quinta-feira, setembro 21

Geração de Atadinhos

Nova pausa para filosofar um bocadinho. Há que enganar o cérebro e dizer-lhe que "não, não é tudo igual! não são horas seguidas de trabalho sem parar...". Desta vez a pausa sugere-me que fale de um trabalho que a Notícias Magazine (DN) publicou há umas semanas sobre as nossas crianças. Aqueles que estamos a criar para serem os futuros dirigentes e pessoas maduras deste país e do mundo. De acordo com a autora do texto, esses senhores do amanhã serão uns "atadinhos" a quem sempre tentaram esconder que a fome, a dor, o sofrimento, a luta diária por um mundo melhor existem.

Queimados por uma infância repressiva e limitadora, os pais das crianças do agora desaprenderam um "não" porque os meninos podem ficar traumatizados; colocam-nos numa redoma para que eles sofram o menos possível e não vejam as desgraças desta vida; elogiam-nos em demasia para que não lhes falte auto-estima; dão-lhes todos os brinquedos e facilidades para que eles não se queixem mais tarde de ter tido uma infância pobre. Em suma, preparam totós que se tornam mimados e pouco preparados para a vida.

Diz-se no mesmo texto - e a meu ver muito bem - que a frustração, o sofrimento e a perda fazem parte da existência. Se assim é, por uma questão lógica, deve-se ensinar às nossas crianças que elas também erram, que muitas vezes vão levar com a porta, que outras tantas vão chorar e perder coisas... mas que tudo isso lhes vai valer para se levantarem mais fortes e olharem com uns óculos realistas e positivos para uma "bênção" chamada vida. Aquela de que todos reclamamos, mas que damos o litro para manter quando percebemos que nos pode fugir.

Há outra parte interessante do texto que defende a existência de regras. Se o menino tem a mesada de 100€ e gastou 90€ em "peanuts" quando precisava de 30€ para o concerto, então deve aprender que o problema é dele e que, para a próxima, se quer ir ao concerto deve fazer melhor as contas. A isto chama-se dar valor à vida, às circunstâncias em que ela surge e ao esforço que muitos pais fazem para formar os seus filhos e fazer deles "alguém".

Uma outra parte mais interessante, que cita um especialista estrangeiro, refere que nós nos devemos preocupar com as outras crianças. Com aquelas que passam fome, que não têm pais, que pegam em armas aos 7 ou 8 anos, que são mal-tratadas e que nunca saberão o que é o amor. Enquanto o nosso filho amua no quarto porque não vai poder comprar os ténis de marca que tanto queria, deveríamos nós estar a pensar como podemos ajudar o menino do bairro vizinho que vai para escola de sapatos rotos e com uma carcaça seca na mala porque não há dinheiro para mais.

Confesso que me transformo quando falo disto e posso cair no exagero. Mas há muitas coisas que me tiram do sério, entre as quais queixarmo-nos de barriga cheia e atirarmos areia aos olhos das nossas crianças, que amanhã nos irão criticar e julgar porque perceberam que, afinal, não estão preparadas para a vida. Porque, ao contrário do que os pais lhes fizeram crer, também elas vão ter de lidar sozinhas com a frustração e com a inevitabilidade de que a vida é um desafio constante que faz crescer e tem coisas muito boas, mas pelas quais há um preço a pagar. Maior ou menor, consoante o grau de realidade em que cada um vive.

1 comentário:

Anónimo disse...

CRIANÇAS, minha amiga?!? anda uma geração atrás.... OS JOVENS!!! Eles já são assim... é incrível! Burros e arrogantes, auto-estima de sobra pelo simples facto de existirem, nulidades no trabalho e irresponsáveis, e nem podemos sequer ousar fazer uma questão um pouco mais complexa que exija pensar, porque raciocínio não é com eles. Tem de se lhes fazer a papinha toda. Existem jovens de excelência mas a maioria... NÃO SÃO! Pensam que só direitos e esquecem-se que têm deveres. Em especial o dever de estar calado para não dizer asneiras. E foi à minha geração que chamaram a geração rasca! quem afirmou isso devia ver como eles são agora... enfim...