“Os amantes não se encontram apenas, eles existem um no outro todo o tempo” – Rumi
É frequente pensar-se que a vida muda muito se encontrarmos a pessoa certa. Alguém que nos vem retirar do sofrimento, apatia e desilusão em que vivemos. Qualquer coisa como um príncipe encantado num lindo cavalo ou um mestre que traz a solução de todos os nossos problemas. Até aqui tudo muito bonito. Pena é que a realidade seja outra bem diferente. Em primeiro lugar, ninguém muda nada que o outro não queira; em segundo lugar, só a ideia de a mudança radical surgir de fora já é algo muito deturpado. A frase de Rumi reúne o princípio básico da atracção entre as pessoas: só atraímos para nós aquilo que temos dentro. Seja isso uma característica consciente e activa ou algo que gostaríamos de ser ou atingir e ainda não conseguimos. Posso dar dois exemplos. Há quem sinta fascínio por pessoas pouco convencionais, que fogem ao que se considera norma em termos de imagem ou de comportamento. É bem provável que o mecanismo subjacente a este fascínio seja o facto de quem está fascinado ter dentro de si essa vontade de se apresentar ao mundo de forma não convencional, mas não tenha coragem de passá-la à prática. Por outro lado, alguém que permite na sua vida pessoas que a desrespeitem pode muito bem indicar que, acima de tudo, é ela que não tem respeito por si própria. Até porque, se tivesse, não permitia que a desvalorizassem.
Eu achei esta frase linda porque, mais uma vez (yes, sou sonhadora e gosto de filosofias), fornece toda a autonomia e a capacidade de sermos os controladores da nossa vida. Como poderá alguém amar outrem - ou deixar-se ser amado – se não está disponível para esse amor? O mais provável é que se repita o aparecimento de amantes indisponíveis. Com algum trabalho – sim, demora e por vezes magoa – é possível converter a indisponibilidade em abertura e, aí sim, finalmente, começarem a atrair-se pessoas empenhadas e prontas para amar. Por isso é que se diz que a melhor forma de percebermos o que vai mal connosco é relacionando-nos com os outros. Se conseguirmos ter a capacidade de perceber que não é o outro que está errado, mas somos nós que atraímos aquele tipo de pessoa e/ou reacção, temos todos os dias preciosas pistas de como nos podemos melhorar. É como aquela história de exigirmos para nós aquilo que temos capacidade para dar. Funciona do mesmo modo, inclusive ao contrário. Se não temos nada para dar, escusado será dizer que o primeiro tipo de pessoa que atraímos para as nossas vidas é alguém que nos irá dar pouco. Depois é uma questão de ir afinando a bússola e permitir que as tais pessoas “certas” entrem no momento “certo”.
Realmente, eu devo ter muito que aprender. Posso dizer que atraio pessoas pouco convencionais e situações que eu diria serem trágico-cómicas. Acho que deve ser pelo facto de a minha vida interior ser um palco, com vários actores, inúmeros cenários e histórias sempre diferentes. Por vezes, as peças mudam de repente. Ainda uma não saiu de cena e já lá está outra a ser encenada. Posso dizer que não tenho tédio, mas nem sempre tenho tempo de mudar o cenário e os adereços…
terça-feira, junho 20
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