Hoje está a ser um dia particularmente difícil. O trabalho amontoa-se no mail e na secretária e há que dar-lhe vazão. Eu consigo (como, aliás, consigo de todas as outras vezes), mas à medida que vou organizando a papelada e fazendo o exercício matinal de actualização da informação, vou descobrindo mais e mais coisas sobre o amor.
Realmente, ele deve andar pelas ruas da amargura tal é a frequência e a intensidade com que se referem a ele. Desta vez, vem na Notícias Sábado (do "Diário de Notícias"). Na polémica crónica O Sexo e a Cidália, a autora (suponho que seja mulher pela forma como tão bem transmite os sentimentos femininos) escreveu um texto que intitulou de "As coisas com que se faz o amor". Além de falar que não se deve voltar a dormir com ex-namorados (porque se a relação acabou, o sexo já se "tinha esgotado há muito"), ela tem esta tirada:
"Apercebo-me nestes dias da aridez em que tantos casais vivem. Pisam um território imaculado (seco, no entanto) em que nenhum se permite ser ele próprio, renunciando às suas imperfeições perante a presença do outro. Atrevo-me a dizer que estas pessoas nunca vão saber o que é um grande amor. Escondem pequenas e grandes angústias. Não perguntam na hora da dúvida (a não ser se o vestido assenta bem) e não arriscam na hora da partilha. Descobrir, anos depois, que a pessoa com quem vivem mantinha há muito uma relação extraconjugal não as pode surpreender. No momento da dúvida, não perguntaram por pudor; e ao pudor começaram a chamar respeito. 'Gosto de respeitar o meu parceiro'. Para mim, respeitar é ir ao fundo da intimidade que nos envergonha e voltar de lá com mais paixão. Há uma intimidade que nos causa embaraço, não há? Essa é a melhor quando é vencida".
Grande Cidália! O problema é que há poucas pessoas realmente capazes de serem honestas consigo e com aquilo que precisam. Assumir isso é correr o risco de seguir sozinho, de não ter quem nos diga coisas bonitas, de voltar para casa e o telefone não tocar porque já não existe na nossa vida quem nos fazia o telefonema. Isto é assim a curto prazo porque uma pessoa habitua-se (como sempre e em tudo, aliás). A longo prazo, é um respirar de alívio por não ter perpetuado uma situação que não nos deixava respirar nem nos permitia ir ao máximo das nossas capacidades. Esse, para mim, é o grande desafio da vida e das relações. Ir ao máximo de mim própria. Conseguir cumprir-me. E isso, obviamente, não passa por saber que posso mais e melhor, mas que me contento com isto. "Oh God, make me good, but not yet"... diz a Cidália...
terça-feira, setembro 5
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