sábado, junho 10

Droga... Maldita droga

Que a droga mata aos poucos, já se sabia. Que pode destruir quem consome e quem assiste, também não é difícil de imaginar. O que li anteontem foi isto tudo junto e muito mais ao mesmo tempo. Apesar de não ser mãe, calculo que perder um filho seja das maiores tragédias desta vida. Matá-lo, então, calculo que seja uma mistura de desespero, angústia, culpa e vazio de vida que se intalará para sempre. Dadas as circunstâncias, não sei se são estes sentimentos que se instalam naquele pai. Parece-me que o alívio também poderá ter lugar.

A história é a seguinte: um senhor de 76 anos matou o filho com um tiro depois de uma discussão em que o rapaz exigia ao pai dinheiro para a droga. As cenas eram diárias e duravam há anos. O rapaz afirmava que se iria "charrar até ao fim da vida". E os pais, doentes e com uma idade avançada, iam ouvindo angustiados, iam dando algum dinheiro para calar o filho. Até ao dia em que o cansaço deu lugar ao desespero e o pior aconteceu. Ao que parece, o senhor queria apenas assustá-lo, mas ao segundo tiro matou-o. Acabou, em definitivo, com um grave problema. Mas vai preso, aos 76 anos, quando deveria ter direito a uma velhice em sossego. Pior do que isso, vai ter de conviver com três dores profundas: sentir que falhou na educação do filho (se é que isto faz sentido e tem alguma coisa a ver), perdê-lo e ter sido ele que provocou essa perda. Não consigo imaginara muito pior do que isto. A mãe, por seu turno, perdeu o filho e o marido.

Ao ler esta história num jornal lembrei-me de ti. E da angústia de quem te rodeava e amava. Tudo em casa era passível de ser vendido para a "maldita" droga. Isso até seria o mínimo, desde que entrasses bem. Mas não entravas. O estômago tremia só de pensar como virias desta vez... ou se chegarias a aparecer. Não seria a primeira - nem a última - vez que ligavam do hospital ou da polícia a pedir a comparência dos familiares. Deste-me uma lição de vida e, ao mesmo tempo, tornaste-me intolerante para com quem diz - como tu também dizias - "isto não faz mal nenhum! É só hoje! Quando quiser parar, páro". Eu não acredito. Se calhar, porque me mentiste. Ou então, porque assisti a mais um dia, seguido de outro e de outro, sem fim à vista e cada vez com mais problemas e degradação. Algum dia, 30 anos de drogas tinham de ter um fim. O que vi não foi o que desejei para ti. Confesso-te que dei por mim a pedir que, no caso de haver Deus, Ele te convidasse para viajar. É que, a dada altura, deixaste de pertencer a este mundo. Não fazia sentido manteres-te ali, deitado e imóvel, sem que ninguém te pudesse ajudar.

Apeteceu-me este desabafo porque li aquela notícia e lembrei-me de ti; porque me cruzei no metro com um "agarrado" que contou as suas histórias e me lembrei de ti; porque vi um documentário sobre a "meta", uma droga recente e bastante poderosa, e me lembrei de ti; porque estou quase a passar por um dia especial em que tu tanto fazias questão de estar presente porque gostavas muito de mim. Pelo teu exemplo - e por tudo o que, inconscientemente, me ensinaste - deixei de pactuar com pessoas que escolhem a droga como companhia. Não quero assistir, de novo, à degradação crescente de quem amo. Se puder evitá-lo, evito. Se puder fugir, é das primeiras coisas que farei. Não é cobardia, nem falta de sensibilidade. É a plena consciência de que nada poderei fazer contra essa "senhora". Mas também não me sujeito de novo a odiá-la e a ter a consciência diária de que sou preterida em prol dela. Prefiro manter-me à distância. O que me impressiona é que nunca davas o braço a torcer, mas quando escrevias contavas a tua triste sina e a forma como gostarias de lhe mudar o rumo. Orgulhoso como eras, nunca pedias ajuda. Para isso, era preciso que reconhecesses que precisavas de apoio. Contaste que começaste pelo "básico" e foste aumentando, aumentando, até te sentires satisfeito, se é que isso era possível.

Olha, ontem li um artigo numa revista feminina que falava de um psicólogo que editou um livro sobre os "Homens a Evitar". O álcool e a droga estavam lá. Não apenas pelo mal que causam, mas sobretudo pela razão pela qual são utilizados. "Quem se refugia no álcool e na droga não consegue resolver os seus conflitos emocionais", dizia o especialista. Eu acredito nisto, sabes?! Não só porque sei aquilo por que passaste, como também porque tenho a noção de que eu teria sobrevivido mais facilmente aos momentos difícieis se tivesse consumido. Mas acho que, dessa forma, teria dois problemas: o do hábito do consumo e o das adversidades que não se resolveram, apenas se camuflaram e ficaram a ganhar pó. Posso-te dizer, em género de balanço e para não ficares preocupado, que sobrevivi. Estou muito bem e mais forte do que nunca. Descansa em paz, onde quer que estejas... Bem o mereces...

1 comentário:

emot disse...

You said it ;).