"Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão a nossa alma." Chico Buarque
Esta deve ter sido das definições mais bonitas e acertadas, na minha opinião, que encontrei sobre o que é a verdadeira solidão. Chico Buarque diz que sentirmos falta de pessoas para sair, conversar ou fazer sexo é CARÊNCIA; a ausência definitiva de pessoas que nos são queridas é SAUDADE; o retiro voluntário, fechados na nossa concha, para reflectir é EQUILÍBRIO; os momentos em que a vida nos força a estar isolados e sozinhos para revermos o que temos andado a fazer é um PRINCÍPIO DA NATUREZA; e não termos quem tome um copo connosco é apenas uma CIRCUNSTÂNCIA.
A solidão - palavra que facilmente utilizamos para designar uma carência, uma saudade, uma necessidade de equilíbrio, um princípio da natureza e uma circunstância - é algo demasiado profundo para que possamos alguma vez sentir-nos sós. É que, mesmo que a alma se perca, muitas vezes nem damos conta que a perdemos e tentamos enganar-nos com ilusões ou distracções. Tentamos agarrar, o mais possível, situações, pessoas e circunstâncias que nos façam sentir acompanhados. E vamos morrendo, sem dar conta. Morrendo por dentro. Porque o que precisava mesmo de ser alimentado era a alma, aquilo em que acreditamos convictamente e aquilo de que mais facilmente nos esquecemos. Essa alma é, muitas vezes, exigente. Outras tantas é contrária ao que a sociedade espera de nós. Nesse dilema de exigência/aparência, somos confrontados com a necessidade de mandar calar a alma e pedir-lhe que espere só mais um pouquinho... Até perdermos o medo e estarmos certos do que queremos, do caminho que vamos seguir. Neste espera, não espera, a alma vai-se escondendo como uma criança desanimada a quem os pais dizem constantemente: "Já te disse para estares calada! Ainda és muito nova para teres quereres!". Daí à verdadeira solidão... vai um pequeno passinho...
Quando o exterior que nos ilude e distrai desaparece - e a vida tem tantas formas criativas de fazê-lo desaparecer - temos, finalmente, a oportunidade de cuidar da alma. Mas aí, já passou tanto tempo desde o momento em que perdemos o contacto com ela que acaba por ser difícil entendê-la. Parece até que falamos linguagens diferentes. Por isso, se conseguirmos, era bom irmos falando com a alma de forma continuada, como nas relações. Um diálogo aberto, sincero, firme e muito, muito paciente. O divórcio com esta senhora, ao contrário das separações habituais, pode custar-nos todo um resto de vida em sofrimento e insatisfação constantes. Como quase tudo tem cura, esta amiga (a alma) só precisa de atenção e muito mimo. Paradoxalmente, tudo aquilo que desejamos mas não conseguimos proporcionar a nós mesmos...
sexta-feira, abril 28
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