"Ele/a foi o grande amor da minha vida." Esta é uma frase bonita, nostálgica, romântica, de grande intensidade. Dita assim, de chofre, remete-nos imaginariamente para um cenário no qual um idoso desfia a longa história da sua vida e recorda, com carinho, os bons momentos que viveu. Pois... mas esta frase é vulgarmente dita por pessoas com 40, 30 ou mesmo vinte e poucos anos. E aí perde toda a força que poderia ter se fosse dita num outro contexto. Passo a explicar.
Gostava que alguém me explicasse como é que aos 20, 30 ou mesmo 40 anos pode achar que já viveu os melhores anos da sua (longa?) vida. Não estarão a confundir um grande amor com o amor de uma vida? Parece-me normal que se faça um balanço de toda uma existência numa situação limite ou numa idade em que já não se espere grande coisa. Tenho, até, algum receio que o mal seja mesmo esse: já não esperar nada da vida. Dizer uma coisa destas aos 20, 30 ou mesmo 40 anos é sinónimo de passado mal resolvido, falta de confiança e perda total e completa de objectivos.
Ontem era este o tema do programa "Eles Sobre Elas", da Sic Mulher. Quatro homens a falarem de mulheres, relações e, sobretudo, deles próprios. Fiquei admirada por ouvi-los defender esta teoria. Eles, que pertencem a esse grupo de seres humanos (homens) que já sofreu por amor, que amou demais e que se recusa a voltar relacionar-se para não sofrer ou porque já deu tudo o que tinha a dar. Estes homens surpreenderam-me ao dizerem que há, de facto, grandes amores, mas que, se fecharmos a porta para sempre, podemos estar a perder algo de muito gratificante e quem sabe, esse sim, o grande amor das nossas vidas. Seja como for, só lá bem no finalzinho, quando fizermos o balanço geral, é que podemos atribuir às pessoas esses galardões: "fulano/a foi o grande amor da minha vida". Estes homens inteligentes conseguiram perceber - e transmiti-lo - que nunca se ama da mesma forma porque não há duas pessoas iguais. Logo, quando uma porta se fecha, a janela que a seguir se abre pode ser tão ou mais magnífica e gratificante que a porta que acabou (ou não) de se fechar.
Sim, eu já vivi um grande amor. Sim, eu já achei que era o amor da minha vida. Não, não voltaria a querê-lo agora (porque teve o seu tempo, porque agora não faz sentido). Não, não estou agarrada a ele. Aos 90 anos acho que já estarei pronta para dizer quem leva o galardão, que terá escrito: "Em tom de balanço vos digo... Este foi o grande amor da minha vida." E aí expirarei para sempre...
terça-feira, maio 30
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