Designa-se por "silly season" aquela época do ano em que os media dão notícias que não interessam a ninguém, mas não há mais nada a noticiar porque o país pára e os protagonistas das grandes histórias vão de férias. Nota-se que a "silly season" acabou porque deixaram de se repetir programas, deixou de se dar a notícia da velhota que se esqueceu da carteira no supermercado e os protagonistas voltaram. Ou seja, os palhaços estão de regresso ao circo. Este país não existe! Trabalhei Agosto inteiro e noto que, a um dia do seu término, a estupidez voltou em peso. Hoje, então, foi um dia prodigioso em notícias do arco da velha.
O "caso Mateus" foi, sem dúvida, a palhaçada da "rentrée". Há uma semana, quase se podia ter feito um mini-torneio no Estádio da Luz se tivessem comparecido a equipa da casa e as três que reclamavam um lugar na I Liga. Depois da verborreia do costume de alguns dirigentes com a mania que são heróis nacionais (tem graça: assim de repente, veio-me à mente o Major... esse Valentão), proliferaram os debates em torno de uma questão que os tribunais e os intervenientes deviam ter vergonha de ter deixado acontecer. O Belenenses lá se mantém entre os melhores. Vá lá! Ainda pensei que abrissem mais 2 vagas na I Liga só para evitar chatices (mesmo que tivesse sido decidido previamente o número de equipas participantes). Numa coisa concordo com os comentadores desta vergonha nacional: isto denota bem a crise em que a nossa Justiça está enterrada.
Depois eis que vejo, com espanto, uma notícia sobre as Oficinas de São José, onde estavam os jovens envolvidos na morte do transexual Gisberta. Aparentemente, as funcionárias que agora foram despedidas já tinham denunciado os maus tratos infligidos às crianças. Mas foi com mais espanto ainda que ouvi as declarações de um senhor padre que disse que tinha conhecimento de alguns "problemas" a nível de higiene e "relacionamentos entre as pessoas", mas que há que dar o desconto porque as 180 instituições do género existentes em Portugal são uma bênção para as crianças. Ora porra! Uma criança, sem culpa de ter nascido, é privada do carinho e do amor sincero e gigante de uma família dita "normal", é enfiada numa casa com mais uma data de gente, leva pancada, é violada, não tem referências e ainda deve estar agradecida. Que bela merda de país este que temos! Mete-me nojo ver os senhores padres condenarem com veemência o sexo antes do casamento e as meninas que não chegam virgens ao "grande dia" (eu sei que alguns já não defendem isto, mas são os mais novos) e a acharem normal que, na fase mais importante de crescimento e desenvolvimento da personalidade de um ser humano, se cometam uns "errozinhos" desta índole. Palhaços! Os senhores também são uns palhaços que este Estado LAICO (LAICO, sublinhe-se) venera e faz continência. Já para não falar na morte, segunda-feira, do director das Oficinas. De acordo com a PJ, tudo indica que tenha sido suicídio. Desespero por ter falhado na educação dos jovens que mataram a Gisberta ou culpas no cartóriopor algo de muito feio que se pode passar lá dentro e que há probabilidades de se tornar público? Não sei, nem quero saber. Agora também não parece justo levantar suspeitas sobre quem morreu.
A última não é melhor do que estas, mas também não lhes fica atrás. Na Amadora (eu percebi que aquilo era na Azinhaga dos Besouros), "limparam" umas barracas e houve pessoas que ficaram sem casa. Ok, é lixado. Mas bolas mais uma vez! A senhora que foi entrevistada, revoltada, não era portuguesa e ainda se dignou a gritar que a vida neste país era uma tristeza porque lhe tiraram a casa e não lhe dão outra, porque a tratam mal, pior do que um cão. Oh minha senhora: eu SOU PORTUGUESA, PAGO IMPOSTOS, TRABALHO QUE NEM UMA CADELA (mesmo assim parece que estou na categoria de ser mais bem tratada do que a senhora) e ninguém me dá casa! Pelo contrário, fazem-me pagar ao banco a mensalidade da hipoteca, os seguros e o imposto sobre o imóvel. Exige-se respeito por quem, na verdade, é obrigado a contribuir para que este país saia da merda e que ainda tem de apanhar uma depressão por ver que o seu esforço não leva, rigorosamente, a lado nenhum.
Afinal ainda havia uma última: O Independente MORREU! É triste ver como acabou um jornal que em tempos foi inovador e bastante incómodo. O pior é que morreu de doença prolongada e todos assistimos à sua crecente degradação...
quinta-feira, agosto 31
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