que elas invadem os camiões e os desgraçados dos camionistas são violados e obrigados a dar-lhes dinheiro!!! Ela infringiu a lei e tem de responder por isso. Mas e os palhaços que as procuram, tratam como lixo e deitam fora de seguida? Foram seduzidos. Sim, porque a culpa é sempre das mulheres. O que quase dá a entender que os homens são uns seres andantes com músculos, imenso apetite sexual e desprovidos de cérebro ou de algo que os faça conseguir dominar os seus "instintos".
O mais triste é que, mesmo não falando de prostituição, muitos homens têm este comportamento idiota de fazer recair a responsabilidade nas mulheres porque, coitados, não se conseguem controlar e elas (nós) provocamo-los. Posto isto, acho que alguns até merecem ficar em ponto de rebuçado e serem atirados ao duche de seguida. Pode ser que com o treino aprendam a comportar-se com dignidade e a usar o que têm debaixo do cabelo.
Acrescente-se que, segundo os relatos, muitas delas se odeiam pelo que fazem e se anulam, deixam sair a alma, quando estão com os clientes. Outras drogam-se o mais possível para não sentirem a dor. Outras, ainda, não contam os clientes; contam o dinheiro e só páram quando conseguem o "suficiente". E há mais! Muitas vezes quando conseguem o suficiente para o chulo, que as enche de pancada se o dinheiro que ele quer não chega. Uma delas vê mal tal foi a carga de tareias sucessivas que foi levando. O que resta, no fim, destas mulheres? Acabadas para a profissão (ou então a atacarem nas zonas chungas, que até mete nojo só de imaginar), ausentes de si próprias porque se habituaram a não sentir para não sofrer, sozinhas, cheias de traumas e complexos... Perde-se uma mulher, perde-se um ser humano talvez para sempre... Eu preferia que houvesse prevenção porque me custa imaginar o que deve ser passar o resto dos dias com estes fantasmas e neste vazio existencial.
quinta-feira, julho 13
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2 comentários:
Tanzan e Ekido certa vez viajavam juntos por uma estrada lamacenta. Uma pesada chuva caía, dificultando a caminhada. Chegando a uma curva, eles encontraram uma bela garota vestida com um quimono de seda e cinta, incapaz de cruzar a estrada.
"Venha, menina," disse Tanzan de imediato. Erguendo-a nos seus braços, ele carregou-a atravessando o lamaçal.
Ekido não falou nada até aquela noite quando eles atingiram o alojamento do Templo. Então ele não se conteve e disse: "Nós monges não nos aproximamos de mulheres, especialmente as jovens e belas. Isto é perigoso. Por que fez aquilo?"
"Eu deixei a garota lá," disse Tanzan. "Você ainda a está carregando?"
Bem visto, sim senhor. Concordo. É mau para os dois lados. É como a traição: não é só aquele que seduz mas também o que é seduzido que tem culpa.
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