Acho que já todos percebemos que os tempos não são de empregos longos, fixos, cheios de regalias. Eu diria mesmo que estamos na era da instabilidade, a todos os níveis. Devo dizer que, por enquanto, isso não me preocupa. Alcancei o que pretendia alcançar e sei que continuarei a ter forças para voltar a fazê-lo se for necessário. Com uma vantagem: como nunca ganhei balúrdios nem estive fixa a um lugar, também nunca me aventurei em situações que me pusessem com a corda ao pescoço. De uma forma modesta, tenho o que preciso para ser feliz. Ou melhor, no que respeita ao que é palpável.
Já falando em termos de prazeres, para mim o maior deles seria sentir-me duzentos por cento realizada na profissão que tenho. Sim, acordei para a realidade há uns anitos (assim que comecei a trabalhar) e o que tento, nos trabalhos que me são mais penosos, é investi-los de paciência e muito amor. Por vezes penso: "ok! eu acho que ninguém lê/vê esta merda, mas vou dedicar todo o meu empenho a isto como se houvesse uma pessoa que se vai sentir feliz e a quem isto vai ser útil". Apesar de haver dias mais cinzentos, tenho o à-vontade para dizer que hoje em dia faço o que quero. Se me apetecer vir embora, venho. De qualquer um dos vários sítios para onde trabalho. Em primeiro lugar porque, como já referi, não dependo deles para pagar os meus vícios (um outro qualquer os pagará, pois são pouco avultados), depois porque cheguei a uma fase em que deixei de me sujeitar a algumas coisas. Não é isso que me faz feliz, não é isso que me faz vibrar por dentro. E sempre que puder vibrar eu vibrarei. Para chegar a este desprendimento interior precisei de bater com a cabeça, de engolir milhares de sapos e de queimar pestanas e ganhar cabelos brancos que a pouco ou nada me levaram.
Depois há outa coisa: o dinheiro não é tudo na vida. Compra um estatuto, uma posição social. Mas não compra o prazer de me sentar no chão com as crianças e de ouvir as histórias humildes e sofridas de quem sempre trabalhou arduamente, mas que nunca chegará a ser ninguém na vida. Normalmente - e quem se move no jornalismo sabe do que falo - estas coisas são mal pagas e não dão para viver só delas, mas dão uma riqueza interior que nenhuns milhares de euros poderão pagar. E como a vida é instável, como o que hoje é verdade amanhã já poderá ser mentira, eu prefiro ir-me entregando a esses pequenos grandes prazeres que não me farão mudar de casa, mas que me podem, em breve, fazer mudar de vida. "Muda de vida se tu não vives satisfeito..." nunca me pareceu tão certo como hoje. Admiro quem consegue ter esta coragem, apesar de achar que cada vez são menos os corajosos porque embarcam em aventuras que os fazem depender dos seus trabalhos e tornar-se, assim, os vendidos que eles tanto criticam...
sexta-feira, junho 16
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