terça-feira, abril 25

A minha liberdade começa... onde começa a do outro

No original, esta máxima diz que "a minha liberdade termina onde começa a do outro". Não quero ser cinzenta nem pessimista, mas devíamos andar com isto colado na testa ou com uma cábula no bolso para nos lembrarmos mais vezes.

Hoje o dia até era propício a essa máxima. Dia da Liberdade, 25 de Abril, feriado, muito Sol e calor. Condições reunidas para um café de fim de dia numa qualquer esplanada. Um molho de revistas e um livro para passar os olhos e reflectir um bocado (trabalho e não só). A esplanada até pode estar quase vazia, mas nunca conseguimos respeitar a liberdade uns dos outros. Numa mesa, fala-se alto para que todos oiçam os problemas matrimoniais e as piadinhas gratuitas que é suposto fazerem rir mas que não têm graça nenhuma. Pelo menos, para quem quer relaxar e ler o seu livro sossegado. E que, ainda por cima, escolheu uma mesa bem ao cantinho, quieta e longe dos olhares curiosos.
Noutra mesa, um pai ralha com uma criança porque escolheu um gelado de água, em vez de um de leite. Um gelado que esse mesmo pai vai pagar e deixou a criancinha escolher, mas ralha e ralha e ralha. E a criança, que o escolheu com tanto prazer, encolhe-se na cadeira, envergonhada por ter feito aquela escolha e por todos estarem a ouvir...
Para completar o "ramalhete", um casal de namorados - ou amigos coloridos - senta-se exactamente ao lado de quem quer ler o seu livro e escolheu um cantinho para tal. Tanta mesa convidativa ali pelo meio. Mas não... Mesmo ao lado, cadeira com cadeira. "Por que é que não me respondeste ontem à mensagem?", pergunta ele. "Oh! Era tarde e pensei que não vias...", responde ela docemente. "Mas via hoje quando me levantasse", reclama ele com bons modos. Conversa puxa conversa e lá vai um cigarrinho. Com o fumo, claro está, a invadir quem quer ler o seu livro sossegado e que, por acaso (só por mero acaso), não fuma. Além disso, não se sente na legitimidade de pedir para pararem de fumar porque também eles são livres de o fazerem. Quando dá por isso, quem foi ali para ler o seu livro está a envolver-se em três histórias diferentes que o vento transporta. E que até podiam não fazer diferença nenhuma se as pessoas soubessem onde acaba a sua liberdade de invadirem o espaço dos outros.

Em resumo, nesta treta de liberdade que respeita liberdade quem acaba por sair prejudicado é quem aceita a liberdade do outro. Os outros são livres de se expressarem, logo, podem gritar; os outros são livres de fumarem, logo, podem poluir o ar alheio... Também pensei ter conquistado a liberdade de querer e de ter "low profile", ar puro e uns minutos de "relax" para ler os meus livros e falar com os meus botões...

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