domingo, outubro 8

Violência doméstica e homens inseguros...

Pela primeira vez, a Amnistia Internacional destaca o fenómeno da violência doméstica em Portugal como uma situação grave de violação dos direitos humanos. Se, por um lado, aumentaram as denúncias das vítimas em relação a 2005; por outro lado, os crimes cometidos sobre as mulheres são cada vez mais graves (em 2005, 33 mulheres foram mortas no seio familiar no nosso País).

O que realmente me espanta são as idades dos agressores e os motivos da agressão. Diz-se no estudo que estamos a falar de homens entre os 25 e os 45 anos (!!!!) que agridem por insegurança resultante do facto das mulheres serem cada vez mais autónomas e independentes. Ou seja, inverte-se o fenómeno: dantes, a dependência completa das mulheres levava os homens a abusarem do seu "poder" e as mulheres a subjugarem-se a uma condição que se julgavam incapazes de inverter. Hoje, ter-se "voto na matéria" leva ao descontrolo masculino.

E é nestas ocasiões que o meu lado feminista vem ao de cima... Eu acredito na inteligência humana, no bom senso e na capacidade de resolver conflitos sem recorrer à lei do mais forte. O que me leva a não perceber a razão da insegurança de um homem perante uma mulher independente (assim como perante uma mulher bonita e inteligente). Meus caros, tentem raciocinar comigo: se uma mulher bonita, inteligente e independente vos escolheu - no meio dos 100 ou 200 que poderia ter escolhido porque tem poder para isso (estou a exagerar um bocadinho, mas acho que às vezes é preciso esticar a corda para se conseguir ter alguns efeitos) - é porque QUER estar convosco. Mesmo que muitas vezes o coração tenha razões que a própria razão desconhece. Cabe-vos, então, a vocês darem-se ao trabalho de merecerem que uma mulher com estas características vos escolha. E garanto-vos que não é pelo uso da força ou da violência verbal e psicológica que o conseguem.

Além de que acredito noutras coisas muito mais poderosas do que a argumentação, o dinheiro, a dependência, a força ou o poder de manipulação. E talvez seja isso que me cause náuseas quando desmonto os modelos de relacionamento existentes. Estão gastos, cheiram a mofo, não entusiasmam minimamente e não podem ir muito longe (mesmo que pareçam fantásticos porque duraram 10 anos). No fundo o que todos ambicionam é conseguir ter o que se convencionou em termos relacionais: um casamento estável, uma família, filhos, uma casa... Em busca deste padrão que pode muito bem não ser o delas, as pessoas batem com a cabeça como peixinhos num aquário. Vislumbram o que está fora e tentam correr para ele, mas esquecem-se que há barreiras (as da sua personalidade, as qualidades únicas que as identificam a elas próprias) que as impedem de chegar lá ou de viver o "lá" em plenitude.

Não compreendo, nunca compreendi, nem irei compreender o que leva alguém a orgulhar-se de ter o outro pela força. E o que mais me mete pena é que aquilo que sempre se criticou nas gerações anteriores (se me posso referir assim ao modelo de violência doméstica existente no passado) se repita, ainda que utilizando outros moldes.

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