segunda-feira, outubro 23

Segunda-feira ou a síndrome da desorientação geral

Hoje parece estar a ser um dia difícil para muita gente. Uns de “trombas”, outros tristes sem saberem o que têm... Um facto é que o Natal se aproxima – desculpem-me todos os que gostam da época, mas eu detesto-a – e vêm à mente a falta de dinheiro (porque se está numa altura de prendas e nem sempre se tem dinheiro para isso), a ausência da família e dos que amamos (uns morreram, outros separaram-se de nós e pode muito bem ser o primeiro ano que passamos sem eles) e o reposicionamento de quem somos e do que fazemos aqui (típico das pessoas mais sensíveis quando se aproxima esta altura).

Eu cresci a ouvir a teoria de que quando se tem dinheiro é tudo mais fácil porque se iludem estas tristezas com um presentinho ou com um mimo. Depois também cresci a ver pessoas que não têm nada disso e que andam de sorriso estampado no rosto. O que me leva a pensar se gostaria de ter mais para me poder “iludir” de vez em quando ou se devo estar grata por tudo o que tenho e que, algumas vezes com muito esforço e muita determinação, consegui construir e agora posso dizer que “é meu”.

Mas depois, na sequência deste mesmo pensamento, começo a questionar-me se existe algo que seja verdadeiramente “nosso”. Porque o que pensamos ter pode ir embora a qualquer momento. Por outro lado, com este tipo de pensamento podemos ir anulando, por exemplo, a possibilidade de sonhar mais além em termos de aquisições materiais... E será que é isso mesmo que importa?

Pois, neste embrulho de pensamentos que se sucedem e que servem para ir justificando os anteriores, vou dando comigo a apetecer-me comprar já uma viagem e partir só, com destino definido, mas sem programa ou objectivos. Daquelas viagens que servem, ao mesmo tempo, para nos encontrarmos a nós próprios, para vermos pessoas bonitas que nos sorriem e metem conversa (mesmo que seja tentativa de engate, que se lixe, há sempre a hipótese de dizer “não” no final), para tropeçarmos noutras que andam perdidas na mesma caminhada ou na mesma busca.

Sabe bem ter um ombro amigo que nos entenda e fale, de vez em quando, uma determinada linguagem. Faz-nos sentir acompanhados, faz-nos sentir que alguém se preocupa connosco, faz-nos sentir que o mundo até pode acabar mas que não estamos sozinhos (e devo confessar que, na fase a que cheguei, acho que só isso me importa. Poder contar com alguém que eu sei que está lá sem nenhuma intenção para além da de gostar de mim verdadeiramente e querer o meu bem).

Mas também percebo que, embora eu consiga fazer isto pelos outros, eles não têm qualquer obrigação de fazer isto por mim. Em suma, é segunda-feira, o feliz dia da desorientação geral.

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