Hoje, no metro, vinham duas adolescentes sentadas ao meu lado. A conversa girava em torno de uma médica, que elas não sabiam se haviam de consultar em Lisboa ou mais perto de casa delas. Essa médica, supostamente, era a ginecologista a quem iriam contar a sua primeira experiência sexual e ver se "estava tudo bem" (como diziam uma para a outra).
Ouvir isto fez-me voltar ao passado e aos tempos em que tudo era fantasiado, romantizado, e em que essas coisas eram importantes para nos conseguirmos posicionar no mundo "dos adultos". Tal como foi no meu tempo, também estas duas adolescentes estavam cheias de problemas em ir à médica. Não por vergonha da especialista, mas porque tinham de inventar uma desculpa para dar às mães. "Olha, dizes que te vais encontrar comigo", dizia uma. "Oh pá! Mas eu nesse dia não vou poder sair de casa!", respondia a outra, preocupada.
Mais profundo do que isto foi uma delas confessar que achava melhor dizer a verdade à mãe, mas que só iria revelar o seu segredo quando arranjasse um namorado para lhe apresentar. Cá está, de novo, o peso do julgamento social. Do bem e do mal que cai sobre as nossas cabeças porque, supostamente, não se fez a coisa certa, o que manda o figurino.
Apeteceu-me descobrir onde elas iam sair para meter conversa (acabei por verificar que saíram na minha estação). Para dizer que aquilo assusta, mas que não é nada de transcendente. Que há pessoas que nos julgam e que até podemos viver com o peso da culpa de não ter sido "certinhas", da nossa história não ter sido tão bonita quanto esperávamos - e quanto todos esperavam de nós - ... mas pode acontecer a qualquer um e não é o fim do mundo. É, sim, um passaporte para uma dimensão mágica que nos diz que o importante é estarmos bem connosco e sentir que fizemos o que achámos ter sido o mais correcto no momento.
Depois houve outro momento engraçado. Uma delas passou a mão pela cara e disse: "não vou lavar a cara nem deixar que ninguém me beije hoje". Se a sua primeira experiência aconteceu ou não esta manhã, não sei. Mas sei que algo de especial ela viveu e isso ficou gravado e foi transmitido de forma pura e muito apaixonada. E eu pensei de novo nesses tempos em que tudo era cor-de-rosa (ou, pelo menos, assim queríamos acreditar) e em que me apaixonava de corpo e alma. Catorze anos depois, a magia dos momentos é outra...
terça-feira, outubro 17
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5 comentários:
O que significa catorze anos depois? Significa que deixou de ser virgem há catorze anos? Será essa a magia da adolescência ou não terei compreendido correctamente o significado do seu artigo?
Tendo em conta que a evolução do ser humano passa por diferentes fases de vida, há uma altura em que saímos de cada uma dessas fases. Não penso ter reduzido a adolescência à perda da virgindade porque há quem o faça nessa altura ou depois dela (e há, infelizmente, quem a perca muito, mas muito antes (basta reportar-se aos casos de violação infantil)). Mas também aqui se coloca outra questão: o que é a perda da virgindade???? A resposta depende da capacidade de expansão da mente e da mentalidade. Já agora: por que razão as coisas não podem ser apenas o que são? Por que razão palavras, frases e textos não podem ser APENAS formas de expressão? Por que razão tudo tem de ter um significado e ser enfiado numa prateleira? Será que é porque, também nós, temos vistas limitadas e emprateleiradas?
Tendo em conta que este blog está acessível sem restrições na internet, significa que qualquer pessoa o pode ler. Será que para o que aqui se escreve não é importante a existência de uma mensagem para quem o lê? Não acha importante o leitor compreender o significado daquilo que escreve? Então para que serve este blog?
Tirando o jornalismo - que à partida deve ser claro e perceptível com uma única leitura - tudo o resto pode ser passível de diversas visões e interpretações. O facto de um blogue, por definição, ter livre acesso na net não significa que preste um serviço público. Ainda mais tendo em conta que o que é escrito são deambulações do seu autor. A própria definição de blogue foge ao conceito informativo das notícias, dos jornais online, etc. Por isso, não, não acho que faça algum sentido aquilo que diz. Assim como não acho que faça algum sentido a sua indignação quando o que está em causa são desabafos, pensamentos, palavras atiradas ao ar. Será que a vida tem de ser levada sempre assim tão a sério? Outra questão - que a mim me faz alguma confusão, mas que respeito e compreendo quem o faz - é o completo anonimato... Quase faz lembrar a polémica com o Sousa Tavares, que agora quer processar alguém que não tem rosto :). Mas ainda bem que se dá ao trabalho de vir cá de vez em quando e que fica irritado/a com alguma falta de clareza. Obrigada pelas suas palavras e até uma próxima visita.
A magia é sempre outra... Doce ou salgada, mas sempre especial. Seja quantos anos antes ou depois for... Magma
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