terça-feira, outubro 24

Os outros com óculos cor-de-rosa

Há muitas formas de olhar os outros e o mundo que nos rodeia. Além de outras variantes, há quem parta para as relações humanas desconfiando sempre do outro, até prova em contrário, e quem ponha uns óculos cor-de-rosa e acredite nos outros... até prova em contrário.

Eu prefiro entrar nesta última vertente. Apesar de saber que o mundo está cheio de pessoas más, conflituosas e mal intencionadas, recuso-me a desconfiar, à partida, das pessoas. Porque isso mina as relações, porque isso cria distanciamento e porque isso nos faz viver constantemente desconfiados e em sobressalto. Além de que nós nos projectamos nos outros e, obviamente, se não lhes queremos mal nem temos pretensão de fazê-lo, nem sequer imaginamos que o outro nos possa fazer isso a nós.

Mas, de facto, olhar para o melhor que há nos outros nem sempre é a forma mais fácil de lidar com os defeitos, as crueldades e as parvoíces próprias de qualquer ser humano. Se calhar é bom começar a identificar logo o que “está mal”, o que não bate certo, o que é deplorável no comportamento alheio. Como também somos humanos e erramos – tantas vezes de forma cruel e injusta – acabamos por dar o desconto e achar que o outro, afinal, estava era num mau momento, mas não é mau por natureza. Mas quando os maus momentos se repetem e repetem, deixa de haver margem para descontos. O mais deplorável, mesmo, é quando o outro sabe que nós somos assim e se aproveita disso para jogar o seu jogo e ser manipulador. Uma táctica que se percebe à distância, mas que se continua a não querer ver nem acreditar porque se tem a convicção de que não há motivo nem hipótese de o outro ser assim para nós (qual a razão? Nós não somos nem seremos assim para ele!!!! E isso nem sequer faz parte da nossa metodologia de acção!).

Seja como for, sofre-se quando se olha para os outros com óculos cor-de-rosa. Muitas vezes, a realidade é pintada de outras cores e toma outros contornos. Longe vão os tempos de indignação pelo tempo perdido na confiança que demos ao outro. Quando se avança no processo de conhecimento humano e da ilusão/desilusão acaba-se por avançar com a convicção de que vale a pena sermos como somos. Fomos honestos, fiéis a nós próprios e aos valores em que acreditamos. Além de que as máscaras que pomos – e todos as vestimos, não vale a pena negar – não são para manipular ou para ganhar um desafio. São, muitas vezes, para nos protegermos e adaptarmos ao meio ambiente. E só isto justifica representar um papel e poder chegar a fazer figura de palhaço.

Sempre ouvi dizer que as pessoas menos calculistas, mais abertas e sensíveis são as que sofrem mais. Eu acrescento aqui que as que gostam de olhar para os outros com óculos cor-de-rosa e, quando os observam, olham bem fundo no olho para retirar o que de melhor há lá dentro, também passam por momentos de grande desilusão...

3 comentários:

Anónimo disse...

O meu modus operandis é esperar o mínimo das pessoas, nem sub nem sobrevalorizando... acho que não faz de mim calculista nem frio porque acabo por não ser frio com as pessoas, mantenho sempre a cordialidade... se no fim me aperceber que a pessoa não vale a pena, esquece-se sem grande transtorno, se afinal valer a pena, será uma boa surpresa!...

Beijos Víperinos!

blackpanther disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
blackpanther disse...

Se não me conhecesse tão bem como conheço - e tivesse a noção que algum dia conseguiria não ter expectativas - acho que o modo que descreves seria o que escolheria para vir a este mundo :). Quando as pessoas nos surpreendem pela positiva é um grande entusiasmo e, de facto, quando não valem a pena era óptimo que as conseguíssemos descartar em menos de nada. Com treino e as "influências" dos amigos (piadinha ;) ) talvez lá consiga chegar...

Beijinhos!