segunda-feira, abril 24

Algibeiras

Mais um texto que me chegou da minha amiga karatekida...

As algibeiras dos aventais das avós fascinam-me. É uma opinião bastante pessoal, eu sei, mas acho mesmo que deviam constar da lista das maravilhas do mundo. São autênticos mistérios. Armazéns em miniatura. Inventário de emoções. Um dia, decidi investigar o avental da minha mãe para validar esta teoria. E chegar à verdade, ou pelo menos, ao começo dela.

Confesso que não estava preparada: Chuchas, peças de puzzle, molas da roupa, lenços (objecto muito útil para travar “aquelas” lágrimas), comprimidos para as dores de cabeça e da alma, peças perdidas de lego, lápis de cor, bilhetes com recados, laços, os bolsos não paravam de cuspir objectos sem relação. Brinquedos esquecidos, papéis com mensagens para o futuro (ou do passado), moedas antigas, a lista continuava a aumentar.

Na realidade percebi que o mundo da minha família tem passado em parte por aqueles bolsos. No fundo, os bolsos guardam memórias, daqueles que ainda as não sabem usar e para aqueles que um dia viverão exclusivamente delas.

É um facto. Um avental, lavado, fresco e engomado não tem piada nenhuma. Acumule-se semanas de uso, nódoas de fruta ou de papa e bolsos cheios, e a coisa de figura. Passadas umas semanas, a peça de roupa reclama água e detergente. É um ritual. Esvaziam-se os bolsos, faz-se o inventário dos objectos, que esperam, depositados num canto, por regressarem, um a um, ao porto de abrigo, que no caso, será sempre a algibeira do avental.

Lavada, a peça de roupa está pronta a ser reutilizada. A avó, fardada de avó, retoma o cerimonial: coloca nos bolsos, com cuidado, as peças do seu pequeno tesouro. Não se sabe quando é que a neta mais velha precisará de um comprimido para as dores de cabeça, ou então, quando o neto mais pequeno quererá mesmo fazer um desenho e não encontra o lápis roxo, roído numa ponta, mas afiado...

As algibeiras dos aventais só rivalizam com as gavetas daqueles móveis normalmente colocados nas entradas. Arquivos sem lógica, onde vai parar tudo o que está a mais na decoração. Desde chaves (sem fechadura), cartões de visita sem cor e outros tantos objectos sem utilidade aparente, pelo menos à vista desarmada… Prometo aprofundar o tema, mal acabe de arrumar as algibeiras, ok?

karatekida

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