sábado, maio 20

A Dignidade de Ousar

Navegava eu na Internet quando encalho numa frase magnífica que eu já sei que muitos me vão dizer "Oh, Sofia! Pára lá com isso de olhar para dentro. Sai mas é de casa, bebe uns copos, abana o capacete que isso passa-te". Pois, a mim quer-me parecer que não passa. O que acontece é que se vai ignorando o que realmente se passa, mas isso é outra história. Vamos lá então à frase.

Não nos iluminamos imaginando figuras de luz, mas tomando consciência das trevas - Jung

Depois, dizia o responsável pelo site a propósito da frase: "Isto quererá dizer que só à medida que o homem se expõe repetidas vezes à aniquilação, aquilo que é indestrutível pode surgir dentro dele. Nisto reside a dignidade de ousar."

E, mais uma vez, eu não podia estar mais de acordo. É como se repetidas mortes ocorressem para levar de vez o que já não presta e deixar o que nos interessa para continuar a viagem. Basta imaginar o percurso longo de um coleccionador de pedras. Põe no saco cada pedra que encontra no caminho. A dada altura, não consegue mais andar com tanto peso. E vai ter de começar a largar pedras. Uma escolha difícil, por vezes dolorosa porque se escolheu cada pedra com carinho, mas imprescindível no caso de se querer continuar a caminhada. E lá vai o coleccionador de pedras, pé ante pé, só com as pedras especiais no saco e a apanhar apenas aquelas que realmente lhe possam ser úteis. A dada altura na nossa caminhada, só isso interessa. O círculo das pessoas verdadeiras e boas que nos rodeiam vai-se apertando, apertando. Porque, se formos inteligentes, ficamos cada vez mais exigentes e não desperdiçamos tempo que vale o seu peso em ouro. Mas, como em tudo na vida, há sempre a outra face da moeda. Há quem prefira ir avançando com todas a spedrinhas pequeninas que encontra, sem perder tempo a contemplá-las e a dar-lhes valor. Avança, avança, sempre distraído, sempre a iludir-se. O que me entristece pensar é que um dia o peso será tanto que esse "peregrino" vai ser obrigado a sentar-se e a deitar fora pedrinhas. Mas já serão tantas e tão misturadas que a confusão irá ser aterrorizante. Por outro lado, também entendo que muitos podem não ter agora o "arcaboiço" para tomar consciência das suas próprias trevas e fazer-lhes frente. Por isso vão vivendo à média luz...

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