Recomendo uma entrevista que o DN publicou na sua revista Notícias Magazine, de 20 de Agosto, ao sexólogo e psiquiatra Francisco Allen Gomes. Quando se fala de sexo, muitas coisas nos passam pela mente e muitas mensagens e propostas proliferam à nossa volta. O interessante desta entrevista é que Allen Gomes alerta para o facto de, perante esta aparente "liberalização" da sexualidade e de tudo o que ela envolve, as pessoas continuarem a ser infelizes na sua vida sexual.
Isto, por um lado, porque o que as revistas apregoam como sendo o "normal" pode não ser o essencial e o melhor para cada pessoa. Por outro lado, muitas vezes as pessoas deixam de investir no conhecimento e no "explorar" do outro, do seu corpo e do seu prazer porque sempre ouviram ideias pré-concebidas de como deviam fazer e comportar-se.
A parte que eu acho mesmo interessante desta longa entrevista é quando o sexólogo diz que o segredo de uma boa vida sexual é a criatividade. E que, ao contrário do que possa parecer, isto não significa recorrer a todas as "inovações" que os media sugerem e apresentam. Diz ele que "para haver criatividade tem de haver intimidade". E a intimidade é "verdadeiramente perigosa" porque implica o baixar as defesas, o fragilizar-se perante o outro, o deixar o outro chegar a si e nós a ele. Ou seja, se houver mal intencionados pode também haver vítimas desta entrega. "Portanto, é uma coisa que implica muita coragem", conclui Allen Gomes. Continua dizendo que é a partir deste ponto, desta entrega, que o casal descobre "um mundo de sexualidade muito rico, mas muito difícil de descrever".
Um mundo que, grande parte das vezes, a própria pessoa desconhece. Porque não se entregou, porque não explorou, porque não se deu ao trabalho de conhecer. Até porque essa criatividade que conduz à intimidade implica "transgressão". O ir além do que é suposto, do socialmente explicado e padronizado. É um entrar no universo do outro e deixar que o outro entre no nosso mundinho, que tem coisas belas e fortes, mas também tem fraqueza e fealdade.
Allen Gomes defende, ainda, que vai chegar "o tempo da vagina". Uma altura em que o rápido processo erecção/ejaculação que domina o universo masculino - e que é o comportamento sexual desde há séculos - dá lugar a um conhecimento do órgão sexual feminino que permite tirar mais proveito dele (com as mulheres a exigirem que lhes dêem atenção e a ele se dediquem como elas sempre se dedicaram ao pénis e ao capricho dos maridos/amantes/namorados).
Para rematar, uma ideia que pode estar também na origem desta falta de entrega e de aposta na intimidade: "As pessoas têm medo. Quando comecei a fazer terapia sexual lembro-me de uma senhora me perguntar: 'Ó senhor doutor, e não há o perigo de depois ser de mais?'Ou seja, o que me acontece quando eu libertar tudo o que tenho dentro de mim?" Who knows?!
quarta-feira, agosto 30
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1 comentário:
:). Sim, tenho cópia. Este é para quando vier "o tempo da vagina" eu ter a prova de que ele já tinha sido anunciado :) :) :)
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