Na vida – e isto é apenas a minha modesta opinião – há poucas coisas que valem realmente a pena. Isto no sentido de nos incomodarmos e deixarmos abater por elas. A perda de alguém importante (seja ou não para sempre) ou uma doença grave parecem-me ser os dois grandes aspectos de relevo nesta vida. Com mais ou menos dinheiro, uma ou outra cabeçada, esta ou aquela angústia, vamos sobrevivendo ao que a vida nos reserva. Mas é quando alguém que amamos morre ou se separa de nós e quando nos confrontamos com um grave problema de saúde que o nosso chão abana e, por vezes, se abre mesmo.
Ontem, alguém que perdeu um filho dizia-me isto mesmo. Face a tão dolorosa experiência, relativiza-se muito mais a vida e todos os problemas que nós dizemos existirem. O gajo não gosta de mim, traiu-me, abandonou-me; o colega de trabalho tentou lixar-me (olha que novidade!); o estúpido do meu chefe deu-me uma má resposta; tenho estrias, mais três quilos e banhas que me impedem de vestir o biquini e ser “a melhor” da minha rua… Estas e outras preocupações quotidianas na vida de muito boa gente não passam de “peanuts” comparadas com reais partidas que a vida nos pode pregar. Estou-me a lixar para o facto de o gajo não me ligar nenhuma e estar de atenções voltadas para a outra (foi um favor que me fez, pois quero mais e melhor); não me incomoda que o colega tente trapacear-me, pois sei o valor que tenho e onde consigo chegar; vou ignorar o chefe e tentar perceber que hoje não está nos dias dele; vou fingir que não vejo o corpo marcado pelas estrias, nem o peso a mais na balança ou a falta de ginásio… É pena que estes sentimentos tomem conta de nós apenas quando algo de grave acontece nas nossas vidas. Por causa destas tretas, às vezes peço à vida para me trazer experiências fortes que me façam encontrar-me com aquilo que realmente sou. Longe das coisas mínimas, que são pedrinhas num sapato, e que não matam mas moem.
sexta-feira, junho 16
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