Quando a esmola é muita, o pobre descofia. Pelo menos é o que se costuma dizer. Não sei se é por sermos portugueses e estarmos sempre à espera de que algo desagradável aconteça ou se, simplesmente, é porque sabemos bem que na vida há bons e maus momentos. A seguir a um bom, haverá um mau; depois de um acontecimento negativo há sempre uma lufada de ar fresco que invade as nossas vidas.
E se, de repente, o mundo parecesse parar com os acontecimentos maus e só trouxesse coisas boas?! Daquelas a que não estamos habituados e que, por isso, estranhamos. São serenas, belas, entusiasmantes pela sua originalidade. E eis que o ser humano se coloca logo à defesa: "eh pá! Não estou habituado a isto... Devo aproveitar sem pensar em mais nada ou começo já a preparar-me para o momento mau que vem a seguir?". Pois... Não sabemos se virá mesmo um momento mau a seguir (ou, pelo menos, não sabemos se ele se vai dar na mesma situação que agora nos faz felizes), além de que o passado e o futuro são imaginações nossas. Não existem. Um porque teve o seu tempo para acontecer e já lá vai; outro porque é baseado em especulações, sonhos, ânsias e pode nunca acontecer. E nesta viagem constante entre passado e futuro, perde-se a oportunidade de viver na terra o paraíso. Porque ele existe. Sim, existe. Mas é preciso deixar que tudo aconteça em liberdade, sem limitações, sem a tentativa desenfreada de agarrar o que quer que seja. Porque, tal como os animais selvagens, perde a sua beleza e espontaneidade se for sujeito ao aprisionamento.
sábado, julho 29
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