sábado, agosto 12

Voltaram os incêndios, voltou o sensacionalismo

Não há pachorra para as imagens televisivas dos últimos dias. É certo que o país voltou a estar em chamas e é preciso denunciá-lo, mas para quê mostrar gritos e caras de desespero? Por que não preservar a dor daquelas pessoas que, por estarem desesperadas, perdem a noção do "bom senso", do ridículo e daquilo que gostariam que fosse transmitido pela televisão.

Eu já estranhava não haver meia hora de incêndios nos noticiários, como é normal em Agosto quando não há mais nada para noticiar. A guerra no Líbano desviou as atenções, mas deixou de ter piada (na óptica dos directores das televisões, parece-me). As imagens de guerra a entrarem em casa já cansavam. Tiravam o apetite. Aumentavam o desespero e a revolta de assistir a um conflito da tanga (pela forma como foi criado) que as grandes potências não estão interessadas em pôr um ponto final.

E agora... pimba! Tomem lá incêndios. Tomem lá pessoas aos gritos, bombeiros mortos, velhotes a serem carregados ao colo de um lado para o outro, mulheres histéricas à procura dos maridos e a tentarem proteger as casas. Tomem lá, pirómanos! Inspirem-se nestas belas imagens e ateiem lá mais uns foguinhos. Há dias, um inspector da PJ dizia-me que quando há muita divulgação de casos de violação e maus tratos, por exemplo, aumentam as queixas na polícia. No caso dos incêndios, parece-me que a visão dantesca e bela de uma floresta a arder só faz com que os criminosos provoquem mais o caos e tenham instintos de maldade. É isto que eu critico na minha profissão. O bom senso nem sempre impera. O equilíbrio não é preponderante e os excessos cometem-se sem pensar nas consequências.

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